Jair Bolsonaro (sem partido)

Jair Bolsonaro afirmou que o país está vivendo o “finalzinho da pandemia” e que seu governo foi um espetáculo no combate ao vírus. A afirmação foi feita na quinta-feira (10), em Barra do Ribeiro, no Rio Grande do Sul.

“Me permite falar um pouco do governo, que ainda estamos vivendo o finalzinho de pandemia. O nosso governo, levando-se em conta outros países do mundo, foi aquele que melhor se saiu, ou um dos que melhores se saíram na pandemia”, disse.

As duas afirmações foram motivo de perplexidade geral no país e entre os presentes à solenidade. Até porque, no mesmo dia em que o presidente decidiu decretar o “finalzinho” da pandemia, o número de mortes pela Covid-19 voltou a se aproximar das mil ocorridas em apenas um dia. Foram 848 mortes em 24 horas na quarta-feira (9).

Ao mesmo tempo, os hospitais de quase todo o país alertam para a superlotação de seus leitos de UTI por conta da elevação de internações pela Covid-19 e para a sobrecarga de seus já estafados funcionários.

Por fim, na contramão do delírio presidencial, de que a pandemia estaria no fim, o número de unidades da federação com elevação de infectados pelo vírus atinge 22 pela primeira vez desde que o consórcio de veículos de imprensa começou a contabilizar os dados.

Não se sabe de onde o presidente tirou esse dado de que seu governo “foi o que se saiu melhor, ou um dos que se saíram melhores” na pandemia. Nem o próprio Ministério da Saúde, sob intervenção direta do Planalto, produz informações que sustentem essa afirmação.

O Brasil está com 6.728.452 de casos confirmados de Covid-19, quase 180 mil mortos provocadas pela doença e é o segundo do mundo em números absolutos de óbitos, perdendo somente para os Estados Unidos onde esse número já ultrapassa as 280 mil mortes.

Em outro critério, o de mortes por milhão de habitantes, o Brasil ocupa a 10º posição, com 818 mortes por Covid-19 a cada milhão de habitantes. Não há nenhum dado, portanto, que confirme a afirmação de Bolsonaro de que seu governo teria sido o que “melhor se saiu” no combate à pandemia no mundo.

No critério econômico, o desastre só não foi maior porque o Congresso Nacional impôs ao presidente e a seu ministro da Economia, Paulo Guedes, a ajuda emergencial de R$ 600 para os mais necessitados. O governo não queria nada, e só admitia, na melhor das hipóteses, uma ajuda de R$ 200. Mesmo assim, mais de 14 milhões de brasileiros estão sem emprego e a economia, no fundo do poço, não reage ao nível que é necessário para a sua retomada.

Sob nenhum critério, portanto, o que afirmou Bolsonaro pode ser levado a sério. Parece viver num mundo paralelo, enquanto segue negando a ciência e a medicina.

Era apenas “uma gripezinha”, dizia. Foi “tratada com exagero pela mídia”, que criou um “pânico desnecessário” só porque queria atacar seu governo, quando ele, sim, passou o ano desrespeitando as normas sanitárias de combate ao vírus e atacando governadores e cientistas.

O “capitão cloroquina” sabotou toda a campanha para que a população se cuidasse e se protegesse contra o novo coronavírus, como o uso de máscaras, a higienização adequada e o distanciamento social. Chamou as pessoas que se cuidavam contra o vírus de “maricas” e, agora, tenta impedir até mesmo que o Ministério da Saúde adquira as vacinas necessárias para eliminar a epidemia.

Ao invés de informar a população sobre a tão esperada vacinação contra a Covid, para a qual o Instituto Butantan já se preparou e também outras empresas, com a Pfizer, o governo segue paralisado. Segue negando a realidade.

Não garantiu os equipamentos de proteção para os servidores da saúde, não garantiu o apoio necessário a estados e municípios e nem forneceu os testes para o diagnóstico da doença. Não poderia, é claro, apoiar a vacina.

Nem mesmo a vacinação o governo está garantindo. Em sentido contrário ao adotado pelo mundo todo, Bolsonaro insiste no negacionismo e em propagandear medicações pseudomilagrosas, como a cloroquina e a hidroxicloroquina, sem nenhuma eficácia comprovada contra a Covid-19.

Foi assim na manhã desta quinta-feira (10). “Não temos notícia dos nosso irmãos da África, abaixo do deserto do Saara, de grande quantidade de óbitos por Covid e todos esperavam justamente o contrário. A pessoa com alguma deficiência alimentar, pessoas mais pobres, fossem ser em boas e quantidade vitimadas. E não foi por quê? Eles tratam lá, muito, infelizmente, a malária”, insistiu ele. Ou seja, mais uma absurda defesa da cloroquina.

Nesta semana governadores do Brasil inteiro, impacientes, foram a Brasília pressionar o governo a sair do imobilismo em que se encontra e se preparar para a vacinação da população.

Nem logística ou mesmo a compra das seringas foram garantidas pelo Ministério da saúde.
Além da paralisia, que até agora não garantiu nada referente à vacinação em massa, Bolsonaro já vinha fazendo grandes esforços para atrasar as pesquisas com a vacina que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac.

Bolsonaro aparelhou o órgão técnico do Ministério da Saúde para sabotar a CoronaVac por único motivo: a vacina ter sido uma iniciativa do Butantan, órgão do governo de SãoPaulo (João Doria) e desenvolvida por uma empresa da China.

Sua tentativa de “banir” a vacina do Butantan/Sinovac foi derrotada pela posição do governo de São Paulo, da mídia e de toda a comunidade acadêmica do país que condenou a politização do tema pelo Planalto.

Agora, a pressão dos governadores e da sociedade se opõe à posição absurda e anacrônica de Bolsonaro de colocar travas à vacinação. Vários governadores, inclusive, alertaram que, se o governo não sair do negacionismo e começar a agir logo, o que pode estar no “finalzinho” não é a pandemia, mas sim o seu próprio governo.