Carro alegórico com retrato do presidente Xi Jinping durante o desfile cívico-militar do Dia Nacional da China. (Kevin Frayer/Getty Images)

“A China socialista está de pé perante o mundo. Nenhuma força pode impedir o povo chinês e a nação chinesa de seguirem em frente”, disse o presidente Xi Jinping ao discursar da sacada em que o líder Mao Tsé-Tung proclamou a República PopularJinping expressou ainda sua profunda gratidão “a todos os antecessores revolucionários e mártires que estabeleceram feitos imortais para a independência nacional e a libertação do povo chinês”

A China celebrou 70 anos da fundação da República Popular da China neste 1º de outubro, com um grande desfile militar e civil na Praça da Paz Celestial em Pequim. Da mesma sacada em que o líder Mao Tsé-Tung proclamou a vitória da revolução em 1949, o presidente Xi Jinping reiterou que “nenhuma força pode abalar os pilares desta grande nação ou parar o progresso do povo chinês” e saudou o grande evento “que mudou completamente o trágico destino do povo pobre, fraco e intimidado da China nos últimos cem anos”, abrindo caminho ao “grande rejuvenescimento nacional” e ao socialismo com características chinesas que arrancou mais de 700 milhões de pessoas da pobreza e transformou o país na segunda maior economia do planeta, na “fábrica do mundo” e, crescentemente, em centro de excelência e inovação tecnológica.

As comemorações se estenderam ao país inteiro e entraram pela noite em Pequim. Os ex-presidentes Jiang Zemin e Hu Jintao estavam presentes na tribuna, assim como a diretora-executiva de Hong Kong, Carrie Lam. 15 mil soldados participaram do desfile, secundados por 100 mil civis escolhidos em todos os escalões da sociedade chinesa.

Como enfatizou o presidente Xi, as grandes realizações desses 70 anos “surpreendem o mundo” e são fruto do trabalho conjunto de todos os grupos étnicos chineses como “um só coração e uma só mente”. 70 salvas de canhão anunciaram o início da cerimônia. Um esquadrão de helicópteros sobrevoou a praça, conduzindo as bandeiras da China, do PC chinês e do Exército de Libertação Popular. Helicópteros de reconhecimento Z-10 e Z-19 formaram nos céus o número 70.

As comemorações ocorrem em meio à guerra comercial e tecnológica desencadeada pelo regime Trump contra a China, às provocações em relação ao princípio de “uma só China” – como visto recentemente em Hong Kong e Taiwan -, às pressões de Washington sobre a Organização Mundial do Comércio, às ameaças no Mar da China, às tentativas de retardar a Nova Rota da Seda e à desaceleração da economia global.

“A China continuará no caminho do desenvolvimento pacífico”, disse Xi em seu discurso no Dia Nacional. “Continuaremos a trabalhar com pessoas de todos os países para promover a construção conjunta de uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade”.

FORÇAS DE PAZ

Após o discurso – conciso como aquele em que Mao anunciou ao mundo o soerguimento da China – o presidente Xi passou em revista as tropas de uma limousine Hongqi (Bandeira Vermelha) de fabricação da primeira montadora chinesa. “Saudações, camarada presidente!”, responderam os soldados. Também marcharam soldados a serviço das forças de paz da ONU.

Vista parcial do desfile com a passagem das tropas femininas (Han Guan/AP)

O desfile militar serviu para mostrar ao mundo que a China amante da paz e da cooperação mutuamente benéfica não descura da dissuasão e da segurança. Quase 40% das modernas armas foi apresentado pela primeira vez. Como o DF-17, o míssil lançador de planador hipersônico.

Também os mísseis intercontinentais DF-41, que portam dez ogivas nucleares, com alcance de 15 mil quilômetros e que podem alcançar os EUA em 30 minutos. Os mísseis JL-2, que são disparados de submarinos e alcance de 7 mil quilômetros, os DF-31A e os DF-5B.

Os mísseis intercontinentais DF-41, de 15 ogivas e alcance de 15 mil km, foram mostrados pela primeira vez pela China (Han Guan /AP)

160 aeronaves participaram do ato, incluindo os novos bombardeiros estratégicos H-6N e os caças furtivos J-20. Foram exibidos ainda tanques, lançadores móveis e novos drones.

A parada civil contou com setenta carros alegóricos, que representavam episódios dessa longa trajetória de renascimento da China – dos jovens trajados como soldados do exército vitorioso na guerra civil contra o Kuomitang, aos Jogos Olímpicos de 2008, passando pelas homenagens a Deng Xiaoping, a exaltação ao “futuro de Hong Kong” e feitos como a exploração espacial e o primeiro quebra-gelo chinês. Ainda, as bicicletas, tão características de uma fase anterior do desenvolvimento chinês.

Os participantes mostravam enorme entusiasmo, cantando e portando bandeiras. 70 mil balões foram lançados aos ares. À noite, a festa continuou na capital chinesa, com fogos de artifício e efeitos especiais para a comemoração no escuro, como dançarinos e apresentadores vestidos com roupas fluorescentes.

