Bandeiras dos EUA são frequentemente vistas nos protestos de Hong Kong

O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, repeliu a ingerência acintosa do Congresso dos EUA nos assuntos internos da China e advertiu que o objetivo da assim chamada ‘Lei dos Direitos Humanos e Democracia de Hong Kong’ aprovada em Washington é “semear o caos ou inclusive destruir Hong Kong”.

A lei, que já havia sido aprovada na Câmara em outubro, foi endossada pelo Senado na terça-feira (19) e terá ainda de ser assinada pelo presidente Trump.

A China reiterou que “nunca permitirá o prejuízo à prosperidade e estabilidade de Hong Kong, nem ao princípio de ‘um país, dois sistemas’” e acusou Washington de mandar “o sinal errado” para turbas violentas.

Na Câmara, o projeto foi aprovado por 471 a 1 e, no Senado, por unanimidade, numa expressão da histeria dentro do establishment de Washington contra o incontível desenvolvimento da China, visto como um desafio ao hegemonismo dos EUA e sua decrépita ordem unilateral.

Pela lei norte-americana, o Congresso terá anualmente que revisar o estatuto econômico especial de Hong Kong em vigor e autoridades chinesas consideradas por Washington supostamente “violadoras” de direitos poderão ser sancionadas, em mais um exemplo da arrogância da “jurisdição dos longos braços” dos EUA sobre tudo e sobre todos no planeta.

A versão votada na Câmara incluiu uma moção de congratulação com o governo canadense por ter sequestrado a diretora da Huawei, Meng Wanzhou, o mais conhecido episódio da guerra de Washington à alta tecnologia da China.

Durante a cúpula dos BRICS em Brasília, o presidente chinês Xi Jinping havia dito que restaurar a ordem em Hong Kong era a questão mais importante agora e que a determinação da China de implementar o princípio de “um país, dois sistemas” é “inabalável”.

A mídia chinesa repudiou a ingerência norte-americana, que o China Daily classificou de “tentativa vã e fadada ao fracasso” e exigindo a “retirada da mão negra” de Washington por trás dos confrontos em Hong Kong.

A agência de notícias Xinhua destacou que “por trás da fachada de buscar direitos humanos e democracia para o povo de Hong Kong, eles estão realmente tentando conter a China”.

Mas, como enfatizou, “eles escolheram a luta errada: Hong Kong faz parte da China”.

“Os EUA nunca defenderam Hong Kong quando o local foi colonizado pela Grã-Bretanha e privado de direitos humanos e liberdade” – destacou o Daily -, mas agora se dedicam a fazer observações “irresponsáveis e difamatórias” sobre Hong Kong.

Quem discordar ou insistir na acusação de “uso excessivo de força”, é só comparar o total de vítimas em Hong Kong em seis meses de protestos diários – duas, e na última semana -, com as dezenas de mortes em protestos no Equador, Chile, Iraque, Bolívia e outros países em um intervalo de tempo muito menor.

Além de que – como registraram os jornais chineses – “ao lidar com manifestações em casa o governo dos EUA autoriza a polícia a reprimir os manifestantes sem piedade”. Que o digam imigrantes, negros ou o pessoal do Occupy Wall Street.

Em suma, mais uma vez Washington usa padrões duplos para se intrometer nos assuntos internos de outros países e, apesar de seu péssimo histórico em matéria de direitos humanos – guerras, bombardeios, golpes, invasões, tortura, sanções -, vive hipocritamente dando preleções a todos sobre o tema.

A aprovação da lei ocorreu uma semana após as turbas violentas causarem a primeira vítima fatal, um faxineiro de 70 anos morto com uma tijolada por filmar com o celular a depredação de uma estação de metrô. Um trabalhador da construção civil está hospitalizado em estado crítico, por ter se oposto ao vandalismo em outra estação de metrô, e foi encharcado com um líquido inflamável e incendiado.

Como disse um articulista, “é ao ato hediondo de incendiar um homem o que a presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, quis se referir quando disse que os protestos em Hong Kong são ‘uma bela vista de se ver’?”

A Xinhua denunciou como nos últimos meses em Hong Kong as pessoas vindas do continente e que falam mandarim, ou que têm uma visão diferente daquela dos manifestantes, foram humilhadas e agredidas nas ruas, nos campi universitários e no aeroporto.

TAREFA PRIMORDIAL

Declarações provocativas do secretário de Estado Mike Pompeo também foram repelidas pelo porta-voz do ministério do Exterior da China, Geng Shuang, que ressaltou o apoio de Pequim às autoridades de Hong Kong.

