Presidente Xi Jinping com cientistas que ajudaram a China a conter a pandemia | Foto: Xinhua

“Uma prova histórica e extremamente difícil”: a China proclamou a vitória sobre a pandemia da Covid-19 na terça-feira (8) em Pequim, em cerimônia encabeçada pelo presidente Xi Jinping, em que os grandes homenageados foram os heróis dessa luta, os cientistas, o pessoal médico e os voluntários.

Zhong Nanshan, de 84 anos, principal especialista em doenças respiratórias chinês e que liderou a estratégia do país de combate à pandemia, recebeu a maior condecoração da China, a “Medalha da República”.

Três representantes dessa epopeia, a cientista Chen Wei, que liderou os trabalhos para a primeira vacina chinesa contra a Covid, Zhang Dingyu, diretor de um hospital de Wuhan, e Zhang Boli, especialista em medicina tradicional chinesa, foram agraciados com o título de “Heróis do Povo”, por suas contribuições para esse árduo triunfo.

Cerca de três mil representantes do pessoal da saúde e da retaguarda estavam presentes no Grande Salão do Povo. A luta de oito meses contra o coronavírus, com mais de 1,4 bilhão de pessoas envolvidas, fez da China o primeiro grande país a voltar ao normal e a primeira grande economia a retomar o crescimento, como enfatizou o jornal Global Times.

Quando se compara a situação da China em relação à pandemia, 85 mil infectados e 4,6 mil mortos, com os mais de 27 milhões de casos e 900 mil mortos no mundo inteiro, a escala dessa vitória se agiganta. Ainda estão na memória as dramáticas cenas de Wuhan, totalmente fechada para o país e o mundo, médicos e voluntários à beira da exaustão, tendo de aprender a tratar da doença, salvar os enfermos e a conter a transmissão, no auge da crise.

“Travamos uma grande batalha contra a epidemia que acabou se revelando avassaladora para todos (…) A China se tornou a primeira grande economia a retomar o crescimento durante a pandemia de Covid-19 e assumiu a liderança no mundo tanto no controle da pandemia quanto na recuperação econômica”, enfatizou Xi.

“Isto demonstrou a forte capacidade da China de se recuperar e sua enorme vitalidade”, acrescentou.

Na verdade, como no segundo trimestre a China já teve um crescimento de 3,2% em relação ao ano anterior, o país, apesar do fechamento no primeiro trimestre, sequer chegou a entrar em recessão.

Como salientou o presidente chinês, pessoas de todas as esferas da vida da China tomaram parte na “guerra popular científica” contra a pandemia, em meio a enormes dificuldades, sacrifícios e histórias tocantes – médicos, cientistas, enfermeiros, voluntários, entregadores, pessoal da limpeza, militares e militantes do Partido Comunista chinês.

Xi apontou que a China demorou pouco mais de um mês para conter inicialmente a propagação da epidemia – aliás, medidas consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como “sem precedentes”.

Para reduzir o número de novos casos domésticos diários para um dígito – acrescentou -, foram necessários cerca de dois meses. Para vencer a Covid-19 em Wuhan – o epicentro da doença – e a província de Hubei, foram três meses. Em seguida, várias batalhas permitiram aniquilar infecções surgidas nas cidades.

Xi disse que a unidade do povo chinês na guerra popular científica estava à vista no branco das batas dos médicos, no verde dos uniformes dos militares e no vermelho das roupas dos voluntários, muitos deles membros do partido.

Xi alertou contra o afrouxamento das medidas antiepidêmicas e pediu “cautela” com relação aos chamados ‘casos importados’ e aos surtos esporádicos, para que seja “completa” a vitória contra a Covid-19.

O presidente destacou que a epidemia mostrou que o socialismo com características chinesas é a garantia fundamental para resistir aos riscos e desafios, e melhorar a capacidade de governança nacional.

Xi convocou, ainda, a nação a empreender os esforços para compensar o tempo perdido na meta da redução da pobreza e para a reparação dos danos trazidos pela Covid-19. Chamou também a corrigir os elos fracos mostrados durante a crise, através do fortalecimento do sistema de saúde pública e do aprimoramento da biossegurança.

Xi também se referiu à heroica Wuhan e como a cidade foi apoiada de todas as partes da China, enquanto sua população fazia enormes sacrifícios e contribuições, sem os quais não teria sido possível a vitória nacional sobre o coronavírus.

“Passamos no teste extraordinário da história”, afirmou o presidente, saudando os compatriotas por um “feito heroico” contra a doença.

A cerimônia foi televisionada e acompanhada no país inteiro, tendo sido antecedida por um vídeo sobre Wuhan. Uma médica de lá, de sobrenome Wang, contou ao jornal chinês de língua inglesa China Daily que seu hospital reuniu a equipe médica para assistir à cerimônia pela televisão.

“A maioria do pessoal chorou, vencemos a batalha, mas raramente pudemos nos deter para olhar para o processo”, disse a médica.

“As roupas encharcadas de suor sob os trajes de proteção durante o inverno frio; o pânico desencadeado por pacientes com tosse; o desamparo dos médicos quando os pacientes morriam na frente deles; e o medo de passar o vírus para seus entes queridos são as cicatrizes que Wang e seus colegas precisam de tempo para curar”, observou o Daily.

“Nossos corações estão aquecidos, pois sabemos que é um sinal de vitória, e de que somos lembrados pelos líderes do governo e pelo povo chinês”, disse Wang.

“Colocar a vida das pessoas em primeiro lugar, solidariedade nacional, sacrifício, respeito à ciência e um senso de missão para com a humanidade”: para o presidente Xi foram estas características do espírito da China que permitiu esse resultado.

“Estarmos dispostos a fazer o que fosse preciso para proteger a vida das pessoas, acima de tudo e em primeiro lugar”, detalhou Xi, sobre as decisões tomadas pelo governo e pelo partido no momento mais difícil.

Questões que explicam a enorme diferença nos rumos tomados pela pandemia e em seu combate em outros países, de que os EUA são o exemplo mais gritante. Ou o triste espetáculo de negacionismo, charlatanismo e egoísmo visto em tantas capitais ocidentais.

Sobre isso, Xi assinalou que “solidariedade e cooperação” são “a escolha certa” para a resposta da comunidade internacional à Covid-19, enquanto o egocentrismo e a fabricação de bodes expiatórios apenas “causam dano a todos os povos”.

Xi destacou que o grande esforço em curso no mundo inteiro para deter a pandemia está demonstrando que a construção de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade é o caminho correto para superação dos desafios comuns e por um mundo melhor e mais próspero.

O presidente chinês agradeceu aos países amigos e às organizações internacionais, pelo apoio e assistência nessa hora difícil.

Conforme a pandemia ainda varre o mundo inteiro, Xi afirmou que a China seguirá empenhada em fortalecer a cooperação internacional no controle das pandemias, apoiar o papel da OMS, compartilhar com outras nações experiências de tratamento e de controle da Covid-19, e propiciar ajuda aos países mal aparelhados para lidar com o mal.

Ao encetar a recuperação econômica, a China também propiciou ao resto do mundo uma enorme quantidade de meios de combate à pandemia, tendo exportado desde o dia 15 de março 151 bilhões de máscaras faciais, 209 mil respiradores, 1,4 bilhão de vestes de proteção e 230 milhões de óculos de proteção.

Xi também reiterou a opção da China, ao buscar avançar na retomada da economia, pelo fortalecimento do multilateralismo e pelo intercâmbio econômico entre as nações, de que faz parte o esforço de reativação das cadeias de suprimentos globais prejudicadas no auge da crise sanitária.

Enquanto essa é a realidade na China, os EUA, onde foi feito tudo ao contrário, tornou-se o recordista mundial de infectados e mortos há meses, com respectivamente 6,3 milhões e 190 mil, ao mesmo tempo em que a economia ainda se arrasta, após encolher 1,3% no primeiro trimestre e 9,1% no segundo, ou seja, recessão.

O Brasil continua em segundo lugar em número de mortos, 127 mil, mas foi ultrapassado pela Índia, em infectados, com 4,2 milhões de casos. As infecções têm aumentado significativamente na Europa e há temor de uma “segunda onda”. De acordo com a OMS, mais de uma centena de vacinas estão em desenvolvimento, sendo que uma dezena delas está mais perto de completar a fase 3.

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