Navio é carregado com produtos chineses destinados à União Europeia no porto de Qingdao

A China reforçou em 2020 os laços comerciais com a União Europeia (UE) e tirou dos Estados Unidos o posto de principal parceiro de comércio do bloco. Conforme a Eurostat, a agência de estatísticas europeia, o comércio bilateral UE-China alcançou 586 bilhões de euros no período, comparados com transações UE-EUA 555 bilhões de euros

As importações pelo bloco de produtos vindos da China aumentaram 5,6% no ano passado, totalizando 383,5 bilhões de euros. As exportações de produtos europeus para o gigante asiático subiram 2,2%, para 202,5 bilhões de euros, no período.

Já os negócios com os Estados Unidos durante o último ano de governo de Donald Trump encolheram, com as importações de produtos americanos diminuindo 13,2%, para 202 bilhões de euros, enquanto as exportações de bens europeus para o país recuaram 8,2%, para 353 bilhões de euros.

A União Europeia já era o maior parceiro comercial da China desde 2004, mas esta é a primeira vez que o inverso também é verdadeiro. No entanto, a UE tem superávit no comércio com os EUA e déficit com a China.

Antes que o ano de 2020 se encerrasse, a União Europeia e a China anunciaram um acordo bilateral de investimento (CAI), que o jornal chinês Global Times chamou de “presente de Ano Novo para o mundo”.

“O mundo pós-Covid de amanhã necessita de uma forte relação UE-China, para construir melhor em frente”, afirmou a presidente da Comissão Europeia (o órgão executivo da UE), Ursula von der Leyen.

Presentes à cerimônia virtual, o presidente chinês Xi Jinping, a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, o presidente francês Emmanuel Macron, além de von der Leyen e do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

O novo acordo europeu-chinês estava em discussão há sete anos e já passara por 35 rodadas de negociação. O acordo foi saudado pelo presidente Xi por seu papel na recuperação econômica mundial pós-pandemia e na afirmação da cooperação econômica.

Em termos gerais, o acordo CAI enfatiza a intenção da UE e da China de continuarem aprofundando suas relações econômicas, ao garantir a cada parte mais acesso para investimentos na economia do outro. Isso em um momento em que os EUA apostaram em tentar criar um cordão de isolamento em relação à China, particularmente na alta tecnologia.

O jornal francês Le Monde reivindicou para Merkel boa parte do mérito pelo fechamento do acordo, apesar da “janela” para sua assinatura ser “muito pequena”, já que a Alemanha encerrou sua presidência rotativa da UE em 31 de dezembro.

“Pela primeira vez, foi ela [Merkel] quem empurrou seus parceiros europeus, para que o acordo fosse concluído a tempo”. Coincidentemente, nesse mesmo mês a Alemanha driblou a pressão de Trump para que fosse vetado o 5G da Huawei.

Na Europa, o principal parceiro comercial da China é a Alemanha, o que explica o empenho de Merkel.

De acordo com o Le Monde, essas transações, que representam cerca de um terço do volume total negociado entre a China e a União Europeia, são realizadas em indústrias vitais para o “made in Germany”: maquinário, automotivo, engenharia elétrica e química, cujas empresas se tornaram extremamente dependentes do mercado chinês.

Do ponto de vista chinês, o acordo também fortaleceu a nova política de “dupla circulação”, que tem como centro o mercado interno, sem deixar de lado o multilateralismo, as relações mutuamente vantajosas com os parceiros internacionais e a nova Rota da Seda.