Os principais veículos de comunicação do mundo propiciam diariamente uma enxurrada de informações – e fazem proselitismo – sobre essas duas vacinas em desenvolvimento, a passo que desinformam, tergiversam e omitem experiências promissoras como são as das vacinas chinesas, a russa e a cubana, escreve o jornalista e dirigente comunista José Reinaldo Carvalho.

Por José Reinaldo Carvalho*

O mundo se aproxima de maneira assustadora de 30 milhões de casos da Covid-19, e de um milhão de mortos. Neste sábado (4), os dados oficiais da Organização Mundial de Saúde indicam 26.622.706 de casos confirmados e 874.708 mortes.

Em tal cenário, passa ao primeiro plano das medidas de prevenção, controle e combate à doença a descoberta e a produção em larga escala de uma vacina que seja a um só tempo segura e eficaz, com capacidade plena de imunização.

A mobilização para alcançar tal objetivo deve ser total. Governos, organizações multilaterais, a comunidade científica, agentes econômicos, a sociedade em geral devem mancomunar esforços para cumprir o sagrado dever da defesa da vida. Nesse quadro, merecem condenação veemente ações negacionistas de governantes, baseados em concepções retrógradas e obscurantistas que de alguma maneira opõem restrições à vacinação, como fez o ocupante do Palácio do Planalto.

Contra essas concepções e atitudes, valem a ciência e a cooperação internacional. É o que salva vidas, enquanto à retórica negacionista está reservado o lixo da história.

“Neste momento, 172 economias estão envolvidas em conversas para potencialmente participar do Covax, uma iniciativa global que tem o objetivo de trabalhar com fabricantes de vacinas para fornecer aos países em todo o mundo o acesso equitativo a vacinas seguras e eficazes assim que licenciadas e aprovadas, assinala um informe da Opas” Brasil, vinculada à Organização Mundial de Saúde.

O mundo tem hoje em desenvolvimento cerca de 170 candidatas a vacina contra a Covid, 24 delas em fase de testes clínicos em humanos. São dados promissores, que despertam esperança e confiança. Há uma fundada expectativa de que o aziago ano de 2020 termine com algumas dessas vacinas já aprovadas e em condições de distribuição maciça. Entre estas, destacam-se as vacinas chinesas, a russa e a cubana, um fase inicial de desenvolvimento.

Em um mundo globalizado, marcado por feroz competição de mercados e por hegemonia, a corrida pela vacina é parte integrante do cenário geopolítico.

Esta corrida vem desde janeiro, quando apareceram as primeiras mortes e os casos de infecção pelo novo coronavírus se multiplicaram e cresceram em flecha.

Os Estados Unidos difundem que sua vacina ficará pronta no mês de outubro. De olho na reeleição, Donald Trump promete valer-se da capacidade tecnológica da gigante farmacêutica Pfizer para promover a vacinação da população estadunidense. A empresa, por seu turno, apresta-se a comparecer no mercado e ganhar bilhões de dólares com a venda da vacina.

No vértice do sistema capitalista, outra vacina que aparece com perspectivas de sucesso imediato é a desenvolvida em conjunto pela Universidade de Oxford e a farmacêutica Astrazeneca. O instituto científico brasileiro Fiocruz tem um convênio para a produção desta vacina em nosso país.

Os principais veículos de comunicação do mundo propiciam diariamente uma enxurrada de informações – e fazem proselitismo – sobre essas duas vacinas em desenvolvimento, a passo que desinformam, tergiversam e omitem experiências promissoras como são as das vacinas chinesas, a russa e a cubana.

Apenas na sexta-feira (4), após a publicação de um estudo na renomada revista científica Lancet, a vacina russa Sputnik V ganhou “foro de cidadania” global entre as vacinas candidatas, segundo esses veículos.

A revista reconheceu que a vacina russa induziu resposta imune e não teve efeitos adversos. Mesmo assim, a cobertura dos meios de comunicação brasileiros, principalmente os canais de TV abertos e fechados, demonstraram má vontade, apontando mais lacunas do que os aspectos comprovadamente positivos da Sputnik V. Os resultados dos estudos preliminares apontam para o avanço da pesquisa e dos ensaios clínicos, que entram em sua fase 3, que incluirá testes clínicos com mais de 40 mil voluntários, 10 mil dos quais no Brasil, a partir de convênio com o governo do Paraná.

O país que mais avançou até agora na pesquisa e produção da vacina contra a Covid foi a China. Quatro vacinas chinesas estão na terceira fase de testes clínicos internacionais, uma parte destes também no Brasil, a partir de uma parceria entre a farmacêutica chinesa Sinovac-Biotech com o Instituto Butantan, de São Paulo.

Desde o mês de julho, o país asiático iniciou oficialmente o uso de emergência de duas vacinas contra a Covid, o que é um indicador de sua segurança e eficácia.

As expectativas da humanidade para com a vacina chinesa se relacionam não apenas com as possibilidades de êxito no seu desenvolvimento e produção, mas também com o acesso, que será facilitado. O presidente chinês Xi Jinping prometeu solenemente durante a 73ª conferência da Organização Mundial de Saúde, em maio, que a vacina chinesa será “bem comum de toda a humanidade”.

Merece ainda destaque o anúncio feito nos últimos dias dos êxitos de Cuba no desenvolvimento da vacina contra a Covid, já denominada Soberana 01, que entrou na primeira fase de testes clínicos. É a vacina mais adiantada na região da América Latina e Caribe, que poderá resultar não somente na imunização da população da ilha, mas numa contribuição no combate à Covid em toda a região.

Assim, China, Cuba e Rússia, três países que se destacam no cenário internacional pela defesa que fazem da autodeterminação das nações e povos, ao obterem êxitos com a produção da vacina ajudam a humanidade a vencer o transe que está vivendo.

 

*Jornalista, editor da página Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB