A presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, foi uma das convidadas do programa Ciro Games desta terça-feira (14), promovido via redes sociais pelo ex-ministro Ciro Gomes, do PDT. O programa também teve a participação da cantora Alcione.

Entrevistada por Ciro, Luciana discorreu especialmente sobre a atual conjuntura nacional e a necessidade urgente de formação de uma frente ampla, com forças dos mais diversos espectros políticos e sociais, que tenham em comum a defesa da democracia e da Constituição e o impeachment de Bolsonaro, questões centrais para a reconstrução do país.

Ciro Gomes destacou que para fazer o impeachment, é absolutamente necessário procurar acordo “com quem é diferente de nós, é preciso que a gente se acerte com frações democráticas do centro, da direita, juntando os mais diversos segmentos, pouco importa se são ou não aliados”. Ele acrescentou que “isso é a democracia” e que “precisamos nos reunir com quem é diferente de nós, desarmar os preconceitos, o apetite eleitoral, porque uma emergência muito mais grave está diante de nossos olhos. Há uma tentativa de assassinato da nossa democracia”.

A cantora Alcione, por sua vez, declarou que “o Brasil está doente, precisa melhorar em vários setores”. Ela colocou ainda que mesmo diante das necessidades do país, “a gente vê esse presidente brincar de guerra”.

Impeachment como necessidade

Ao falar sobre o impeachment de Bolsonaro, a presidenta Luciana Santos defendeu que “é uma necessidade; estamos vivendo talvez o pior exemplo do exercício da direita no mundo. Temos um presidente vazio de ideias, que se demonstrou inapto e completamente incompetente”.

A dirigente salientou que “não tem como calcular a herança maldita que o Bolsonaro está deixando para o Brasil. Tem questões não só de política pública, mas de Estado que vamos ter muita dificuldade de recuperar”.

Neste sentido, acrescentou, “interromper o mandato de Bolsonaro diz respeito à defesa da nação e das pessoas. Tivemos a segunda pior taxa de mortalidade por Covid-19 do planeta, o que revela os efeitos da atitude negacionista do presidente”.

Luciana destacou que “o Brasil não suporta mais a condução de Bolsonaro, que está deixando o país cada vez mais à deriva. Somos daqueles que estamos sim verdadeiramente empenhados na necessidade de interromper esse mandato. O impeachment de Bolsonaro está na ordem do dia”.

Frente ampla

Para enfrentar esse grave momento da história nacional e viabilizar o impedimento do presidente, Luciana reafirmou a urgência de se construir uma frente política que tenha um mínimo de identidade e convergência de objetivo. “Acho que hoje o que une a todos nós, independentemente da matriz ideológica, ou da agenda econômica, é a democracia, a Constituição e a necessidade de barrar Bolsonaro. Essas são as questões que possibilitam uma frente ampla”. As diferenças históricas e ideológica existentes, explicou, “não vamos resolver no embate a Bolsonaro. Precisamos acolher, numa perspectiva de estabelecer uma maioria, porque o impeachment se dá dentro do Congresso Nacional”.

Luciana avalia que desde as eleições até o atual momento, “muitos dos pilares de sustentação de Bolsonaro ruíram” e é “evidente que ele vive um grande isolamento”. No entanto, disse, “Bolsonaro demonstra resiliência porque existe um pensamento conservador na base real e por isso que, mesmo caindo, fica ali em torno de 20%, 25%. Mas a resultante é que ele está isolado”.

Com relação aos atos antidemocráticos do 7 de setembro e seus desdobramentos, Luciana argumentou: “Bolsonaro fez uma aposta gigante e procurou fazer deste um momento de afirmação de que teria maioria, desafiou mais uma vez as instituições democráticas e ameaçou todo mundo. Mas, o tiro saiu pela culatra porque isso ampliou o seu isolamento”.  Após o 7 de setembro, disse, “ele teve de fazer não um recuo, mas sim se render porque quem dá sustentabilidade a ele, os partidos do chamado centrão sinalizaram que não dá para aguentar um pedido de impeachment com esse tipo de atitude”.

Para possibilitar que o processo de impeachment ganhe cada vez mais força inclusive dentro do Congresso, Luciana defendeu que é preciso ter “gente na rua e mais debate de ideias; é preciso isolá-lo mais e fazer um movimento amplo, juntando mesmo aqueles que nunca estiveram com a gente, ou que já tiveram posições antagônicas, com o mesmo objetivo que é tirar Bolsonaro. A parada hoje é uma, lá na frente (eleição de 2022) é outra, mas precisamos ter esse espírito”.

Luciana lembrou que esse tipo de movimento amplo ocorreu em vários outros momentos da história. “Só conseguimos interromper o ciclo da ditadura militar porque fomos capazes de nos reunir num colégio eleitoral com forças inclusive da ditadura, que já tinha muitas contradições, e foi possível dar a virada da conjuntura para barrar aquele ciclo político de chumbo. Em vários momentos de inflexão da história brasileira, só foi possível mudar quando se constituiu um mínimo de convergência e frente ampla”.

Por isso, concluiu, “precisamos não só aprender com a história, mas escrever a história do nosso tempo, da nossa geração, a partir dessas lições e poder conviver com o contraditório, com pessoas que pensam diferente, mas que hoje estão movidas por essa agenda democrática, de interromper essa experiência tão desastrosa para o Brasil que é o governo Bolsonaro”.

Assista trecho do programa.

Por Priscila Lobregatte