Nésio Fernandes comenta desafios da gestão no estado do Espírito Santo

Perseguir a melhoria dos índices de saúde. Usar a criatividade na gestão e encontrar modos de fazer mais e mais rápido, com menos recursos. Estes foram pontos centrais nas exposições de secretários estaduais de Saúde do Maranhão, Carlos Lula, e do Espírito Santo, Nésio Fernandes. Ambos são quadros do PCdoB e estão “com a mão na massa” da saúde, com experiência e bons resultados na gestão do setor. Por isso, participaram da mesa “Experiências e desafios da Gestão do SUS”, a segunda do 6º Encontro Nacional de Saúde do partido, que está sendo realizado em São Paulo desde a quinta (28).  Também compartilharam de experiências próprias e reflexões sobre a ação institucional em saúde Julieta Palmeira, que atua há décadas na área e hoje é Secretária de Estado de Políticas para Mulheres da Bahia, e Nádia Campeão, ex-vice-prefeita de São Paulo e Secretária de Relações Institucionais e Políticas Públicas do PCdoB.

Direto de São Paulo, Lívia Duarte


[Nádia Campeão no debate sobre gestão em saúde. Foto: Lívia Duarte]

“Nós temos aqui experiências de gestão importantes, precisamos estar atentos a isso. O PCdoB não tinha até recentemente experiência em governos de Estado, mas agora temos. Tanto com Flávio Dino no Maranhão quanto com os vice-governadores de Pernambuco e do Rio Grande do Norte”, argumentou Nádia Campeão, referindo-se, respectivamente, a Luciana Santos, também presidenta nacional do partido e a Antenor Roberto.

Ela observou que este acúmulo na área de saúde – bem como na educação – precisa ser documentado e divulgado, porque são temas que preocupam o povo brasileiro.

“Além disso, este acúmulo dos companheiros precisa ser saudado. E a gente poderia dar a conhecer tanta coisa realizada por secretários que tem essa matriz do pensamento político do PCdoB. Na esfera da saúde, mas também na educação, o campo democrático é muito competente. Não quero fazer aqui comparações, dizer que fazemos melhor que outros. Mas o que realmente importa é que fazemos bem. Com inovação, clareza, dedicação”, avaliou, ressaltando a dificuldade de gestão nestas grandes áreas.

A dirigente foi aplaudida ao lembrar que “como militantes do PCdoB nossa missão é lutar pelos direitos e pela dignidade do povo. E nesse sentido, cuidar da saúde é elevar a qualidade de vida, é proporcionar mais vida, mais felicidade, mais realizações para o povo. É uma coisa direta e simples assim”, destacou. E completou pontuando que é preciso transformar a capacidade de gestão em força material valorizada pela população, reconhecendo aí o papel do Estado e da democracia.

“É preciso transmitir tudo isso para o povo. Porque sem isso, todo o resto, tudo que fazemos, a gente perde. Perde a batalha política. Por que esses valores não foram tão importantes para o povo decidir (nas eleições)?”, questionou. E sugeriu um passo adiante: “Precisamos criar, com objetivos de médio e longo prazo, um movimento popular, um movimento do povo, em defesa da saúde dos brasileiros. Algo que defenda o direito à saúde, ao SUS e os valores da solidariedade.”

Leia mais:
Conferência de abertura – Renato Rabelo: Uma “barreira de contenção” contra o bolsonarismo 
Ato Político – PCdoB realiza ato político pelo SUS, pela democracia e pela soberania
Entrevista – Ronald Ferreira: “Lutar pelo SUS é lutar pela democracia e pela vida”


Investimento de gestão

No Maranhão, a ordem do dia tem sido cuidar. “Pela primeira vez na história, em 2019, o estado deve ter um índice de mortalidade materna menor que a média nacional”, comemorou Carlos Lula, secretário estadual de Saúde. Trata-se de um dos numerosos indicadores das melhorias que o governo comunista tem realizado no estado. Para isso, explicou, foi preciso enfrentar o modelo político, técnico e de financiamento encontrado pelo governo Flávio Dino (PCdoB).

O governo tem investido em controlar a área de perto – por exemplo, evitando as OS (Organizações Sociais), que chegaram a controlar todos os hospitais; reorganizado o modelo de atenção à saúde, com reforço à atenção básica e a criação de 10 hospitais de porte suficiente em detrimento de pequenos hospitais que não funcionavam; e buscando modos de financiar, o que ainda é considerado o grande gargalo.

“Um exemplo: a cidade de Balsas, grande produtora de soja, não tinha hospital – tinha uma unidade dessas de 20 leitos que criaram aos montes e não funcionavam, não tinham condições. A razão de mortalidade materna era maior que 120. A gente criou o hospital e da atenção primária. O prefeito é médico, cirurgião, achava que não ia dar resultado. Em 2 anos, a gente passou um ano sem nenhuma mulher morrer na região. A gente precisa parar de pensar que dá pra brincar com recurso público e olhar o que diz a universidade e a literatura. Isso não é novo. Investimos no que era correto. A gente tem esse resultado. Mas precisa investir”, enfatizou, lembrando que boa gestão de recursos não significa fazer sem os recursos necessários.

