China quer “papel construtivo na mediação entre Ucrânia e Rússia”
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse na segunda-feira (7) que Pequim está pronta a continuar a desempenhar “um papel construtivo” na mediação das negociações entre a Rússia e a Ucrânia.
“A China acredita que quanto mais tensa a situação, mais importantes são as negociações. Quanto maior o desacordo, maior a necessidade de sentar e negociar”, enfatizou Wang em entrevista coletiva feira à margem da quinta sessão do 13º Congresso Nacional do Povo em Pequim.
“Rússia e Ucrânia realizaram rodadas de negociações e há esperança de que novos progressos sejam feitos nesta terceira rodada”, afirmou o ministro
O chefe da diplomacia chinesa também apresentou seis pontos para prevenir uma crise humanitária em larga escala na Ucrânia. Wang disse que esforços devem ser feitos para garantir que as operações humanitárias cumpram os princípios de neutralidade e imparcialidade e evitem politizar questões humanitárias, e que se garanta a proteção aos civis e ajuda aos refugiados.
Ele salientou ainda que é imprescindível garantir a saída de estrangeiros na Ucrânia com segurança e apoiar o papel de coordenação das Nações Unidas na canalização de ajuda humanitária.
Na semana passada, o chanceler ucraniano Dmytro Kuleba telefonou a Wang Yi solicitando a ajuda chinesa para as negociações.
Sem “lenha na fogueira”
No sábado, Wang Yi conversou por telefone com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, sublinhando que Pequim se opõe à escalada da crise na Ucrânia e a qualquer ação que “jogue lenha na fogueira”.
Ele reiterou que a crise na Ucrânia só pode ser resolvida por meio de “diálogo e negociações”.
“Encorajamos negociações diretas entre Rússia e Ucrânia, que não podem ser fluidas, mas a comunidade internacional deve continuar cooperando e apoiando [esses esforços] até que os resultados e a paz sejam negociados”, disse o chanceler chinês.
Pequim apoia todos os esforços que contribuam para aliviar a situação e uma solução política. “A China se opõe a qualquer ação que não seja conducente à promoção de um acordo diplomático ou que agrave a situação jogando lenha na fogueira”, ressaltou.
A questão ucraniana “é complexa”, sublinhou Wang Yi, não só em termos das normas básicas das relações internacionais, mas também “intimamente relacionada com os interesses de segurança regional”.
Para isso, o chanceler chinês chamou EUA, OTAN e União Europeia a iniciarem um diálogo com Moscou com base na igualdade e na admissão do problema criado para a segurança da Rússia decorrente da expansão da OTAN para leste.
O chefe da diplomacia chinesa salientou a urgência de “tentar construir um mecanismo de segurança europeu equilibrado, eficaz e sustentável, de acordo com o princípio da indivisibilidade da segurança”.
Da mesma forma, segundo Wang Yi, para resolver a crise ucraniana é preciso seguir os princípios da Carta da ONU, respeitar a soberania de todos os países e promover uma solução pacífica por meio do diálogo.
Na quinta-feira passada, o jornal Global Times observou que a operação militar apoiada pela Rússia na Ucrânia levou os EUA a tentarem “sequestrar” a percepção do mundo inteiro para impor a sua própria.
Após a enxurrada de “sanções infernais” do Ocidente contra a Rússia, o Ministério das Relações Exteriores da China se manifestou contra a política de restrições unilaterais como forma de resolver os problemas.
Em 25 de fevereiro, a Embaixada da China na Rússia havia apontado que Washington é “culpado pelas atuais tensões em torno da Ucrânia” e acrescentado que esse tipo de comportamento “é claramente irresponsável e imoral”.
Amizade China-Rússia
Na entrevista coletiva à margem da sessão anual do Congresso do Povo, Wang disse que a relação China-Rússia é valorizada por sua independência, e que a amizade entre os dois povos é “sólida como rocha”. Os laços China-Rússia são baseados em não aliança, não confronto e não segmentação de terceiros, e estão livres de interferência ou discórdia semeada por terceiros.
Wang também fez uma defesa marcante do multilateralismo e da concepção chinesa ganha-ganha de relações internacionais.
Sobre os laços Washington-Pequim, o ministro das Relações Exteriores chinês disse que os EUA estão fazendo um grande esforço para se envolver em intensa competição de soma zero com a China, provocar a China em questões relacionadas aos interesses centrais da China e forjar pequenos círculos para conter a China, um movimento que não só prejudica as relações bilaterais, mas prejudica a paz e a estabilidade internacionais.
A competição entre grandes países não deve ser a ordem do dia e um jogo de soma zero não é a escolha certa, destacou Wang. Em um mundo globalizado e interdependente, como a China e os EUA encontram o caminho certo a seguir e conseguem se dar bem é uma nova questão para a humanidade e uma formulação que deve ser trabalhada pela China e pelos EUA, disse Wang.