Entrada do laboratório militar de Fort Derrick nos EUA, que abriga alguns dos germes mais letais do planeta

A China espera que a Organização Mundial da Saúde (OMS) trate genuinamente o trabalho de rastreamento de origem do Covid-19 como uma questão científica, livre-se da interferência política e promova ativa e prudentemente o trabalho de rastreamento a ser realizado continuamente em vários países e regiões ao redor do globo afirmou o vice-chefe da Comissão Nacional de Saúde (NHC), Zeng Yixin.

A declaração foi em resposta a uma proposta encaminhada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adanon, desconhecendo a posição de muitos países e se submetendo às pressões de Washington e de seu “parecer da CIA em 90 dias”, ao pretender colocar Wuhan sob novo escrutínio que se supõe “transparente”.

Isso, apesar de lá uma comissão conjunta China-OMS, composta por 30 especialistas do mundo inteiro, já ter estudado e descartado como “altamente improvável” a teoria do “vazamento do laboratório”, adotada primeiro pelo governo Trump e agora de forma oportunista ressuscitada pelo governo Biden.

Zeng acrescentou que é impossível para a China aceitar o plano da OMS, que “não respeita o bom senso e é arrogante com a ciência”. Ele sublinhou que o que foi realizado na primeira fase, especialmente, quando se chegou a uma conclusão clara, não deve ser repetido.

10 milhões pedem investigação de Fort Detrick

Em paralelo, uma carta aberta que exige da Organização Mundial da Saúde (OMS) a investigação do laboratório militar de Fort Detrick, nos EUA, recebeu quase 10 milhões de assinaturas – em menos de uma semana – de internautas chineses indignados com a politização das origens de parte de Washington.

E sobre o qual inclusive há muitas razões mais para ser vistoriado, já que, cerca de seis meses antes do surgimento da pandemia, chegou a ser fechado por razões de quebra de segurança biológica, o que coincidiu com a súbita aparição de uma pneumonia na região, muito mostrada pela tevê, atribuída ao ‘vaping’.

O laboratório militar norte-americano sabidamente armazena os vírus mais letais e infecciosos do mundo, incluindo Ebola, varíola, SARS, MERS e o novo coronavírus, e por várias vezes foi denunciado de ser, na verdade, um centro de guerra biológica.

Como registrou o jornal chinês de língua inglesa, Global Times, a carta aberta mostra que o povo chinês não vai parar de questionar o laboratório militar norte-americano até que os EUA dêem uma explicação razoável.

A carta aberta também cobra da OMS que desempenhe de verdade seu papel de coordenação com base na ciência e objetividade, em vez de se deixar tornar uma ferramenta política dos EUA, que já alegou que a recusa de Pequim ao plano de fase 2 apresentado pela direção da OMS era “irresponsável e perigosa”.

Jogo da culpa

O portal Global Times denunciou que o governo Biden vem intensificando seus esforços para transformar a questão das origens do COVID-19 em arma para isolar a China internacionalmente e transferir a culpa pelo fracasso dos EUA na resposta do COVID-19. O que pode ser visto agora no recrudescimento de casos no país mais rico do mundo, refletindo não só a expansão da variante delta, mas também o predomínio em muitas áreas do país do negacionismo e do movimento antivacina.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse em uma coletiva de imprensa na quinta-feira que os Estados Unidos estavam “profundamente desapontados” com a posição da China no estudo de fase dois da OMS.

Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse na sexta-feira que o comentário revela “seu desprezo pelo bom senso e arrogância para com a ciência”. “A China disse não a essas táticas”, sublinhou.

Sem politização

Lü Xiang, um pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais em Pequim, disse ao GT que o plano de estudo de origens de fase 2 da OMS era um compromisso vergonhoso sob pressão dos EUA, e os EUA tentaram virar a questão das origens do COVID-19 em uma arma significativa para sua estratégia de contenção da China.

