China condena suspensão da Rússia do Conselho de DH da ONU
“A votação abre um precedente perigoso de que uma resolução sem devida e sólida investigação pode ser levada à ONU”, afirmam líderes chineses ao repudiarem a resolução para suspender a Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU, aprovada na quinta-feira (07).
O representante permanente da China na ONU, Zhang Jun, ao esclarecer seu voto contra a suspensão, alertou: “Essa resolução não foi redigida de modo aberto e transparente nem seguiu a tradição de realizar consultas com todos os membros para obter mais opiniões, agrava as divisões entre os Estados Membros, e intensificará os conflitos entre as partes envolvidas”.
Zhang disse que os relatos e imagens de mortes de civis em Bucha são fortes, mas “as circunstâncias relevantes e as causas específicas do incidente devem ser verificadas e estabelecidas. Todas as acusações devem ser baseadas em fatos. Antes que o quadro completo fique claro, todos os lados devem se conter e evitar acusações infundadas”, frisou.
“Os EUA e o Ocidente estão usando sua mídia para retratar os países que foram contra a resolução como apoiadores da Rússia, tentando dividir o mundo entre os chamados justos e os cruéis, e silenciar os países que buscam a verdade ou têm opiniões diferentes deles”, disse o diplomata.
“A votação abre um precedente perigoso de que uma resolução sem investigação sólida pode ser levada à ONU, onde os Estados membros são sequestrados pela ideologia política e forçados a escolher um lado”, assinalou Zhu Ying, professor da Base Nacional de Educação e Treinamento em Direitos Humanos da Universidade do Sudoeste de Ciência Política e Direito (Southwest University of Political Science and Law), em coletiva de imprensa.
O evento afetará o sistema da ONU que foi construído após a Segunda Guerra Mundial com o objetivo de unificação global. Os EUA e o Ocidente trouxeram a nova mentalidade da Guerra Fria com sua maneira de destruir vozes diversificadas, assinalou.
O especialista alertou que, usando a resolução, os EUA podem vender mais armas para a Ucrânia, fazendo com que o conflito dure mais tempo como o governo norte-americano deseja para seus próprios propósitos estratégicos. “Esse é seu objetivo real e a vida de pessoas inocentes nunca é preocupação dos EUA”, denunciou.
Yang Jin, pesquisador associado do Instituto de Estudos Russos, da Europa Oriental e da Ásia Central da Academia Chinesa de Ciências Sociais, observou que o processo da Ucrânia se tornar um Estado neutro é lento, e o “incidente de Bucha” prejudicou ainda mais a atmosfera para as negociações de paz. “Com a escalada das sanções do Ocidente à Rússia e o apoio militar dos EUA e países da União Europeia à Ucrânia, ficará mais difícil para as negociações de paz avançarem”, mostrou.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, afirmou em entrevista coletiva, na sexta-feira (08), que a China se opõe firmemente à politização dos direitos humanos ou ao uso de questões de direitos humanos para pressionar outros, ou à adoção de padrões duplos e confrontos.
A China pede que todas as partes trabalhem juntas para dar uma chance à paz, disse Zhao.
Especialistas questionam votação
Depois que a ONU postou a contagem da votação que suspendeu a Rússia do CDH, internautas perguntaram por que esses países não expulsaram os EUA do órgão de direitos humanos da ONU quando bombardearam civis no Iraque, Síria e Afeganistão.
Yasir Habib Khan, fundador e presidente do Instituto de Relações Internacionais e Pesquisa de Mídia do Paquistão, disse ao Global Times que as acusações contra a Rússia sobre o “incidente de Bucha” ainda não foram comprovadas.
O especialista observou que, para superar os desafios globais, o mundo precisa desesperadamente da ONU para garantir igualdade, justiça e respeito a todos. No entanto, o papel da ONU para unir o mundo está em declínio, pois ficou em silêncio sobre o caos liderado pelos EUA na Líbia, Tunísia, Irã, Síria, Iêmen e Afeganistão. A adesão apressada do Ocidente à resolução imposta pelos EUA contra a Rússia na ONU nega valores internacionais baseados em regras, expressou o especialista.