China critica EUA por desatar corrida armamentista no Pacífico
A China condenou a promoção da corrida armamentista no Oceano Pacífico após o anúncio pelo presidente dos EUA, Joe Biden, o primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson, e o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, de um “acordo de trilateral” denominado AUKUS.
O acordo, que visa reforçar o belicismo na região ou, nas palavras deles, “fortalecer as capacidades navais na região”, inclui municiar a Austrália com submarinos norte-americanos de propulsão nuclear. Tais naves devem “patrulhar” a região dos Oceanos Índico e Pacífico.
Esse envolvimento Estados Unidos, Grã-Bretanha e Austrália em termos de submarinos nucleares “mina seriamente a paz e a estabilidade regionais, intensifica a corrida armamentista e compromete os esforços internacionais de não proliferação nuclear”, afirmou o porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian, denunciando, nesta quinta-feira (16), a operação realizada no marco dessa nova aliança.
O diplomata chinês discordou da suposição de que os submarinos utilizariam a energia nuclear só para sua propulsão e acusou os três países de exibir uma “mentalidade de guerra fria” e ameaçar com armas nucleares para fins geopolíticos.
Zhao considerou que a aquisição de submarinos dos EUA contradiz os compromissos da Austrália sobre a não proliferação nuclear.
Um especialista militar chinês que pediu anonimato disse à agência de notícias Global Times que “no momento, apenas Estados com armas nucleares têm submarinos nucleares”. Para ele um submarino nuclear, como os que os EUA farão chegar à Austrália, tem a capacidade de “lançar um ataque nuclear de segundo turno em uma guerra nuclear. Então, quando a Austrália adquirir tal armamento e tecnologia, o país representará potencialmente uma ameaça nuclear para outros países, porque é fácil para os EUA e o Reino Unido implantar armas nucleares e mísseis balísticos lançados por submarino nos submarinos australianos se eles acreditarem que é necessário, e as promessas de Biden e Morrison de ‘não buscar armas nucleares’ não têm sentido. “
Alguns estrategistas e políticos australianos também compartilham preocupações semelhantes. O analista de defesa e estudos estratégicos da Australian National University, Hugh White, disse à rádio ABC na quinta-feira que a questão do submarino nuclear “é um problema muito grande, cheio de riscos e mudanças na forma como a Austrália aborda a região”.
White disse que isso seria visto como mais uma prova de que a Austrália se aliou aos EUA contra uma China em ascensão e que o país não ganha nada com isso.
Veto da Nova Zelândia
A Nova Zelândia, um dos membros da Aliança Cindo Olhos (Five Eyes Alliance), composta ainda por Austrália, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos, também está ciente do perigo do novo pacto AUKUS e quer ficar longe dele. A primeira-ministra Jacinda Ardern anunciou que vetará a entrada em suas águas territoriais de futuros submarinos nucleares australianos, como parte da política antinuclear adotada na década de 1980, informou o Sydney Morning Herald, na quinta-feira (16).
O anúncio também teve uma rápida reação da França, que negocia uma venda de submarinos convencionais para a Austrália. O ministro das Relações Exteriores Jean-Yves Le Drian, criticou os Estados Unidos, chamando a aliança contra a China de “brutal”, ao compará-la com as ações do ex-presidente Donald Trump.
“Esta decisão unilateral, brutal e imprevisível é muito semelhante ao que fez o presidente Trump”, denunciou Le Drian em entrevista à estação France Info, insistindo que “isso não é feito entre aliados” e terá consequências. “A nossa posição é de grande firmeza, de incompreensão e de pedir esclarecimentos”, acrescentou.