China: Guantánamo é “página sombria na história dos Direitos Humanos”
No 20º aniversário da instauração do campo de concentração na base dos EUA na Baía de Guantánamo, a China ecoou o clamor mundial pelo seu imediato fechamento, com o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin, afirmando que “se existe um campo detendo muçulmanos no mundo, este é a Baía de Guantánamo”. Ele classificou Guantánamo como “uma página sombria na história dos Direitos Humanos”.
“Fechem imediatamente Guantánamo e as prisões secretas no mundo inteiro”, sublinhou Wang, que apontou que as “prisões negras” dos EUA são “um forte lembrete” do terrível recorde de violações dos direitos humanos por Washington mundo afora.
A declaração é também uma resposta às cínicas acusações de Washington de que a China mantém muçulmanos uigures em campos de detenção, usadas como parte da campanha insidiosa para tentar isolar a China e atrasar seu desenvolvimento – já é a segunda maior economia do planeta -, atribuindo a Pequim aquilo que foram os norte-americanos que estiveram fazendo, à vista de todos, do Iraque ao Afeganistão, passando pela Líbia, Iêmen, Somália e Síria, nos últimos 20 anos.
Guantánamo “é apenas a ponta do iceberg” – salientou Wang – registrando, ainda, que as tropas dos EUA cometeram tortura e assassinato contra civis após invadirem o Iraque e que “o abuso de prisioneiros em Abu Ghraib chocou o mundo”.
O porta-voz chamou os EUA a parar com as atrocidades, inclusive as prisões arbitrárias e o abuso de prisioneiros, oferecer às vítimas pedido de desculpas e indenização e indiciar os responsáveis por perpetrar tortura.
Wang fez esses pronunciamentos ao comentar uma declaração de um grupo de relatores independentes nomeados pela ONU, que condenou a existência da prisão na base naval norte-americana de Guantánamo, que funciona em território ocupado a Cuba.
Agnes Callamard, relatora especial das Nações Unidas para execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias, postou que “não se trata apenas de fechar Guantánamo”.
Guantánamo “é uma mancha indelével na história dos Estados Unidos, um capítulo que agora deve fechar e nunca mais repetir”, sublinhou.
Ano após ano se sucedem os protestos, diante da Casa Branca, em que manifestantes trajados do infame macacão laranja e correntes denunciam a tortura e o arbítrio, e exigem o fechamento do campo de concentração e tortura norte-americano.
Desde 2002, 779 homens e meninos muçulmanos foram detidos em Guantánamo, quase todos sem acusação ou julgamento. Apenas nove foram acusadas ou condenadas por crimes e nove morreram atrás das grades daquela prisão, sete delas por suicídio e sem acusações formais, de acordo com os relatores de direitos da ONU. 39 permanecem presos.
Apesar dos apelos internacionais pelo fechamento do campo de concentração, na semana passada o jornal The New York Times revelou que o Pentágono está construindo ali uma nova sala secreta para realizar julgamentos, ao custo de US$ 4 milhões, sem o incômodo da presença de jornalistas ou ativistas
A manutenção do campo de concentração de “Gitmo”- como é conhecido nos EUA – custa quase meio bilhão de dólares por ano ao Pentágono.
A tenebrosa data também foi notada nos Estados Unidos, onde a principal entidade pelas liberdades civis, a ACLU, registrou que “quatro presidentes norte-americanos supervisionaram a instalação e três prometeram fechá-la” e não cumpriram.
“Cada dia em que Guantánamo permanece aberta é uma afronta aos direitos humanos, à justiça e ao estado de direito”, ressaltou a entidade.
“Hoje, 39 homens permanecem detidos indefinidamente”, observou a ACLU. “Vinte e sete nunca foram acusados de um crime, e 14 desses prisioneiros foram liberados para transferência ou libertação, alguns por anos.”
A ACLU chamou Biden a cumprir sua promessa de terminar “este capítulo vergonhoso da história americana”. O que ele poderia fazer “acabando com a detenção militar indefinida e o sistema inconstitucional de comissões militares”.
De acordo com o coronel aposentado do Exército dos EUA Lawrence Wilkerson, que serviu como chefe de gabinete do secretário de Estado da era Bush, Colin Powell, Bush, juntamente com seu vice-presidente e secretário de Defesa, Dick Cheney e Donald Rumsfeld, sabia que a maioria dos prisioneiros eram inocentes, mas os manteve presos por motivos políticos.
Após a tortura ter sido oficializada pelo governo de W. Bush, o presidente seguinte, Barack Obama, isentou os torturadores e mandantes de qualquer indiciamento. Pelo contrário, foram os denunciantes da tortura – como John Kiriakou – que foram encarcerados. E Julian Assange, o jornalista que expôs com o WikiLeaks o campo de concentração de Guantánamo, está sob ameaça de extradição para os EUA e há 1.000 dias num cárcere de segurança máxima nos arredores de Londres.
O fechamento de Gitmo também foi exigido pela deputada democrata de origem muçulmana, Ilhan Omar, que citou ainda o repúdio emitido pelo Centro de Direitos Constitucionais.
Ela compartilhou um vídeo do apresentador da MSNBC , Mehdi Hasan, com imagens do ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld defendendo a tortura em Gitmo.
Em que ele aponta que os macacões laranja de Gitmo se tornaram “um símbolo global horrível dos abusos dos direitos humanos nos Estados Unidos” e que a prisão continua sendo “uma mancha permanente em nossa consciência” e talvez “a lembrança mais dura e ocasionalmente visível do fracasso e do horror de nossa guerra ao terror”.
“Durante 20 anos, esta criação monstruosa do governo dos EUA infligiu intencionalmente sofrimento humano. A crueldade desses crimes documentados contra a humanidade é abominável, mas ninguém enfrentou ou enfrentará acusações sérias. Isso precisa mudar”, exigiu a deputada.