Local do lançamento da Shenzhou-12 com tripulantes para avançar construção da estação espacial

A China lançou com sucesso a espaçonave tripulada Shenzhou-12, enviando três astronautas ao espaço na manhã desta quinta-feira (17).

O foguete Longa Marcha-2F Y12, carregando a espaçonave com os astronautas Nie Haisheng, Liu Boming e Tang Hongbo a bordo, decolou às 9h22 (22h22 de quarta no horário de Brasília) do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, no noroeste da China.

Enquanto os três astronautas da Shenzhou-12 se moviam com sucesso para o módulo central Tianhe às 18h48 de quinta-feira, após a atracar em órbita de forma rápida e automatizada, o povo chinês saudava a entrada em operação de sua própria estação espacial pela primeira vez na história.

Cerca de 573 segundos após a decolagem, a nave separou-se do foguete e entrou em sua primeira órbita planejada. Mais duas órbitas e se colocou a uma distância de 50 quilômetros da espaçonave e deu início aos primeiros movimentos rumo à atracação, um procedimento totalmente automatizado.

Entre os objetivos dos astronautas, a realização de atividades de complemento da instalação de equipamentos para o pleno funcionamento da nova estação cujo módulo central, Tianhe (“Harmonia celeste”, em chinês), foi enviado ao espaço em abril. Após a chegada da nave Shenzhou (Nave Divina), a estrutura agora é formada por um complexo de três partes, que inclui ainda a nave de carga Tianzhou-2, que chegou ao local em 30 de maio.

“Precisamos estabelecer nossa nova base no espaço e testar uma série de tecnologias. Portanto, a missão é difícil e desafiadora. Acredito que com nós três trabalhando juntos, realizando operações completas e precisas, podemos superar nossos desafios. Temos confiança para cumprir a missão”, afirmou Nie Haisheng em entrevista coletiva.

Nie Haisheng, de 56 anos, é o capitão e já participou de dois voos espaciais, incluindo um ao protótipo da estação espacial Tiangong-1 em 2013. Liu Boming, de 54 anos, e Tang Hongbo, 45, integrantes da Força Aérea, são os outros dois tripulantes da Shenzhou-12. Liu participou de uma missão em 2008.

Após o acoplamento da Shenzhou-12 com o módulo central, os taikonautas realizaram uma série de testes, incluindo testes de vedação e travamento, detecção de vazamentos, equilíbrio de pressão e purificação do ar, para se instalarem na ‘nova casa’. Na sexta-feira, eles devem abrir a porta da nave de carga Tianzhou-2 e desembalar os suprimentos que chegaram antes.

O lançamento da nave Shenzhou-12 com tripulação é a terceira das 11 missões planejadas pela China para concluir a construção de sua estação espacial até o final de 2022. As missões compreendem três lançamentos do módulo central e duas cápsulas de laboratório da estação espacial, quatro voos de naves de carga e quatro missões tripuladas.

A combinação do módulo central Tianhe e do navio de carga Tianzhou-2 está operando atualmente em uma órbita quase circular a aproximadamente 390 km acima da Terra.

O foguete Longa Marcha-2F, com uma torre de escape no topo, é o foguete mais seguro e confiável da China, de acordo com seu projetista-chefe, Zhang Zhi.

Com 58,3 metros de altura, o foguete tem dois estágios principais e quatro propulsores. Pode enviar cargas úteis de até 8,6 toneladas para a órbita baixa da Terra.

Ele fez seu voo inaugural em 20 de novembro de 1999, lançando a primeira nave espacial de teste da China, Shenzhou-1, sem tripulação. Em 15 de outubro de 2003, ele levou o primeiro astronauta do país, Yang Liwei, ao espaço em uma missão histórica, tornando a China o terceiro país do mundo capaz de enviar astronautas ao espaço.

A espaçonave Shenzhou-12 consiste em uma cápsula de retorno, uma cápsula orbital e uma cápsula de propulsão.

No topo da nave está a cápsula orbital. Com um mecanismo de encaixe e ponto de encontro em sua extremidade dianteira, ela se conecta ao módulo central Tianhe.

Além de servir de passagem para os astronautas entrarem na estação espacial, é também um depósito. Tem uma capacidade de carga de 300 quilos e carrega algumas amostras para experimentos científicos, alimentos e lanches, bem como vegetais e frutas frescas para os astronautas, de acordo com Gao Xu, vice-diretor projetista da espaçonave Shenzhou-12 na Academia de Tecnologia Espacial da China.

A seção intermediária é a cápsula de retorno, a única parte que retornará à Terra. É também a “cabine” dos astronautas.

Com o formato de um grande sino, a cápsula é equipada com o computador de controle e equipamento de comunicação, servindo como centro de controle de toda a espaçonave, informou Gao.

A cápsula de propulsão está na parte inferior. Instalado com um sistema de propulsão, fonte de alimentação e equipamento de controle térmico, fornece à espaçonave recursos de energia, potência e comunicação.

“O subsistema de propulsão é composto por dezenas de motores para fornecer energia para a espaçonave. O subsistema de energia é alimentado principalmente por painéis solares e baterias. O ar de que os astronautas precisam em órbita é transportado em cilindros pela cápsula”, disse Cao Junsheng, vice-designer-chefe dos sistemas Shenzhou-12 da Academia de Tecnologia Espacial de Xangai.

A Estação Espacial, conhecida em chinês como Tiangong (“Palácio Celestial”), tem vida útil estimada em 10 a 15 anos e opera em órbita terrestre baixa (entre 340 e 450 km de altura). O comportamento da estação é similar à russa “Mir”, que funcionou entre 1986 e 2001. A estrutura pesa cerca de 100 toneladas.

A China precisou desenvolver sua própria estação espacial após ter sua participação na ISS (a estação espacial internacional) vetada pelos EUA nos anos 2000, sob o argumento de que o país não tinha tradição de tecnologia espacial. O que provavelmente foi o primeiro ‘tiro’ da guerra tecnológica norte-americana contra o desenvolvimento chinês. A ISS está no estágio final de sua vida útil, prevista para durar até 2024.

O governo chinês tem investido na pesquisa científica nesse importante setor. Em maio, a China enviou um robô para explorar Marte. Pesando mais de 200 kg, o “Zhurong” está equipado com quatro painéis solares para o fornecimento de energia elétrica e deve operar por três meses. Também está equipado com câmeras, um radar e um laser que permitirá estudar o ambiente e analisar a composição das rochas marcianas.

China e Rússia acabam de anunciar o projeto de estabelecimento, na Lua, de uma estação científica, aberta a todos os países. Em 2019, a China se tornou o primeiro país a pousar uma nave no lado oculto da Lua, com a sonda automática Chang’e 4 e, no ano passado, com a Chang’e 5, pela primeira vez em 44 anos, uma carga de pedras da Lua foi trazida para a Terra, depois do pouso bem sucedido.