No acumulado do ano de 2021, houve forte aceleração da inflação em todas as faixas de renda, mas pesou mais no bolso do consumidor de baixa renda, segundo o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, divulgado nesta terça-feira (18). No ano passado, a inflação foi maior para a classe de renda muito baixa (10,08%) comparativamente ao segmento de renda muito alta (9,5%),

Segundo a pesquisadora Maria Andreia Lameiras, “no caso das famílias de renda muito baixa (com renda domiciliar menor que R$ 1.808,79), a pressão inflacionária em 2021 veio, sobretudo, do grupo habitação (3,64%), impactado pelos reajustes de 21,2% das tarifas de energia elétrica e de 37% do gás de botijão. Para as famílias de renda alta (com renda domiciliar maior que R$ 17.764,49), o impacto foi maior no grupo transporte (5,35%), em virtude do aumento de 47,5% da gasolina e de 62,2% do etanol”.

“Nas classes de renda mais baixas, além da alta do grupo alimentos e bebidas, os grupos habitação e saúde e cuidados pessoais também exerceram pressões adicionais. No caso dos alimentos, o reajuste das carnes (1,4%), das frutas (8,6%) e dos óleos e gorduras (2,2%), aliado à alta de 0,98% da alimentação fora do domicílio contribuíram para o resultado. Os aumentos de energia (0,50%), da tarifa de água e esgoto (0,65%), do gás encanado (6,6%), dos aluguéis (0,65%) e dos artigos de higiene (2,3%) justificaram a alta inflacionária dos grupos habitação e saúde e cuidados pessoais para estas famílias. Além disso, o reajuste de 2,2% no vestuário também pressionou a inflação desse segmento”.

Segundo o Ipea, em dezembro houve uma aceleração na inflação para as famílias de renda muito baixa, que têm seus orçamentos comprometidos, além de com comida, têm os gastos com a conta de luz e o botijão de gás de cozinha, por exemplo, preços monitorados pelo governo. A taxa avançou para essas famílias de 0,65% em novembro para 0,74% em dezembro, ao contrário da inflação para as outras faixas de renda, que tiveram desaceleração.

Já as famílias de renda mais alta foram impactadas pelo aumento no preço das passagens aéreas (10,3%), do transporte por aplicativo (11,8%) e do aluguel de veículos (9,3%), que fizeram com que o grupo transporte fosse o principal

responsável pela inflação deste segmento em dezembro. Além disso, a alta dos serviços pessoais, principalmente os relacionados à recreação, como hospedagem (2,3%) e pacote turístico (2,3%) também contribuíram para a inflação desta classe no último mês de 2021, segundo o Ipea.

Comida, gás e energia

O gás liquefeito de produto (GLP), o popular gás de cozinha de 13 quilos, que tem seu preço atrelado ao dólar com aval do governo Bolsonaro, este mês de janeiro está, em média, a R$ 102,39, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP). O menor preço é encontrado a R$ 79,99 e o maior preço a R$ 140,00. E Bolsonaro prometeu na campanha entregar o gás de cozinha a R$ 35!

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O custo da cesta básica de alimentos, medida pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em dezembro do ano passado, chegou a R$ 690,51 em São Paulo, a R$ 689,56 em Florianópolis e a R$ 682,90 em Porto Alegre. Entre as cidades do Norte e Nordeste, localidades onde a composição da cesta é diferente, os menores valores médios foram observados em Aracaju (R$ 478,05), João Pessoa (R$ 510,82) e Salvador (R$ 518,21).

São produtos como arroz, batata, café em pó, feijão, açúcar, óleo de soja, carne, leite, manteiga…, produtos que os preços aceleraram durante a pandemia, mas que Bolsonaro indicou trocar, a exemplo do feijão, por fuzil.

Já os custos da “crise hídrica”, ou à falta de chuva “por culpa de São Pedro”, foram lançadas, mais uma vez, nas costas do consumidor. Bolsonaro não investiu, não planejou e sugeriu ao povo tomar banho frio, não usar elevador e acender uma vela.