“Os EUA não são apenas a maior vítima da pandemia em termos de número de casos e mortes, mas também o maior vilão”, disse Lü, observando que a politização das origens da Covid-19 pelos EUA prejudicará a cooperação global e ameaçará mais vidas.

Na proposta de segunda fase de estudos sobre a origem do coronavírus, apresentada em 16 de julho, a OMS incluiu “auditorias de laboratórios e mercados em Wuhan”, atendendo ao frenesi que emana de Washington, em favor da teoria do “vazamento de laboratório”.

O porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao, disse que a falta de transparência no processo de redação levanta dúvidas quanto a que o plano da OMS seja “fruto de manipulação política”.

Muitos cientistas ao redor do mundo disseram que as sugestões da OMS em auditorias de laboratório e outras foram motivadas politicamente, não com base científica, conforme uma fonte próxima ao estudo conjunto OMS-China sobre as origens do COVID-19 no início de 2021 revelou ao Global Times na sexta-feira.

Pressão

A fonte revelou que a OMS mudou significativamente das recomendações estabelecidas no relatório do estudo conjunto OMS-China.

“Parece que o chefe da OMS cedeu à pressão política de um pequeno número de Estados membros. Isso é a política sobrepujando a ciência e vai atrasar significativamente os próximos passos, tornando o rastreamento ainda mais difícil”, advertiu a fonte.

A OMS era a única organização global de saúde pública que poderia coordenar os Estados membros na resposta do COVID-19, e sucumbir à pressão dos EUA afetará profundamente sua credibilidade e papel no longo prazo, disseram analistas.

A China continuará seu próprio estudo sobre as origens do COVID-19 e, como o primeiro país a cooperar com a OMS no estudo, a China participará ativamente do próximo estudo global de estágio, anunciou Zhao.

Por sua vez, o pesquisador Lü disse que a prioridade agora é conduzir investigações sobre as origens nos Estados Unidos. E se os EUA o rejeitarem, então os EUA estão sendo irresponsáveis com o mundo, e Joe Biden também está sendo irresponsável com seus cidadãos.

A retomada da carta do “vírus chinês” por parte do governo Biden, numa reviravolta de tudo que dissera em campanha, está tendo, como efeito colateral, o recrudescimento da anticiência, do negacionismo e da pandemia nos EUA, enquanto a vacinação se estagnou.

A desinformação sobre vacinas nos EUA, embora sem chegar ao ridículo de ameaçar que se imuniza de virar jacaré, como em certo país latino-americano, assusta os norte-americanos com mentiras de que pode causar infertilidade ou alterar o DNA das pessoas.

Segundo o cirurgião-geral dos EUA, Vivek Murthy, a disseminação da desinformação durante a pandemia custou mortes e infecções desnecessárias.

Peter Hotez, professor e reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical do Baylor College of Medicine (BCM) em Houston, Texas, tuitou na quinta-feira que a agressão anticientífica da extrema-direita visou e demonizou cientistas individuais, “rotulando-nos de assassinos”, acrescentando que “até mesmo membros eleitos do Congresso dos EUA, governadores de estados vermelhos [republicanos], noticiários de tevê a cabo, terrível”.

Feng Duojia, presidente da Associação da Indústria de Vacinas da China, disse ao Global Times na sexta-feira que a campanha antivacina e anticiência dos EUA levará a graves consequências.

“Isso prejudicará muito sua campanha de vacinação em todo o país, ou até mesmo a tornará um fracasso”, disse ele, observando que os EUA precisam ter cerca de 70 por cento de sua população vacinada para imunidade coletiva. Estancou em 48%, apesar de açambarcar boa parte da produção mundial de imunizantes.

A isso se soma o efeito dessa desinformação no mundo, atrasando seriamente o controle global da pandemia. “Não é porque o vírus seja tão forte, mas por que a politização dos EUA afasta o momento de se alcançar o fim da pandemia”, condenou Feng.