“A gente precisa de mais dinheiro do SUS. Essa tem que ser uma luta da esquerda, do PCdoB, de aliados táticos. Ela tem que unir a gente. Hoje, do jeito que está o financiamento do ministério, a gente tem um problema amanhã, não é em dez anos. A gente precisa de mais dinheiro. É um absurdo que a gente gaste mais PIB com os 25% da população que usam a rede privada do que com os 75% que usam o SUS. No Maranhão, 90% usam o SUS”, alertou.

Índices de saúde

Em uma longa fala, o secretário enumerou alguns dos muitos pontos de investimento na saúde dos maranhenses: tratamento de doenças crônicas, câncer, atendimento para quem precisa fazer hemodiálise, um plano especial para as 30 cidades com menor IDH, cheque-cesta básica para incentivar os pré-natais; próteses dentárias que devolvem o sorriso e a dignidade no estado com mais pessoas sem dentes no país.  E não atendem só os maranhenses:

“Temos muito orgulho porque antes o Maranhão era “exportador” de doentes e hoje temos convênios com outros estados, a população do Tocantins vem se tratar em Imperatriz (MA). E nós sabemos que o usuário segue a qualidade do serviço”, comentou.

E os itens rememorados ultrapassam, inclusive, a barreira simbólica:

“A casa de veraneio do governador do estado foi transformada por nós num centro de cuidado para crianças com problemas de neurodesenvolvimento. São cuidadas onde se gastava dinheiro público à toa. Quando fomos inaugurar essa casa, um deputado reclamou porque estávamos usando o metro quadrado mais caro de São Luís para cuidar de gente pobre. Pois o governador Flávio Dino disse que se não for para fazer isso, não via sentido em governar. Então estamos promovendo uma mudança de olhar. E as crianças são cuidadas a beira-mar”, narrou o secretário, contando que também as mães se hospedam na casa por uma semana e recebem cursos de diversos tipos, inclusive para gerar renda em casa.


[Comunistas que atuam na área da saúde reunidos em São Paulo. Foto: Lívia Duarte]

Aprender com experiências

Formado médico em Cuba, o secretário de Saúde do Espírito Santo, enfatizou a importância de aprender com as diversas práticas em gestão para colocar a criatividade à serviço da boa administração. Comentou, por exemplo, que mesmo em Cuba o sistema mudou diversas vezes conforme a necessidade do momento histórico. Até que se chegou por lá num modelo em que, conforme Nésio, 100% do serviço de saúde pública é campo de prática para formação profissional, o que ampliou a resolutividade dos profissionais. Este, para ele, é um dos problemas que impactam a falta de confiança tanto dos gestores quanto da comunidade por aqui. Diferente do que presenciou em Cuba, no Brasil a atenção básica não resolveria a maioria dos problemas, na avaliação dele.

“No Brasil, de 40 a 60% dos pacientes que chegam na atenção básica são encaminhados para segundo nível de atenção especializada. Aí não tem integralidade, universalidade, é um sistema de alto custo e isso é a ameaça ao sistema, não o novo modelo de financiamento do ministério da Saúde”, afirmou, gerando certa polêmica na plateia. “Isso só se resolve com política de Estado, quando o Estado resolver formar em massa um novo perfil profissional: enfermeiros, médicos, psicólogos com alta resolutividade”, defendeu.

Nésio explicou que foi neste sentido que buscou caminhar quando esteve à frente da secretaria de Saúde da prefeitura de Palmas (TO) e multiplicou o número de médicos em formação na rede. E caminho semelhante deve ser percorrido no Espírito Santo, onde assumiu a secretaria do Estado há apenas 11 meses. Lá, diferente do Maranhão, o desafio não vai ser reverter índices. Os capixabas têm longa expectativa de vida e baixa taxa de mortalidade infantil, por exemplo.

“Apesar dos números, vemos que o modelo está totalmente colapsado. É centrado na atenção hospitalar e é anacrônico, não consegue incorporar tecnologia e inovar”, diagnosticou.

“Precisamos consolidar os resultados do SUS no Espírito Santo revertendo estes problemas. E é possível com alta capacidade inovadora, tendo um governador que é um grande líder político, promovendo o empoderamento dos trabalhadores da Saúde no cuidado do povo”, concluiu.

A secretária de Políticas para Mulheres na Bahia, Julieta Palmeira, também enfatizou a necessidade de abrir-se à inovação. Especialmente diante de quadros adversos, como a conjuntura atual, com grave queda dos investimentos do governo Federal nos estados nordestino. Como exemplo da criatividade necessária a estes tempos, citou o Consórcio Nordeste, formado pelos governadores daquela região.

“Recentemente os governadores foram buscar investimento direito na Europa. Também iniciaram a articulação justamente pela área da saúde, com a compra unificada de alguns medicamentos por meio de um Fundo das Nações Unidas, em processos, inclusive, que permitiram romper com certa burocracia de licitações que como gestores públicos temos que enfrentar. E garantiram uma economia de R$ 48 milhões. É uma experiência que pode ser replicada em várias áreas, estamos construindo para mulheres”, apontou.

Transmissão ao vivo

Além de outros convidados, a plateia somou 175 dirigentes das diferentes frentes da legenda, de 24 estados e do Distrito Federal. Todos os participantes têm atuação com interface na área de saúde. Mas muito mais gente pode acompanhar. Todo o evento está sendo transmitido ao vivo pelo PCdoB e os debates podem ser acessados na íntegra na página do partido no Facebook.