Com Bolsonaro, salário mínimo vale menos que no início do governo

Com fim da política de valorização do salário mínimo, piso cairá de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 entre de 2018 e 2022, descontada a inflação

Bolsonaro será o primeiro presidente, desde o Plano Real (1994), a terminar seu mandato com o salário mínimo valendo menos do que quando entrou. A variação do salário sob sua foi de -1,8%, contra +50,9% de FHC (1995-2002), +57,8% de Lula (2002-2010), +12,67% de Dilma (2011-2016) e +3,3% de Temer (2016-2018).

A informação está no primeiro relatório semanal de maio da corretora Tullet Prebon Brasil. Na verdade, se a inflação continuar subindo, a desvalorização pode ser ainda maior até o fim do mandato.

Desde que Bolsonaro tomou posse, o salário mínimo não ganha reajuste acima da inflação. Até 2019, valia a regra adotada nos governos de Lula e Dilma, em acordo com as Centrais Sindicais, que levava em conta a inflação mais a variação do PIB (Produto Interno Bruto) dos dois anos anteriores. Desde 2016, com o impeachment de Dilma, essa política deixou de existir.

De 2004, quando o valor do salário mínimo era de R$ 260,00, a 2016, a política de valorização do salário mínimo promoveu um aumento real de 74,33% nos rendimentos. Estabeleceu-se um longo processo de valorização que de 2004 a 2019 significou reajuste acumulado de 283,85%, enquanto a inflação (INPC-IBGE) foi de 120,27%. Se nesse período tivesse sido aplicada a política de Bolsonaro, o piso nacional em janeiro de 2020 teria sido de R$ 599.

A situação é inédita, principalmente, porque a Constituição obriga o governo a manter o poder de compra do salário mínimo com reposição anual da taxa de inflação. Considerando o acumulado dos últimos 12 meses, o índice foi de 12,03%, acima dos 10,79% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores.

Repercussão

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) reagiu a isso dizendo que “ninguém engana todo mundo o tempo inteiro”. “As pessoas não comem postagem de redes sociais. Bolsonaro vai perder a eleição porque é um carrasco dos pobres!”

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a falta de aumento do salário mínimo é um reflexo dos efeitos de duas “guerras” que atingiram o Brasil: a crise sanitária da covid-19 e os efeitos do conflito entre Rússia e Ucrânia. Esta tem sido a justificativa para toda a inação e mazelas do governo. Para ser otimista, Guedes não cansa de dizer que o Brasil está se recuperando dessas crises.

A deputada federal Professora Marcivânia (PCdoB) considera este mais um triste capítulo par ao país. Para ela, não se trata de um acaso econômico ou de efeitos externos, como defende Guedes. “Não se trata de uma coincidência, mas de ações em cadeia de desvalorização do povo que mais precisa”, acusou.

Cinco vezes mais

O salário mínimo ideal no Brasil deveria ter sido de R$ 6.754,33 em abril, calcula o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). É mais que cinco vezes o valor atual, de R$ 1.212.

De acordo com o Dieese, esse seria o pagamento mínimo para sustentar uma família de quatro pessoas no mês de fevereiro no Brasil, considerando gastos com moradia, transporte, alimentação, saúde, educação, vestuário, higiene, lazer e previdência.

Além da paralisia das atividades que vem deixando um contingente de 12 milhões de desempregados, do total de trabalhadores empregados no país, 35,3%, cerca de 33,8 milhões de pessoas ganham até um salário mínimo. É o maior percentual do segmento desde 2012, quando teve início a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.

Cezar Xavier com informações de O Globo