China repele ‘teoria’ racista de Biden sobre ‘vírus de laboratório’
A China pediu que o biolaboratório de Fort Detrick, o principal centro do Pentágono de pesquisas sobre vírus, seja submetido a uma investigação sobre a origem do coronavírus da Covid-19, conduzida pela OMS, e denunciou que o governo Biden maquiou e retomou ‘teorias da conspiração’ sobre Wuhan, iniciadas pelo antecessor Trump.
“Quantos segredos estão escondidos no laboratório de Fort Detrick dos EUA e outros biolabs no exterior do resto do mundo? Qual é a verdade sobre os surtos de doenças respiratórias no norte da Virgínia em julho de 2019 e o cigarro eletrônico, ou vapor, associado ao Surto de lesão pulmonar (EVALI) em Wisconsin? Os EUA devem uma explicação ao mundo”, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, em coletiva de imprensa na quinta-feira (27).
O porta-voz da diplomacia chinesa também denunciou a retomada, no governo Biden, da campanha racista para atribuir a pandemia ao “vírus chinês”, agora sob uma roupagem ainda mais cínica.
Os EUA não têm interesse em conduzir um estudo científico das origens da Covid-19 e tentam politizar a investigação, afirmou Zhao, após o anúncio de que Biden encarregou a CIA de dizer de onde o coronavírus emergiu, um factoide a serviço da Casa Branca. “O objetivo deles é usar a pandemia para estigmatizar, promover manipulação política e transferir a culpa”, denunciou o porta-voz.
Assim, na véspera da abertura da 74ª Assembleia Mundial da Saúde, o órgão máximo da OMS, o Wall Street Journal publicou, citando como fonte (anônima) ‘os serviços de inteligência dos EUA’, isto é, a CIA, que haveria ‘novos elementos’ sobre o laboratório de virologia de Wuhan – “três cientistas” teriam sofrido “doenças respiratórias” em novembro de 2019. O que já foi negado pela China.
Uma missão independente de alto nível montada pela OMS, composta por pesquisadores de vários países, depois de uma investigação de quatro semanas in loco em Wuhan e escrutínio dos cientistas e procedimentos do laboratório de virologia, concluiu como “extremamente improvável” que o início da pandemia tivesse como explicação o “vazamento do biolab” chinês, e considerou que o vírus deve ter passado de um animal hospedeiro após contato com humanos.
Três dias após a divulgação do press-release da CIA pelo WSJ, o presidente Joe Biden anunciou que estava dando “90 dias” aos serviços de inteligência norte-americanos para “descobrirem de onde veio o vírus”.
Em paralelo, na Assembleia Mundial da Saúde, em vídeo o ministro da Saúde de Biden pediu uma “investigação de fase dois” sobre a origem do vírus, alegando que “faltava transparência” à investigação e que a equipe de especialistas da OMS não teria “independência”.
Biolab do Pentágono
O laboratório de Fort Detrick foi abruptamente fechado em agosto de 2019, por violações da biossegurança, como registrou The New York Times. Coincidentemente, surgiram os até aqui inexplicados surtos de doenças respiratórias nos EUA registrados no meio de 2019, a que o diplomata chinês se referiu.
O biolab de Fort Detrick só retomou plenamente as atividades em março de 2020, oito meses depois. Na época do fechamento e alegados dois episódios de vazamento, os virologistas do Pentágono estudavam, segundo o Frederick News Post, os vírus da ebola, da varíola, da encefalite equina venezuelana e outros perigosos patógenos.
Pesquisadores chineses consideraram ridícula e arrogante a pretensão de que seja a CIA, com sua reputação tóxica de crimes e falcatruas, que decida sobre o mérito da questão científica de como a pandemia se originou.
“Por que alguém confiaria nos resultados de uma investigação conduzida por tais agências de inteligência não confiáveis?”, questionou o porta-voz Zhao. O diplomata lembrou do famoso vídeo de 2019 em que o então secretário de Estado Mike Pompeo, se gabou dos bons tempos como diretor da CIA. “Nós mentimos, trapaceamos, roubamos … Tivemos cursos de treinamento inteiros”, rememorou, em um ato público na Texas A&M University.
