China denuncia “ultrajante violência racista contra asiáticos” nos EUA
A violência contra os asiáticos nos EUA é “ultrajante e angustiante”, afirmou na quinta-feira (18) o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Zhao Lijian, que acrescentou que a China está “profundamente preocupada”.
As autoridades norte-americanas deveriam “tomar medidas práticas para resolver questões de racismo e discriminação racial no país e salvaguardar e proteger seriamente a segurança e os direitos e interesses legítimos dos cidadãos chineses nos Estados Unidos”, sublinhou Zhao numa conferência de imprensa diária.
Três ataques armados em série a salões de massagem em Atlanta, no estado da Geórgia, na terça-feira causaram o assassinato de seis mulheres de ascendência asiática no mais recente episódio da violência que só tem crescido desde que o governo Trump difundiu a falsidade do “vírus chinês” e empreendeu uma campanha para apresentar os chineses como ladrões da prosperidade norte-americana e espiões, que acabou tornando todos os asiáticos em alvos potenciais.
A chancelaria sul-coreana disse que quatro das vítimas assassinadas eram mulheres de ascendência coreana, enquanto duas das outras vítimas pareciam ter nomes chineses. Nos ataques, também foram mortos uma mulher e um homem brancos.
Sem nomear ninguém em particular, o porta-voz Zhao denunciou que políticos norte-americanos “instigaram o racismo e o ódio, e toleraram a discriminação contra estudantes chineses nos Estados Unidos”.
Uma entidade voltada à proteção dos asiático-americanos, a Stop AAIP Hate, denunciou que no período de março a dezembro do ano passado foram quase 3 mil os incidentes que compilou, que são apenas uma parte de toda a brutalidade desencadeada.
O suspeito dos tiroteios, Robert Aaron Long, um jovem cristão fanático por armas, já foi preso, com a polícia alegando que o ataque não teve motivação racial e o alvo seria “o vício do sexo”.
Outros episódios chamaram a atenção nesta semana. Em San Francisco, na quarta-feira uma chinesa idosa de 76 anos foi agredida gratuitamente por um indivíduo, mas se defendeu com um pedaço de pau que encontrou, e o agressor acabou preso e teve de ser levado de maca. A cena, que foi flagrada por um jornalista, viralizou.
O vídeo mostra essa senhora, com o rosto machucado, segurando uma vara na mão, soluçando e repetindo com raiva em chinês: “Esse vagabundo, ele me bateu”. Com a filha traduzindo suas palavras, Xiao Zhen Xie, relatou que estava esperando o semáforo quando o homem de repente deu um soco na cabeça dela sem provocação.
Na terça-feira, o departamento de polícia da cidade informou a prisão de um suspeito de 32 anos em duas agressões não provocadas que aconteceram na segunda-feira. A primeira vítima foi um homem de 64 anos não identificado, cujo rosto foi cortado com uma faca. O outro era um homem de 59 anos, de ascendência chinesa e filipina, que foi repetidamente atingido na cabeça e ficou gravemente ferido, segundo a polícia e a mídia local .
Em Nova York, uma mulher acusada de dizer a um casal asiático, em Manhattan, para “voltar para a China” foi identificada como sendo a filha do falecido senador democrata Daniel Patrick Moynihan.
Maura Moynihan admitiu à emissora de tevê WABC tratar-se da mulher do vídeo, que foi filmado durante um confronto com Dan Lee, de 31 anos, no domingo passado. O homem estava na companhia da mulher e ambos referem que a discussão começou quando Maura, de forma gratuita, os mandou de “volta para a China”.
Lee reagiu, chamando-a de “racista” e ainda foi acusado por Moynihan de a “estar agredindo”. Em comunicado, a xenófoba alegou que não teve “nenhuma atitude preconceituosa” e disse com empáfia que passou grande parte da sua vida “trabalhando com e para o povo asiático, mais particularmente na luta pelos direitos humanos básicos do povo tibetano na sua luta contínua contra a China comunista”, de acordo com o jornal New York Post.
Apesar de em seu discurso à nação da semana passada Biden ter condenado “crimes de ódio violentos contra asiático-americanos que foram atacados, perseguidos, acusados e transformados em bodes expiatórios”, a verdade é que seu governo mantém a postura anti-China de Trump, continua a politizar o vírus e a jogar a culpa sobre Pequim, ainda que de uma maneira menos tosca.
A mensagem de seu secretário de Estado, Antony Blinken, é essencialmente a mesma de Pompeo/Trump, de que a culpa pela crise catastrófica nos EUA é da China e de que o progresso chinês foi obtido tirando proveito dos norte-americanos.
Não há nenhum sinal de que a paranoia extrema em relação a tudo que venha da China vá retroceder no atual governo. Pompeo chegou a afirmar que estudantes chineses que estudavam nos EUA haviam sido enviados pelo Partido Comunista. As acusações também tiveram como alvo acadêmicos chineses.
O que não augura nada de bom quanto à redução da xenofobia contra os asiáticos nos EUA, ainda mais em um país onde o racismo tem raízes tão fundas.
Um sintoma disse é que o xerife que capturou o assassino serial de Atlanta e que surpreendentemente chegou a dizer que Long teve “um dia ruim”, foi flagrado pelo portal Buzzfeed, que exibiu postagem dele no Facebook em que aparece promovendo camisetas com uma frase que descreve a covid-19 como um “vírus importado” da China. Na noite de quarta-feira, buquês de flores recordavam a tragédia na porta do Aromatherapy Spa, um dos salões atacados, cujas placas de “aberto” e “boas-vindas” ainda estavam acesas. “No ano passado, testemunhamos racismo, discriminações e um ressurgimento da violência contra os americanos de origem asiática, considerados bodes expiatórios da pandemia”, lamentou Sam Park, representante da comunidade local. De acordo com a Stop AAPI Hate, em 70% dos casos a agressão foi verbal, mas as agressões físicas já chegam a 10% – o que se aproxima dos 300 casos.