A Itália na quinta-feira ultrapassou a China em número de mortos da Covid-19: 3.405 a 3249, numa dramática confirmação da mudança do epicentro da pandemia para a Europa.

A cena dos caminhões do exército italiano transportando dezenas de caixões de Bérgamo, martirizada cidade da Lombardia, onde não há mais lugar no cemitério, para outras regiões, é a imagem da tragédia vivida pela Itália sob a pandemia.

O surto da Itália veio à luz no norte do país em 21 de fevereiro. Note-se que a população da Itália é de 70 milhões e a da China, 1,3 bilhão. Em relação à quarta-feira, foi um aumento de 427 óbitos; haviam sido 475 na terça-feira. Em um dia, foram mais de 4 mil novos contágios.

Os dados foram divulgados pelo comissário de Emergência Angelo Borrelli no boletim diário da Proteção Civil. Somente em Milão, um salto de 635 casos em 24 horas.

Dos infectados originalmente, 4.440 haviam se recuperado totalmente em comparação com 4.025 no dia anterior. Em terapia intensiva, 2.498 pessoas, contra 2.257 da véspera.

Dois terços das mortes na Itália são na Lombardia, e também a capital financeira da Itália, Milão, está sob quarentena estendida a todo o país.

O conselheiro para o Bem-Estar da Região, Giulio Gallera, disse ao jornal La Repubblica que “chegamos ao ponto em que em muitas instalações quase não há camas disponíveis, não há mais um lugar para hospitalizar alguém que chega na sala de emergência esperando encontrar uma cama na Lombardia”.

“Quase duas semanas se passaram e nós pensamos que era o suficiente. Em vez disso, o objetivo está mais alguns quilômetros. Temos que cerrar os dentes, mas vamos fazê-lo”, continuou Gallera, sobre os tenebrosos números de doentes e de mortes. “É necessário que todos tenham uma atitude responsável. Afaste-se também do seu cônjuge, dos familiares”, insistiu.

Uma em cada sete mortes na Itália “está aqui”, disse o prefeito de Brescia, Del Bono: “É nosso 11 de setembro”.

Para lidar com a emergência, 300 médicos “virão de toda a Itália para apoiar as áreas mais afetadas pelo coronavírus”, anunciou o primeiro-ministro Giuseppe Conte.

A força-tarefa médica, recrutada voluntariamente e proveniente de toda a Itália, será enviada aos territórios com os problemas de saúde mais críticos em apoio às estruturas regionais de saúde. “Estamos do lado das comunidades que estão na vanguarda do enfrentamento dessa emergência, continuamos a travar essa batalha com elas”.

A ministra da Educação, Lucia Azzolina, anunciou que é impossível reabrir as escolas na data anteriormente prevista, 3 de abril. Não há, neste momento, como ter uma data de reabertura, ressaltou.

A solidariedade internacional continua chegando. O hospital de campanha construído em Cremona começou a operar, graças à solidariedade de uma igreja evangélica norte-americana, com 60 leitos e 16 unidades de terapia intensiva.

O hospital em construção em Crema, que começará a operar no sábado, contará com uma brigada de médicos cubanos, com grande experiência contra o vírus ebola.

O vice-presidente da Cruz Vermelha Chinesa, Sun Shuopeng, poucas horas após sua chegada a Milão, enfatizou que é preciso “parar todas as atividades econômicas, todos devem ficar em casa, todos devem dar sua contribuição”.

Como destacou o presidente da região da Lombardia, Attilio Fontana, Sun é “quem administrou o que aconteceu diretamente em Wuhan”.

O especialista chinês observou que as medidas na região afetada da Lombardia “não são rigorosas o suficiente”. A situação “é semelhante à que vivemos há dois meses em Wuhan, na China, o epicentro do Covid-19”, disse Sun.

“Na cidade de Wuhan, após um mês desde a adoção da política de bloqueio, vimos uma tendência decrescente em relação ao pico da doença”, assinalou.

“Aqui em Milão, a área mais atingida pelo Covid-19, não há um bloqueio muito rigoroso: o transporte público ainda está funcionando e as pessoas ainda estão se movimentando, você ainda está jantando e fazendo festas nos hotéis e sem máscaras. Precisamos que todos os cidadãos estejam envolvidos na luta contra o Covid-19 e sigam essa política “.

No mesmo dia em que a Itália alcançou a triste marca de maior número de mortos da Covid-19 do que a China, Pequim registrou que Wuhan, a cidade em que primeiro o coronavírus emergiu há três meses, havia zerado os contágios.

Na Europa, já são mais de 100.000 os casos de Covid-19 confirmados, com os maiores números de contágio ocorrendo na Itália (41 mil), na Espanha (17 mil), na França (quase 11 mil) e na Alemanha (10 mil).