E a rede de biolaboratórios do Pentágono vai muito além de Fort Detrick, com cerca de duzentas dependências, boa parte delas na Ásia.
“Como as agências de inteligência poderiam descobrir uma questão científica tão importante em 90 dias?”, disse ao jornal Global Times o pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Lü Xiang. “Rastrear as origens do vírus é apenas mais uma arma para os EUA realizarem ataques violentos contra a China, além dos relacionados a Xinjiang e Hong Kong”, acrescentou.
Dirigir-se à ‘comunidade de inteligência’ em vez de aos profissionais científicos mostra que os EUA estão puramente politizando o rastreamento das origens do vírus, assinalaram observadores ao GT.
A última vez que a ‘comunidade de inteligência’ norte-americana ousou fazer uma afirmação desse calibre foi na invasão do Iraque. O que ficou estampado na famosa cena do então secretário de Estado Colin Powell, no Conselho de Segurança da ONU, com um vidrinho de ‘antraz’ na mão, a ‘prova’ das armas de destruição em massa do Iraque inexistentes. Talvez dessa feita a CIA queira se candidatar ao Nobel de Medicina.
Avestruz
O porta-voz chinês conclamou os EUA a refletirem sobre seus próprios problemas, ao invés de se esconderem atrás desse jogo maligno. “Os Estados Unidos registraram o maior número de casos e mortes por COVID-19 no mundo, ultrapassando 33 milhões e 600 mil, respectivamente. Eles não refletem sobre si mesmos, mas tentam, em vez disso, tornar a China em bode expiatório. Eu quero perguntar a eles, o que vocês realmente estão fazendo? Onde está consciência de vocês?”, questionou o porta-voz chinês, Zhao.
A China não se opõe a uma investigação de segunda fase da OMS, inclusive a considera necessária, mas deve ser uma investigação global, ao invés de uma que se concentre apenas em Wuhan, China.
O que Washington tenta impor é uma presunção de culpa que antecede a investigação, que só serviria para atender às necessidades egoístas dos EUA de contenção da China.
Um especialista chinês da equipe conjunta OMS-China disse ao GT que a OMS já realizou estudos de campo exaustivos na China, que chegaram a conclusões com base em fatos e dados. “Todos os materiais que poderíamos oferecer [sobre o rastreamento das origens] foram dados aos especialistas da OMS, e nossa conclusão do estudo conjunto OMS-China pode resistir ao exame minucioso e aos testemunhos”, disse ele.
Quanto à ‘investigação’ a cargo da CIA, Yuan Zhiming, diretor do Laboratório Nacional de Biossegurança de Wuhan do Instituto de Virologia de Wuhan, disse que “temos confiança e continuaremos nos fixando na pesquisa científica”.
A China enfatizou que essas manobras políticas a que o governo Biden aderiu têm como consequência desviar a Assembleia Mundial da Saúde da questão essencial e urgente, que é controlar a pandemia o mais rápido possível e distribuir de forma justa as vacinas anticovid.
Até agora Washington contribuiu muito pouco para a luta global contra a pandemia. Fechou a exportação de vacinas e de insumos farmacêuticos, ao estilo ‘America first’, e tem sido uma força disruptiva na cooperação mundial contra o coronavírus.
Como salientou o GT, o lamentável é que, para os EUA, tudo que realmente importa é usar todas as oportunidades para suprimir seu ‘concorrente estratégico’, ou pelo menos atrasar seu avanço. Não há a mínima possibilidade de que seja a CIA que estabeleça o resultado final do rastreamento das origens do vírus com base exclusivamente na ciência. Não foi para isso que ela foi criada.
“Os EUA deveriam seguir o exemplo da China e conduzir imediatamente uma investigação conjunta das origens do vírus com a OMS e lançar nos EUA uma investigação internacional abrangente, transparente e baseada em evidências”, conclamou Zhao.