Ao som dos batuques o sonoro não à violência e ao arrocho neoliberal - foto Manuel Saldarriaga

Somados com a palavra de ordem “Medelín resiste cantando”, milhares de colombianos realizaram uma gigantesca marcha e se concentraram no centro da “capital da eterna primavera” no último domingo para dizer um sonoro basta à violência e ao arrocho neoliberal de Iván Duque.

De forma criativa que somou música e teatro, cinco dezenas de artistas e cantores locais embalaram os manifestantes, que tomam as ruas desde o dia 21 de novembro para exigir uma “imediata mudança de rumo” no desgoverno. O caos está tão marcante que a política de Duque tem a oposição de sete em cada dez colombianos, como aponta uma recente pesquisa Gallup, e a rejeição não para de subir.

Trazendo a foto da mãe morta junto ao peito, Adriana Bravo Martinez era uma das que ocupavam a linha de frente do protesto e como registraram os meios locais, “não parava nunca de gritar”. “Sou uma cidadã afetada pelo sistema de saúde deste país que deixou minha mãe morrer pela falta de medicamentos que valiam 30 dólares diários (R$ 120,00). Assim, mesmo sendo médica, nada pude fazer”, condenou Adriana.

“Artistas e público pediram em alto e bom som justiça, igualdade, paz e soluções urgentes aos problemas que afligem a Colômbia”, explicaram os organizadores em um comunicado, comemorando o encerramento da marcha sem agressões por parte da polícia nem do Exército. Havia muita preocupação pela violência governamental, que nos recentes protestos deixou oficialmente quatro mortos e mais de 500 feridos.

Os colombianos também repudiam o assassinato de forma cruel e covarde de centenas de lideranças sociais e indígenas pelo Exército e por milicianos no interior do país, que têm se multiplicado da forma mais bárbara.

Os protestos iniciaram como uma greve sindical e estudantil e logo, com o apoio de indígenas e da oposição, ganhou grandes proporções. Os manifestantes reivindicam desde o completo cumprimento do acordo de paz com a guerrilha – desrespeitado pelo governo, que segue assassinando lideranças – até a destinação de mais recursos para a saúde e a educação públicas.

Para a música Adriana Lúcia, que se converteu no rosto do movimento “Um canto por Colômbia”, “se tivéssemos que colocar numa folha tudo o que pedimos, não caberia”. “Há muito descontentamento das pessoas que estão irritadas, feridas, têm raiva”, esclareceu Adriana, associando este sentimento “a um acumulado de uma dívida social de muitos anos e que cabe agora a este governo responder, pois a história está exigindo”.