Tanque de oxigênio chega a hospital de Manaus; várias unidades de atendimento na capital do Amazonas estão com item em falta

Após o caos vivido em Manaus (AM), no início deste ano, agora, diversas cidades brasileiras já apresentam registros de falta de oxigênio para pacientes com Covid-19. De Norte a Sul do país pessoas que precisam lutar contra o novo coronavírus estão correndo risco de perder a batalha pela vi da por falta do mínimo: ar.

Nesse contexto, a comissão do Senado que acompanha as ações contra a Covid-19 (CTCOVID19) aprovou, nesta segunda-feira (15), um requerimento de convocação imediata do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para dar explicações sobre a trágica situação. O requerimento foi aprovado horas antes da confirmação da saída de Pazuello do ministério. O médico Marcelo Queiroga deve assumir sua colocação.

O ministro também deve falar sobre as medidas e suporte do governo federal para evitar colapso do sistema de saúde e ampliar a capacidade de fornecimento de oxigênio. O pedido foi apresentado pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Styvenson Valentim (Podemos-RN). O presidente da comissão, senador Confúcio Moura (MDB-RO), informou que colegiado vai ouvir o ministro na quinta-feira às 9h.

Durante a reunião, Randolfe destacou o depoimento de uma secretária municipal de saúde de Rondônia que alerta para um colapso do fornecimento de oxigênio nos próximos 15 dias, caso não haja uma providência imediata. “Eu queria sugerir que nas próximas horas o ministro da Saúde ou o responsável pudesse se encontrar conosco, com esta comissão, para dar imediatamente resposta das providências que estão sendo tomadas. O cuidado desse requerimento é para que nós não deixemos que se repita uma situação tão dramática como aquela que ocorreu em Manaus no início do ano”, afirmou o senador.

Veja abaixo um levantamento da situação em diversos estados brasileiros:

Rondônia

Em Rondônia, a situação é grave. As prefeituras do interior de Rondônia alertam que os estoques de oxigênio em hospitais estão baixos. Com mais de 3.300 mortes por covid e 164 mil casos, e com os leitos de UTI com 100% de ocupação, o estado de Rondônia está preocupação que falte oxigênio medicinal.

Em documento enviado ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o Ministério Público Federal cobra a adoção urgente para evitar o desabastecimento nas cidades.

Acre

No Acre, a situação é tão crítica que devido à alta demanda, a distribuidora que fornece oxigênio para o estado informou que o produto pode faltar em um prazo de 15 dias. A informação foi confirmada pela subsecretária de Saúde, Paula Mariano. Ela disse que o Ministério da Saúde já foi comunicado.

Após o comunicado, o Acre recebeu, na madrugada deste domingo, 50 cilindros de oxigênio doados pelo Ministério Público Estadual (MP-AC) e a empresa Rio Med. Os cilindros chegaram em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

Distrito Federal

No Distrito Federal, pacientes graves internados com Covid-19 estão respirando por meio de “gambiarras de oxigênio” nos equipamentos da rede pública, segundo relatos de profissionais de saúde. Quem trabalha dentro dos hospitais afirma que a quantidade de cilindros móveis também não é suficiente.

Um enfermeiro do Hospital Regional de Planaltina, que prefere não se identificar, fez um desabafo sobre o plantão no último sábado. “Chegou um momento em que estávamos em duas paradas cardíacas ao mesmo tempo, o único cilindro de oxigênio do Samu [Serviço Móvel de Urgência] acabou, e o paciente precisando ser ventilado sem oxigênio”.

Segundo o enfermeiro, foi necessário dividir o mesmo ponto de oxigênio entre as duas pessoas. “Retirei o oxigênio de uma paciente e coloquei no [outro] paciente. Quando olhei pra trás, a outra senhora no qual eu tinha removido o oxigênio começou a ficar cianótica [sem ar]. Voltei o oxigênio pra senhorinha”, relata. “Durante os momentos de desespero das reanimações vi equipe médica e de enfermagem com lágrimas nos olhos e muito medo”, afirmou o profissional.

Na manhã desta segunda-feira, a taxa de ocupação em leitos adultos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) chegou a 100%. Enquanto isso, 220 pessoas aguardavam por leitos em hospitais.

Paraná

Nesta última semana o grande aumento de casos graves de pessoas com covid-19 deixou o Paraná colapsar toda a sua estrutura de saúde pública e privada, faltando insumos básicos, inclusive oxigênio.

A falta de oxigênio começou atingindo a cidade de Clevelândia, a 474 Km a Sudoeste da capital paranaense, na última sexta-feira, 13, com familiares de pessoas internadas no Hospital Regional Estadual de Clevelândia procurando em empresas da região ajuda para fornecer cilindros de oxigênio, mas foi pela ação de três cervejarias da região, que interromperam a sua produção para doar um total de 17 cilindros ao hospital.

