Quase 30% dos 13,5 milhões de desempregados no país estavam procurando trabalho há mais de dois anos no terceiro trimestre deste ano, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Este é o maior percentual de pessoas nesta situação da série histórica, confirmando que a persistência do desemprego anda junto de Bolsonaro por toda sua gestão.

“O aumento do tempo de permanência no desemprego se torna mais um indício de que a situação do mercado de trabalho continua desafiadora. No terceiro trimestre de 2021, a proporção de desempregados que estava nesta situação há mais de dois anos chegou a 29%, atingindo o maior patamar da série”, resume o Ipea no estudo, divulgado na terça-feira (21).

“Esse cara, que fica tanto tempo fora do mercado de trabalho, tem mais baixa escolaridade. Ele já estava fora do mercado quando veio uma pandemia, que deixou muita gente qualificada sem emprego. As empresas vão primeiro voltar a contratar essas pessoas mais qualificadas, com mais escolaridade, há menos tempo procurando vaga. Quem está há mais tempo desempregado vai ficar no final da fila. Ou ele vai ter que fazer algum tipo de qualificação para conseguir se recolocar, ou vai voltar para o mercado quando tiver muita geração de emprego para contratar todo mundo que está na frente dele na fila. A gente sabe que isso não vai acontecer em 2022”, disse Maria Andreia Lameiras, uma das autoras do levantamento do Ipea.

“Quanto mais tempo as pessoas ficam sem trabalho, mais difícil fica de arrumar emprego”, disse Rodolpho Tobler, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “Isso afeta não só a vida das pessoas como até a produtividade da economia, porque esses desempregados vão perdendo a sua capacidade produtiva”, afirmou Tobler.

O estudo tem como base os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a Pnad, a taxa de desemprego – que contabiliza os desocupados que efetivamente estavam em busca de trabalho nos dias antecedentes da pesquisa – estava em 12,5% no terceiro trimestre. Além disso, o país reúne 5,1 milhões de desalentados e 7,8 milhões de subocupados no período.

O trabalho do Ipea também comparou as informações do IBGE com os dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) para observar que o emprego sem carteira assinada cresceu mais do que o trabalho com carteira em todas as atividades econômicas que abriram vagas em relação a um ano antes.

O total de empregos com carteira assinada no setor privado cresceu 5,9% no terceiro trimestre de 2021 ante o terceiro trimestre de 2020 – neste mesmo período, o emprego precarizado no setor privado aumentou 18,5%, enquanto o estoque de trabalhadores atuando por contra própria teve elevação de 18,4%.

Pelos dados da Pnad, 40,6% da população ocupada no 3º trimestre estava na informalidade, reunindo 38 milhões de trabalhadores. No trimestre anterior, a taxa havia sido de 40% e, no mesmo trimestre de 2020, 38%. Segundo o IBGE, a informalidade, que compreende o emprego sem carteira e os chamados “bicos”, responde por 54% do crescimento da ocupação no país.

De acordo com a compilação do Ipea, o trabalho doméstico teve a maior diferença registrada entre o emprego formal e informal: o avanço do trabalho celetista foi de 4,0% ante o ano anterior, enquanto a ocupação sem carteira cresceu 28,1%