China cria estatal para reorganizar e otimizar produção de terra rara
A China decidiu reorganizar e otimizar a produção de terras raras – matéria-prima indispensável para fabricação de itens de alta tecnologia – criando uma gigante estatal do setor, através da fusão das várias estatais existentes, e gerando ganhos de escala.
As terras raras são um conjunto de 15 elementos químicos, normalmente encontrados na natureza misturados a minérios, de difícil extração – daí o nome -, mas com características peculiares, como magnetismo intenso e absorção e emissão de luz.
Propriedades especiais que fazem com que sejam usadas numa infinidade de aplicações de alta tecnologia, como lasers, superímãs – presentes nos discos rígidos de computadores e nos motores de carros elétricos e de geradores eólicos -, lâmpadas de LED e catalisadores usados na separação de componentes do petróleo. O que leva alguns a chamá-las de “ouro do século 21”.
A China é o principal produtor de terras raras do mundo (mais de 85%) e abriga dois terços do suprimento global de metais e minerais escassos, de acordo com relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA.
A nova estatal chinesa que engloba o setor, como registrou o Global Times, será uma ferramenta essencial para estabilizar a cadeia global de suprimento.
“Depois de formar a nova empresa, a indústria de terras raras da China mudará de um status disperso e de pequena escala para um modelo sistemático e abrangente”, disse Chen Zhanheng, vice-chefe da Associação da Indústria de Terras Raras da China, ao Global Times.
Segundo ele, a mudança visa consolidar a competitividade líder mundial da China nos setores upstream e downstream de terras raras. “Esperamos que a nova empresa otimize recursos, garanta segurança de abastecimento e aplique regras mais rígidas em relação à quantidade de produção, bem como ao volume de exportação de terras raras”, disse o gerente.
Especialistas da indústria estimam que a nova empresa controlará cerca de 70 por cento dos minerais pesados de terras raras da China. Após amplas discussões, o plano começou a tomar forma no início de dezembro, disse um gerente de uma empresa estatal de terras raras de Ganzhou, no leste da China, sob condição de anonimato.
A fusão ocorre depois que o governo Biden, nos últimos meses, exagerou nos “riscos da ameaça da China à cadeia de suprimentos dos EUA”, destacando o aumento do fornecimento de terras raras como uma de suas políticas ambientais e tecnológicas prioritárias.
De acordo com relatos da mídia, o Pentágono assinou um acordo de investimento tecnológico com uma empresa australiana, para construção de uma instalação de processamento de terras raras no Texas.
Wu Chenhui, um analista industrial independente, disse ao Global Times que a nova estatal não mudará seu objetivo principal, da China garantir o abastecimento global de terras raras. Ele garantiu que “não se trata de um ‘contra-ataque diplomático’”, a menos que Pequim seja forçado.
“Esses recursos essenciais dão à China maior influência e poder de barganha na mesa de negociações, servindo como um severo aviso para qualquer tentativa de intimidação ocidental”, acrescentou Wu.
Os especialistas da indústria esperam que a reestruturação possa aumentar os preços das terras raras e a lucratividade das empresas domésticas, ajudando a reformular questões persistentes da indústria, como poluição ambiental e uso ineficiente de recursos valiosos devido à concorrência feroz de preços das empresas.
As maiores reservas mundiais comprovadas de terras raras estão na China, com 44 milhões de toneladas. O Brasil vem logo a seguir, com 22 milhões, mesma quantidade do Vietnã, mas à frente da Rússia, com 12 milhões, da Índia, com 6,9 milhões, e da Austrália, com 3,4 milhões, de acordo com dados de 2018 do United States Geological Service (USGS).
No Brasil, as terras raras são encontradas nas areias monazíticas do litoral e principalmente em jazidas próximas a vulcões extintos, como nas cidades de Araxá e Poços de Caldas, em Minas Gerais, e Catalão, em Goiás, e também em
Pitinga, no Amazonas. É provável que as reservas brasileiras sejam muito maiores do que está comprovado atualmente, em especial na Amazônia, segundo o Jornal da USP.