Jovens nas ruas: “Quando a morte existe, a memória resiste” e “Me doem as mortes no meu país” | Foto: Joaquim Sarmiento-AFP

Milhares de colombianos foram às ruas na última segunda-feira contra a brutalidade policial e a “mais agressiva reforma trabalhista e previdenciária dos últimos 30 anos”, como denunciaram as entidades sindicais.

Apesar das inúmeras ameaças do “narco-regime” do presidente Iván Duque, de criminalização do protesto – como já vem sendo feito -, e da gravidade do avanço do coronavírus pela desastrosa política sanitária do governo – que fez do país o quinto país do mundo com mais casos de Covid-19, com 765.076 infectados e 24.208 mortos -, a população respondeu à convocação das entidades populares.

Defendendo a produção nacional, exigindo a renda básica de emergência para nove milhões de lares, a expulsão dos soldados estadunidenses – com o fechamento das bases militares -, em defesa dos direitos, da vida e da paz, entre outras bandeiras, os manifestantes foram às ruas com suas faixas e bandeiras. Condenaram os abusos, ergueram a voz e alertaram para a onda de massacres e assassinatos de lideranças sociais e ex-membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que põem em risco o cumprimento dos Acordos de Paz assinado com a antiga guerrilha em 2016. Em agosto, o país atingiu a cifra de mil lideranças, defensores dos direitos humanos e ex-combatentes das FARC assassinados após a assinatura dos Acordos.

Em Bogotá, milhares reivindicaram justiça para Javier Ordóñez, de 44 anos, espancado, torturado e assassinado com pistolas laser há duas semanas. Após o crime, uma série de manifestações contra a impunidade terminou em enfrentamentos e mais repressão, com a morte de 13 civis por disparos da polícia e 209 pessoas feridas.

No centro da capital, policiais agrediram a congressista Katherine Miranda quando esta tentava defender um manifestante. “A congressista teve que intervir para que não machucassem um jovem. No entanto, a Polícia acabou agredindo Katherine Miranda”, informou Inti Asprilla, representante na Câmara.

Além de condenar a incompetência e o descaso de Duque frente à pandemia, que só aprofundam a crise econômica e o desemprego, os colombianos denunciam a imposição do decreto 1174 – regulamentado pelo governo no dia 27 de agosto -, que estabelece um piso extremamente baixo de proteção social.

Ao mesmo tempo, o índice de desemprego disparou, superando os 20,2% em julho, o nível mais alto registrado desde 2001. Conforme o Departamento Administrativo Nacional de Estatísticas (Dane), é um acréscimo de 9,5 % em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foi de 10,7 %.

O presidente da Central Unitária de Trabalhadores (CUT) da Colômbia, Diógenes Orjuela, fez um balanço positivo da jornada de mobilizações, que contou com uma grande participação de pessoas também em carros, motocicletas e até bicicletas.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz) da Colômbia denunciou no domingo um quadruplo assassinato ocorrido no departamento (Estado) de Nariño, em que as vítimas foram crivadas de balas por paramilitares a serviço de latifundiários. De acordo com o Indepaz, já são 61 massacres ocorridos neste ano.

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