Alto Comissariado investiga perseguição da Polícia e do Esquadrão Móvel Antidistúrbio contra manifestantes

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos na Colômbia denunciou nesta terça-feira (4) que vários dos seus membros foram ameaçados e atacados pela polícia de Cali – capital do Valle do Cauca – em meio à onda de terror governamental que já deixou 27 vítimas fatais – 12 apenas na cidade – e centenas de feridos.

Entre outras, as entidades humanitárias identificaram, entre 28 de abril e 3 de maio, mais de 1.200 casos de violência por parte da Polícia Nacional, do Exército, e do Esquadrão Móvel Antidistúrbio (Esmad) nas ruas de Bogotá, Medelin, Palmira, Ibagué e Popayán.

“Na noite de segunda-feira (3), enquanto atendia a uns manifestantes detidos na estação de Polícia Frei Damião, em Cali, uma funcionária da Defensoria do Povo, um funcionário da Procuradoria e três pessoas da organização de direitos humanos foram ameaçados por agentes da Polícia Nacional”, denunciou o defensor do Povo, Carlos Camargo Asis. Carlos Camargo afirmou que os uniformizados dispararam repetidas vezes para o ar e para o piso, atiraram granadas atordoantes, agrediram os funcionários da Comissão Humanitária e ameaçaram que iam matá-los.

Esta ação é absolutamente reprovável e não somente atenta contra a integridade psicológica da Comissão, alertou Asis, “mas contra a instituição e em geral contra os direitos de toda a cidadania”. “Exigimos que a Defensoria do Povo e as organizações de direitos humanos sejam respeitadas por todas as autoridades, que se investiguem os fatos e se punam os responsável”, enfatizou.

Conforme a comissária Juliette de Rivero, o objetivo da polícia local era intimidar a investigação do destino de cidadãos capturados durante os protestos contra Duque.

A porta-voz da missão das Nações Unidas em Cali, Marta Hurtado, afirmou que seus integrantes “foram testemunhas do uso excessivo de força por parte da polícia”, que “utilizaram munição real, espancaram e prenderam manifestantes”.

O fato foi denunciado e repudiado pela Procuradoria-Geral da Nação, que ordenou a abertura de investigação para determinar as responsabilidades. Inúmeros vídeos que circulam na internet mostram ataques da polícia com armas, se escutam explosões e perseguições.

A repressão tem sido uma prática constante do governo de Iván Duque desde que começaram os protestos contra o seu pacote de reforma tributária – recém-retirado após uma gigantesca manifestação popular. A medida de arrocho neoliberal ampliava a cobrança dos salários dos trabalhadores e elevava os impostos sobre produtos da cesta básica, entre outros abusos em prol do sistema financeiro, isso em plena crise da pandemia.

Marcelo é um dos jovens executados pela polícia de Iván Duque. Saiu às ruas de Cali para protestar contra a reforma tributária “cansado de tanto abuso” e não voltou mais, contou o seu pai Armando Agredo.

“Marcelo tinha 16 anos quando foi acertado por um tiro. Meu filho não tinha absolutamente nada nas mãos, nenhuma arma. Não era uma ameaça. Como podem tirar a vida de uma pessoa indefesa? Por isso pedimos justiça”, defendeu o pai.