Cidades de diferentes regiões do país estão suspendendo a vacinação contra a Covid-19 para quem precisa tomar a segunda dose da CoronaVac. A falta do imunizante acontece após o governo Bolsonaro orientar estados e municípios a não realizarem a reserva das doses do imunizante para a segunda dose. Segundo levantamento do Conselho Nacional dos Municípios (CNM), ao menos 1.400 cidades brasileiras não realizaram a reserva das doses após a orientação federal.

Desde a terceira semana de março, a orientação do Ministério da Saúde é aplicar todos os imunizantes disponíveis para a primeira dose, sem guardar ampolas para garantir a aplicação da segunda.

A grave situação já é detectada em diversos municípios. Segundo a Prefeitura de Maceió, capital de Alagoas, o município recebeu do governo federal apenas 8.790 doses do imunizante, mas são necessárias 26.510 unidades para haver a imunização do público-alvo desta semana.

Municípios do Rio Grande do Sul, incluindo a capital Porto Alegre, também anunciaram que estão reduzindo ou suspendendo a aplicação da necessária segunda dose da vacina CoronaVac, do Instituto Butantan, por falta de produto.

Segundo o chefe da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, em alguns pontos da Capital já terminaram as doses disponíveis e, em outros, as reservas estão no fim e devem terminar até amanhã. “Infelizmente, teremos que aguardar a chegada de novo lote do Ministério da Saúde”, explicou Ritter.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou em pronunciamento nas redes sociais, que a situação da capital do Amapá, Macapá, é tensa e desesperadora.

“As cenas em Macapá, no último sábado, foram desesperadoras. O descompasso entre as doses de vacinas anticovid-19 enviadas pelo Ministério da Saúde e a demanda existente na capital, Macapá, levou a cerca de 5 mil idosos que ainda não receberam a sua segunda dose de imunização. Questionamos esse absurdo ao Ministério da Saúde e exigimos o envio urgente da segunda dose para esse público”, disse o senador.

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A cidade de Canoas, disse em nota que “as unidades básicas de saúde aplicaram as vacinas disponíveis e já não possuem mais doses neste momento”. O município acrescenta que, “quem não conseguiu se vacinar, deverá aguardar a chegada de nova remessa do imunizante produzido pelo Instituto Butantan”.

Estância Velha também informou, nesta segunda-feira, que não tem mais doses. “O número insuficiente de doses da Coronavac enviadas ao município na última remessa não permitirá a vacinação de todas as pessoas agendadas para esta semana.

São Gabriel, Caçapava do Sul, Tramandaí, Santa Cruz do Sul e Lajeado também suspenderam a aplicação da segunda dose da CoronaVac nesta segunda-feira pela mesma razão.

Em Bagé, a suspensão da aplicação da segunda dose da Coronavac ocorreu ainda no sábado (24). Em São Leopoldo, a estimativa é de que as doses de Coronavac terminem ainda nesta segunda. Em Viamão, a previsão é de que terminem em um ou dois dias. Outro município que suspendeu a aplicação da segunda dose da vacina é Sapiranga.

Com vacinas esgotadas, a cidade de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, suspendeu a aplicação da primeira dose contra Covid-19 na última sexta-feira (23). Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do município, há estoque suficiente apenas para quem vai receber a segunda dose.

A cidade de Maricá (RJ) também está com a vacinação suspensa, desde quinta-feira (22), por falta de doses em estoque. A suspensão é da aplicação tanto da primeira quanto da segunda dose.

A cidade de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, afirmou em nota que só possui a segunda dose para esta segunda-feira.

Escassez deve piorar

Em entrevista na última sexta-feira (23), o presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Wilames Freire, afirmou que a escassez de vacinas deve piorar nos próximos dois meses, uma vez que o Brasil corre o risco de ficar sem Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), matéria-prima para produção dos imunizantes.

“Nós temos um cronograma de vacinas [do Ministério da Saúde] que a todo momento é corrigido para baixo […]. Agora, com a pandemia chegando na Índia forte como estamos visualizando […] nos preocupa muito, porque o IFA que utilizamos no Brasil, em grande parte vem da Índia”, disse o presidente do Conasems.

“Nossa previsão é que, nesses 60 dias, quando temos IFA para receber, [com] a Índia passando pela dificuldade que está […], nós temos a preocupação de que a Índia possa privilegiar a produção local de vacinas para poder resolver o seu problema.”

Segundo Freire, na última quinta-feira (22) o Conasems alertou parlamentares sobre o risco de desabastecimento de IFA vindo da Índia. De modo geral, os lotes de insumos importados pelo Brasil têm chegado com atraso de dias e até semanas.

Na segunda-feira passada (19), por exemplo, o Instituto Butantan recebeu 3 mil litros de insumos vindos da China. No entanto, o carregamento deveria ter chegado em São Paulo no final de março. Com o atraso, milhões de doses da Coronavac que deveriam ter sido entregues ao Ministério da Saúde na última semana serão enviadas somente 10 de maio.

Dificuldade

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, alegou nesta segunda-feira (26) uma “dificuldade” no fornecimento de vacinas para aplicação da segunda dose da CoronaVac.

“O que tem nos causado certa preocupação é a CoronaVac, a segunda dose. Tem sido um pedido de governadores, e prefeitos, porque, se os senhores lembram, cerca de um mês atrás se liberou as segundas doses para que se aplicassem. E agora, em face de retardo de insumo vindo da China para o Butantan, há uma dificuldade com essa segunda dose”, declarou Queiroga no Senado.

Ao participar da sessão da comissão do Senado nesta segunda, Queiroga disse que o governo emitirá uma “nota técnica acerca desse tema”.