Em um claro reconhecimento do papel da ciência e da pesquisa para o desenvolvimento do país, o presidente Alberto Fernández nomeou dezenas de cientistas do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas, Conicet, para cargos no primeiro escalão do governo da Argentina.
Entre eles há três ministros: na Segurança Pública, a antropóloga Sabina Frederic; na Ciência, Tecnologia e Inovação, o químico especialista em nanotecnologia, Roberto Salvarezza; e o pesquisador do Instituto Interdisciplinar de Economia Política de Buenos Aires (UBA-Conicet), Martín Guzmán, no ministério de Economia. Conta-se também o sociólogo e educador Daniel Filmus como Secretário de Malvinas, Antártida e Atlântico Sul, setor importante na defesa frente à usurpação inglesa das ilhas na região austral do país. Em outra categoria, a dos eleitos pelo voto, se soma o economista e docente Axel Kicillof, governador de Buenos Aires.
A convocatória de pesquisadores neste número é inédita no país, assinalam dirigentes do Conicet. Roberto Salvarezza, que presidiu esse organismo entre 2012 e 2015, apontou em reportagem do jornal Página 12, que “os governos neoliberais buscaram desprestigiar aqueles que os questionavam desde as universidades e centros de pesquisa. Mesmo assim se configurou uma comunidade científica comprometida com a realidade do país. Agora há um governo que os convoca, convencido de utilizar o conhecimento como ferramenta fundamental nas políticas públicas”.
O Conicet é o principal órgão dedicado a promover a pesquisa científica e tecnológica da Argentina. Funciona dentro da área do Ministério de Ciência e Tecnologia, embora de maneira autárquica. Inclui e financia a maior parte dos pesquisadores que trabalham no país, utilizando um sistema que em seu nível inicial outorga bolsas para que os graduados universitários façam doutorado e pós-doutorado. Os que concluem tais cursos podem postular-se para a carreira de pesquisador. Atualmente trabalham no órgão mais de 10 mil pesquisadores e mais de 11 mil bolsistas de doutorado e pós-doutorado.
Na campanha eleitoral de 2019, oito mil cientistas assinaram uma carta de apoio à chapa Alberto Fernández- Cristina Fernández de Kirchner que disputou – e venceu – a presidência contra Maurício Macri.
“Queremos que se feche definitivamente a etapa de restauração conservadora aberta em 2015, que condena nosso país ao atraso, ao endividamento e à pobreza. Queremos colaborar na recuperação e no impulso de um modelo de desenvolvimento produtivo e sociocultural que promova a inclusão e a justiça social, apoiando-se na ciência, tecnologia e no conhecimento gerados em nosso país”, afirmaram no documento.
“Para nós é uma grande alegria e um grande orgulho que pesquisadoras e pesquisadores estejam ocupando responsabilidades nesta administração. Isso fala da excelência de nossa gente, claro, mas também de uma administração que decide ocupar pessoas que estão muito preparadas para realizar este tipo de tarefas. A maioria são doutores, têm experiência em pesquisa e ocupam cargos de grande relevância. Como trabalhadora da ciência, vejo este reconhecimento do governo como fantástico, e o compromisso de nossos colegas em entrar à administração, com tudo o que isso supõe, também é muito importante”, disse à Página/12 a presidente do Conicet, Ana Franchi.
“O desenvolvimento científico é fundamental para pensar um modelo de país e um modelo de sociedade. Essa vinculação entre a ciência e o setor político, econômico e os diferentes atores da sociedade é muito importante. A ciência não é neutra, toma partido, quando a gente decide o quê investigar está tomando decisões que podem ter consequências em nossa sociedade”, observou Carolina Vera, responsável da Unidade do Gabinete de Assessores do Ministério de Ciência e Técnica. “Então, nada pode ser melhor do que ter um diálogo profundo entre a ciência e o setor de governo que permita orientar a investigação dos problemas que requerem solução de nossa sociedade”, frisou.
Entre os novos funcionários com formação científica estão, além dos já mencionados, Ana Castellani, secretária de Gestão e Emprego Público, que é doutora em Ciências Sociais e pesquisadora das elites econômicas argentinas; María del Pilar Bueno, especialista em temas ambientais e relações internacionais, hoje secretária de Mudança Climática; o pesquisador e escritor Diego Golombek, como diretor do Instituto Nacional de Educação Tecnológica; o físico Diego Hurtado, secretário de Planejamento e Políticas em Ciência, Tecnologia e Inovação; entre outros.