Os protestos de Hong Kong começaram em maio, coincidentemente com o agravamento da guerra tarifária de Trump (Foto: Studio Incendo)

O Ministério das Relações Exteriores da China advertiu os EUA de que devem arcar com as consequências das contramedidas de Pequim se continuarem a “agir arbitrariamente” em relação a Hong Kong; e que a interferência de Washington nas questões internas chinesas “está fadada ao fracasso”. As declarações se seguiram à assinatura pelo presidente Donald Trump de lei do Congresso para impor anualmente uma ‘avaliação’ sujeita à decretação de sanções.

Washington “ignorou os fatos” e “apoiou descaradamente radicais violentos que se opõem ao Estado de Direito” em Hong Kong, afirmou o Ministério das Relações Exteriores na quinta-feira, após a entrada em vigor nos EUA da lei norte-americana da “Democracia e Direitos Humanos de Hong Kong”. Trump assinou também uma ridícula lei para banir exportações de gás lacrimogêneo e algemas de fabricação norte-americana para a China – se é que os EUA ainda fabricam isso internamente.

A China afirmou, ainda, que essa lei não passa de uma tentativa de “prejudicar a prática de ‘um país, dois sistemas’ e o caminho do rejuvenescimento nacional chinês” e apontou que a descarada interferência unirá o povo chinês contra “as intenções sinistras e a natureza hegemônica” de Washington.

Também o governo local de Hong Kong condenou a lei por interferir em seus assuntos internos” e advertiu que ela é prejudicial às relações com os EUA, lembrando que Hong Kong é a região do mundo que propicia aos EUA o maior superávit positivo de sua muito no vermelho balança comercial.

Em Hong Kong, alguns milhares de manifestantes, com profusão de bandeiras norte-americanas, comemoraram o feriado norte-americano de ação de graças e a assinatura por Trump da lei de ingerência.

Os protestos de Hong Kong começaram em maio, coincidentemente com o agravamento da guerra tarifária de Trump, sob pretexto de um projeto de lei de extradição, apresentado depois do clamor gerado pelo assassinato de uma jovem de Hong Kong pelo namorado durante viagem a Taiwan, com a qual não existia legislação de extradição, permitindo a impunidade do criminoso.

Ex-colônia britânica, arrancada a canhonaços da China para impor o tráfico de ópio, Hong Kong desde 1997 vive sob um estatuto de autonomia, em que está mantido o sistema ultraliberal e o número recorde de bilionários, enquanto boa parte da população mora em cubículos. Também continua sendo um centro de especulação internacional, mas sua importância diminuiu muito desde 1997, caindo de uma economia equivalente a quase um quinto daquela da China continental para apenas 3% atualmente.

Em última instância quem realmente poderia ter alguma preocupação com uma possível extradição seriam os numerosos bilionários de Hong Kong, assustados com a cruzada anti-corrupção no continente, mas, diante das enormes contradições sociais na ilha-porto, as manifestações cresceram em grandes atos, até à retirada formal da lei.

Daí em diante, os protestos foram encolhendo até estarem reduzidos a grupos de black blocks cada vez mais violentos, o que incluiu depredações de estações de metrô e locais públicos. Nas eleições distritais, a oposição passou a controlar 17 de 18 distritos, apesar de no total de votos a proporção ser 60%-40%.

Como registrou ironicamente a RT, “pela lógica de alguns parlamentares americanos falcões, no entanto, seu apoio e promoção da “democracia” no exterior é um assunto interno dos EUA e os protestos da China sobre o assunto representam interferência estrangeira indesejável”.