PRONUNCIAMENTO

Em seu discurso, o presidente Xi expressou sua profunda gratidão “a todos os antecessores revolucionários e mártires que estabeleceram feitos imortais para a independência nacional e a libertação do povo, bem como para a prosperidade e felicidade do país”. Xi também manifestou felicitações calorosas “ao povo de todas as etnias e compatriotas patrióticos em território nacional e no exterior” e seus sinceros agradecimentos “aos amigos de todo o mundo que se preocupam e apoiam o desenvolvimento da China”.“Há 70 anos, o camarada Mao Tsé-Tung declarou solenemente a fundação da República Popular da China, e o povo chinês ergueu-se”, assinalou. “Nenhuma força pode abalar o status da nossa grande pátria, e nenhuma força pode parar o progresso do povo chinês e da nação chinesa”, enfatizou.

Xi convocou a todos a “aderir à liderança do Partido Comunista da China, defender a posição do povo, defender o caminho socialista com características chinesas, implementar plenamente a teoria básica do partido, a linha básica e estratégia básica, bem como satisfazer constantemente o desejo da população por uma vida melhor, e constantemente criar uma nova grandeza histórica”.

O presidente conclamou a perseverar “na política de ‘reunificação pacífica e um país, dois sistemas’, manter a prosperidade e a estabilidade a longo prazo, promover o desenvolvimento pacífico das relações entre os dois lados do Estreito de Taiwan, unir todos os chineses e continuar a lutar pela plena reunificação da pátria”.

“No trajeto a seguir, devemos aderir ao caminho do desenvolvimento pacífico, prosseguir com a estratégia de abertura de benefício recíproco, e continuar a trabalhar com os povos de todo o mundo para promover a construção de uma comunidade de destino compartilhado da humanidade”.

“O Exército de Libertação Popular e a Força da Polícia Armada devem sempre manter a natureza, o propósito e a missão das forças populares, e salvaguardar resolutamente a soberania nacional, segurança e os interesses de desenvolvimento, além de salvaguardar resolutamente a paz mundial”.

“O passado da China foi escrito nos anais da humanidade. O presente da China está sendo construído pelas mãos de milhões de pessoas. O futuro da China será certamente melhor. Todo o Partido, todo o exército e o povo de todos os grupos étnicos devem unir-se mais estreitamente. Não devemos esquecer a nossa essência, ter em mente a nossa missão, continuar a consolidar e desenvolver a nossa República Popular, e continuar a lutar pela realização da meta dos “dois centenários” e realizar o sonho chinês do grande rejuvenescimento da nação chinesa”.

E concluindo: “Viva a grande República Popular da China! Viva o grande Partido Comunista da China! Viva o grande povo chinês!”.

PROGRESSO

Nos últimos dez anos, a China foi o motor do crescimento no mundo, sendo responsável por 30% dessa taxa, e está a caminho de ser a maior economia do planeta. Entre 2007 e 2018, o PIB chinês quadruplicou. Desde a política de Reforma e Abertura de Deng Xiaoping, a China cresceu a uma taxa de 10,1% ao ano entre 1981 e 2001 e promoveu a maior urbanização já vista no mundo – na época da revolução, mais de 80% da população residia no campo.

Enormes investimentos foram realizados em infraestrutura, como atestam o maior porto do mundo (Xangai), o maior aeroporto do planeta (Pequim), a maior usina hidrelétrica mundial (Três Gargantas) e a maior malha de trens de alta velocidade do mundo.

Também tem investido na alta tecnologia, de que as redes de 5G da Huawei são a mais conhecida expressão, com projetos que vão da computação quântica aos veículos autônomos, engenharia genética e inteligência artificial.

Em comparação com 1949, a expectativa média de vida do povo chinês subiu de 35 para 77 anos em 2018. De uma taxa de analfabetismo de 80%, a China saltou para quase uma em cada três pessoas com um diploma do ensino médio ou acima.

Nos últimos dez anos, o índice de Gini passou de 0,49 em 2008 para 0,40 em 2018. O PIB per capita atingiu 64.644 yuan (cerca de 9.624,8 dólares) em 2018, mais de 500 vezes o de 1949 – tornando factível alcançar a meta de um país moderadamente próspero até 2020.

Com 1,4 bilhão de habitantes, o país tinha 16,6 milhões de pessoas rurais vivendo abaixo da linha de pobreza nacional no final de 2018 e se prepara para acabar com a pobreza absoluta até 2020.

Nesse processo, a China também se tornou o maior parceiro comercial do Brasil. Só no ano passado, quase 22% de todas as exportações brasileiras foram para a China. E o saldo é amplamente favorável ao Brasil (+ US$ 29,5 bilhões no ano passado), enquanto que no comércio com o segundo maior parceiro, os EUA, o Brasil tem déficit. Nos últimos 15 anos, os investimentos chineses no Brasil alcançaram a faixa de US$ 80 bilhões.

________________________