O problema não é exclusivo de Clevelândia, todo o Estado está na mesma situação crítica, inclusive a capital, Curitiba. Na sexta, responsáveis pela Secretaria de Saúde Municipal afirmaram que seguindo o ritmo de necessidade de novos leitos e recursos nos próximos dias o sistema de Saúde, público ou privado, pode estar colapsado não podendo receber mais nenhum novo paciente.

Flaviano Ventorim, presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná (Femipa) afirmou que “Se 10% deles complicarem, são 1500 pessoas que vão para o sistema de saúde, público e privado, e se seguir o padrão atual, 300 podem precisar de UTI, ou seja, não temos essas vagas. E não só por uma questão de dinheiro, porque não há equipamentos para comprar, oxigênio, anestésico, fora equipes de saúde. Para vocês terem uma ideia, há dois dias não tínhamos esse problema de anestésicos, mas a demanda aumentou tanto que já não temos garantias de entrega”.

Ceará

O fornecimento de oxigênio está sob risco em ao menos 39 cidades cearenses, segundo a Associação dos Municípios do Ceará (Aprece).

De acordo com um profissional de saúde da UPA Edson Queiroz, em Fortaleza, ambulâncias do Samu— incluindo UTI Móvel foram deslocadas, no sábado, quando a Unidade estava na iminência da falta de oxigênio.

Cerca de 15 pacientes foram. “Todos (os pacientes) estavam em oxigênio, a maioria em máscara de reservatório em alto fluxo. Tiveram que pronar (colocar de bruços) os pacientes para ver se eles aguentavam até as ambulâncias começarem a chegar”, relatou a fonte. Por volta das 19 horas, uma criança chegou ao local com falta de ar, mas não havia oxigênio.

“Foi complicado. Difícil ver os pacientes lá dentro da UPA, todos precisando de oxigênio, e a UPA com uma quantidade tão baixa que, um a um, os pacientes iam uns com o nível de oxigênio lá embaixo, outros já sem o mesmo”, conta. Na Central de Regulação do Samu Fortaleza, informações de que a UPA do Cristo Redentor passava por situação parecida: estava com baixo nível de oxigênio e necessitando da evacuação de pacientes internados na Unidade.

Maranhão

Na noite de quinta-feira (11), pacientes com Covid-19 que estavam internados em hospital da rede municipal de Bacabal, a 240 km de São Luís, foram transferidos para outras unidades do estado por falta de oxigênio suficiente para todos os internados.

A informação foi confirmada pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). “Tivemos ontem na cidade de Bacabal uma dificuldade de abastecimento do oxigênio do hospital municipal. Fomos demandados pela prefeitura para ajudar no enfrentamento dessa crise”, disse Dino.

Bahia

Na Bahia, cidades do interior já relatam escassez de oxigênio. O prefeito da cidade de Queimadas, na região centro-norte da Bahia, afirmou nesta segunda-feira que os cilindros de oxigênio estão próximo de se esgotar. André Andrade disse que o aumento rápido dos casos graves da doença fez com que o consumo aumentasse, e o fornecedor não tem conseguido dar conta da demanda.

“O avanço extraordinário da doença fez com que completasse as nove acomodações. Fizemos também um isolamento no hospital, chegando a 14 vagas. O consumo de oxigênio de 30 dias, estamos consumindo em apenas um dia”, disse o prefeito.

“É praticamente um botijão a cada uma hora e meia, uma hora e quarenta. Hoje, o município tem 43 casos ativos e alguns deles estão em casa. Temos que fornecer o oxigênio não só aos pacientes internados, como aqueles que se encontram em casa. E não chegamos a atender todos. Temos esse grande problema”, afirmou.

Mato Grosso

No Mato Grosso, a situação não é diferente. Mecânicas, torneadoras, postos de combustíveis e outras empresas emprestaram cerca de 30 cilindros de oxigênio vazios à Prefeitura de Peixoto de Azevedo, a 692 km de Cuiabá, para que o município consiga repor o estoque de oxigênio

O objetivo da ação foi assegurar o estoque de oxigênio da cidade que também atende moradores de Matupá, Guarantã do Norte, Terra Nova do Norte e Novo Mundo, e não contam com o insumo neste momento de crise.

São Paulo

Com aumento na demanda por oxigênio, Valinhos (SP) emprestou cinco cilindros de oxigênio usados em clínicas veterinárias para garantir uma retaguarda no serviço médico. A informação veio à tona após repercutir em redes sociais uma fala da secretária de Saúde, Carina Missaglia, durante reunião com vereadores.

“Conversei com amigos veterinários que emprestaram cilindros oxigênios de clínica veterinária, que amanhã teria cirurgia. Neste momento, a gente precisa de cilindros pra por oxigênio. Nós usávamos 24 torpedos por semana. Hoje, a gente está usando, no mínimo, 40 por dia. Quando a gente intuba um paciente na UPA, lá não é lugar para ficar um paciente intubado, esse paciente consome muito oxigênio, muito”, disse a secretária.

Assim como Valinhos, na região de Campinas, Embu das Artes, Paranapanema, São Sebastião também enfrentam a escassez de oxigênio.