“A escalada violenta afeta severamente a segurança pública, a lei e a ordem social. É um desafio ao princípio de um país, dois sistemas e empurra Hong Kong para uma situação de extremo perigo. Frear a violência e restaurar a ordem é uma tarefa primordial”, enfatizou.

Geng acrescentou que a China tomará medidas efetivas para “revidar resolutamente”, se não houver recuo dos aprendizes de feiticeiro.

Na ausência do embaixador norte-americano em Pequim, Terry Brandstad, foi chamado à chancelaria o encarregado de negócios William Klein. A quem vice-ministro chinês do Exterior, Ma Zhaoxu, expressou “profunda indignação” contra a lei norte-americana.

Segundo a mídia chinesa, a famigerada lei significa que Washington decidiu não esconder mais seu patrocínio das claques anti-Pequim e de seus peões em Hong Kong, o que antes negara peremptoriamente.

Os protestos foram precedidos pela ida de uma delegação de oposicionistas anti-China aos EUA, para reuniões com o secretário de Estado Mike Pompeo e com a presidente da Câmara, Nancy Pelosi. A eclosão dos protestos coincidiu no tempo com a ofensiva do regime Trump na guerra de tarifas contra a China.

Assim que os distúrbios aumentaram de amplitude, tornaram-se conhecidas também as vinculações de magnatas chineses com Washington e até com o ex-guru de Trump, Steve Bannon.

O que só ficou mais realçado pelo flagra à luz do dia de uma conselheira da CIA – já vista em outros buracos quentes como Mossul – com os ‘líderes das mobilizações’.

Vários desses ‘líderes’ haviam surgido na fracassada ‘revolução dos guardas-chuvas’ de 2014 – que a BBC, na maior indiscrição, revelou ter sido preparada com mais de um ano de antecedência por uma fachada da CIA.

Além de servir como elemento de pressão na guerra comercial contra a China, o caos em Hong Kong serve para estigmatizar, em Taiwan, onde haverá eleições no próximo ano, a política de reunificação da nação chinesa, a ‘um país, dois sistemas”.

Mas ninguém foi tão longe quanto o senador republicano Ted Cruz, que em outubro apareceu em Hong Kong fantasiado de black block, todo trajado de preto em apoio aos radicais. Em recente postagem, ele chamou Hong Kong de “a nova Berlim” – explicitando o que comentaristas já tinham denunciado, de que o caos era para criar uma barreira entre o porto e o continente.

Aliás, sua presença ali lembrou a aparição do senador John McCain na Praça Maidan, Ucrânia, em 2014, distribuindo rosquinhas e notas de cem dólares.

Outros próceres do império fizeram o melhor que podiam. Coonestado pelo democrata Bob Ménendez, o republicano Marco Rubio, um dos mais ativos promotores de golpes na América Latina e notório gusano, asseverou aos pimpolhos mimados de Hong Kong “que não ficaremos parados” enquanto Pequim “minar a vossa autonomia”.

Na votação no Senado, não faltaram as mais descabeladas declarações se arvorando a falar em nome “das aspirações do povo de Hong Kong” – o que deve ser uma referência àqueles debilóides carregando uma faixa “Presidente Trump, por favor liberte Hong Kong”, em protesto ornado com bandeiras dos EUA e cânticos “Glory to Hong Kong” – que são a versão local dos nazis da Praça Maidan entoando “Glory to Ukraine”.

Ou diante do consulado britânico, cantando “God Save the Queen”, se roçando na Union Jack e lamentando que a colônia arrancada à China a canhonaços durante a guerra para impor o tráfico de ópio esteja de volta à pátria-mãe.

MANIPULAÇÃO

Quanto ao pretexto inicial para os confrontos, a ampliação da lei de extradição, havia sido motivada pelo assassinato de uma mulher jovem em viagem a Taiwan pelo namorado, que por não haver a legislação de extradição, ficaria impune. O assassinato causara enorme comoção em Hong Kong.

Parte da população foi levada a acreditar que isso poria em riscoa sobrevivência de Hong Kong, resultando nas manifestações que foram se esvaziando após a retirada da lei, até só restarem os black blocks ensandecidos – mas paparicados pela mídia ocidental.

Senado e Câmara dos EUA também votaram uma lei ridícula, para proibir a venda à China de gás de pimenta, gás lacrimogêneo, canhões de água, algemas e balas de borracha de fabricação norte-americana (se é que eles ainda estão fabricando isso e não importando da China ou do México).