China condena “parcialidade” e “politização” do Conselho de DH da ONU
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, advertiu na sexta-feira (13) que as ações do painel de Direitos Humanos da ONU sobre a questão da Ucrânia “abalaram seriamente a confiança de todas as partes em sua imparcialidade e objetividade, prejudicaram sua reputação e criaram divisões dentro da instituição”. Na véspera, a China votara contra uma resolução que teve como alvo as forças militares russas e ignorou olimpicamente os muitos relatos sobre crimes de guerra cujos protagonistas são tropas ucranianas e, inclusive, batalhões neonazis.
Zhao afirmou, ainda, que “nos últimos anos, o confronto e a politização do Conselho de Direitos Humanos aumentaram gradativamente, e aumentaram os casos de duplicidade de critérios e de seletividade”.
Sob aquele conhecido expediente de “torcer o braço” de que tanto se gabou, no seu tempo, Barack Obama, o órgão tomou a decisão por 33 votos. A pequena e audaz Eritreia acompanhou a China no voto de ‘não’. 12 países se abstiveram, o que no caso é sempre visto como uma forma de recusar atingir Moscou – inclusive a Índia. O Brasil votou com Washington.
O texto pede que a comissão internacional da ONU sobre a Ucrânia conduza uma ‘investigação’ sobre supostas graves violações de direitos humanos nas regiões de Kiev, Cherniguiv, Kharkiv e Sumy no final de fevereiro e março de 2022, “com vistas a responsabilizar os responsáveis”.
Ao mesmo tempo em que nada diz sobre o ataque que comprovadamente matou 17 civis, a maioria aposentados na fila do caixa eletrônico no centro de Donetsk, assim como empurra para debaixo do tapete o massacre na estação ferroviária de Kramatorsk (50 civis mortos, 98 feridos), inicialmente atribuído “aos russos” mas logo posto de lado após fotos dos restos do míssil mostrarem que, conforme modelo e número de série, era ucraniano.
Há ainda execuções sumárias, por neonazistas ucranianos, de prisioneiros russos, com tiro na cabeça, em caso de oficiais, e atos de barbárie explícita, como atirar nos joelhos dos presos amarrados, de que se gabaram nas redes sociais, exibindo seus crimes.
Para o representante da Rússia em Genebra junto à ONU, Gennady Gatilov, que nas redes sociais denunciou a cruzada antirrussa, a resolução não passa de uma “encenação pelo Ocidente coletivo de um novo sabath político para acusar a Rússia”.
“Eles há muito deixaram de estar interessados em estabelecer a verdade, e os crimes cometidos pelos militares e ultranacionalistas ucranianos contra seus próprios cidadãos continuam a ser cuidadosamente ignorados”, assinalou.
Registre-se, ainda, como fez o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, que o órgão de Direitos Humanos da ONU durante oito anos ignorou as violações de direitos humanos sofridas pela população de etnia russa do Donbass, perdendo a oportunidade de que o desfecho da crise na região fosse como pretendiam os protocolos de Minsk.
A Rússia decidiu não tomar parte nessa encenação, como registrou previamente a porta-voz da chancelaria de Moscou, Maria Zakharova, que acusou o Ocidente de usar o Conselho como um “clube privê”, em que só levam em conta “as fake news em torno dos acontecimentos em Bucha e Mariupol, propagadas por eles próprios” mas no entanto “crimes cometidos por militares e ultranacionalistas ucranianos contra sua própria população civil não são levados em consideração”.
“A delegação russa não vai legitimar com a sua presença este novo espetáculo político organizado em forma de sessão extraordinária”, acrescentou, apontando que “infelizmente, nossos argumentos e esclarecimentos sobre os objetivos reais desta operação militar especial e a situação real no terreno são totalmente ignorados”.
Usando a provocação de Bucha como chamariz, o regime de Kiev, sob égide de Washington e Bruxelas, induziu a Assembleia Geral da ONU a suspender a Rússia do Conselho de Direitos Humanos.
Conselho que, durante oito anos, apesar de cerca de 14 mil mortos nas operações punitivas de Kiev para submeter quem não aceitou o golpe de Estado de 2014, e inclusive os 42 civis queimados vivos ou finalizados a pauladas na Casa dos Sindicatos em Odessa, não deu o ar da graça para proteger os russos étnicos.
A propósito, em Bucha só apareceram mortos às pencas nas ruas depois que o Batalhão neonazi Azov entrou a cidade para caçar ‘colaboracionistas russos’ – as tropas russas haviam se retirado quatro dias antes. O prefeito da cidade comemorou a retirada dos ‘orcs’ – um termo pejorativo para russos – sem citar nem mostrar qualquer cadáver.
Há ainda gravações de neonazis pedindo – e obtendo – autorização para passar fogo em que não estivesse com a braçadeira certa, isto é, azul ou amarela. Os russos usavam braçadeira branca, o que começou a ser imitado por moradores na pequena cidade.
A Rússia esperou por oito anos que o regime de Kiev e os países garantidores dos Protocolos de Minsk os pusessem em prática, inscrevendo na constituição ucraniana a autonomia do Donbass e direito à própria língua, o russo, fato absolutamente corriqueiro na Ucrânia até o golpe de Maidan.
Foi o golpe que instalou um regime que legalizou a infiltração neonazi nas instituições ucranianas, inclusive nas forças armadas, e adotou como lema a “descomunização e desrussificação”. (Primeiro, vieram atrás dos comunistas…).
Isso para substituir a herança comum russa e soviética pelo credo progromista do colaborador hitlerista Stepan Bandeira e seu apartheid contra tudo que fosse russo – sem dispensar massacrar judeus e poloneses.
Essa é em essência a ‘nova Ucrânia racialmente pura’ saída da Praça Maidan, sob as bênçãos de Victoria Nuland, e das cinzas da Casa dos Sindicatos em Odessa.
Diante da iminência da réplica da ‘Operação Tempestade’ – a expulsão de centenas de milhares de sérvios de suas terras ancestrais na Croácia por ataque militar sob comando da OTAN – e genocídio, tornados evidentes após a recusa oficial de Kiev de cumprir os acordos de Minsk e, ainda, ao pleitear status nuclear, e intensificar o bombardeio do Donbass, em fevereiro a Rússia reconheceu as duas republicas antifascistas e deu início à sua operação militar especial para “desmilitarizar e desnazificar” a Ucrânia e para deter sua anexação pela OTAN. Cujo ‘convite’ partiu de W. Bush em 2008, no ano seguinte ao histórico discurso do presidente Putin dizendo que a expansão da OTAN até a fronteira russa era inaceitável, o mundo unipolar era inaceitável.
Como afirmou Putin em 24 de fevereiro, “o problema é que […] em nossos próprios territórios históricos está sendo criada uma ‘anti-Rússia’, que foi colocada sob total controle externo, que está sendo ativamente colonizada pelas forças armadas dos países da OTAN e onde há uma influxo das armas mais modernas”.
Em seu discurso do Dia da Vitória sobre o Nazismo, o 9 de maio, o presidente russo sublinhou, como está confirmado por provas obtidas pelas forças antifascistas, que estava “em andamento os preparativos para uma operação punitiva [da Ucrânia] no Donbass, para uma invasão de nossas terras históricas, incluindo a Crimeia”, o que teria, segundo ele, tornado essa operação “inevitável”.