Trabalhadores chineses e senegaleses em uma obra em Dacar

Nos cinco primeiros meses de 2021, os investimentos da China nos países participantes da Iniciativa Estrada e Cinturão (BRI, na sigla em inglês), popularmente conhecida como a ‘Nova Rota da Seda’, alcançaram US$ 7,4 bilhões, um aumento de 13,8% em relação ao ano anterior, registrou a agência de notícias Xinhua.

O projeto BRI visa aprofundar a conectividade e a cooperação entre o Leste asiático, a Europa e a África oriental. Durante a 5ª Exposição Internacional da Rota da Seda, realizada na China em maio passado, foram assinados acordos de cooperação no valor de US$ 24,5 bilhões, que abrangem alta tecnologia, modernização da agricultura e educação, em 72 projetos-chave.

De acordo com dados oficiais, entre 2013 e 2020 o comércio total entre a China e as nações participantes da BRI foi de US$ 9,2 trilhões, enquanto o investimento combinado de empresas chinesas nesses países chegou a US$ 136 bilhões.

Na recém-concluída cúpula do G7 no Reino Unido, com os olhos fixos na China, foi anunciado um plano de infraestrutura visivelmente voltado para a BRI, que foi batizado no espírito do slogan de campanha de Joe Biden de ‘reconstruir melhor’, se tornando “Reconstrua um Mundo Melhor” (Build Back Better World, B3W).

O fato de não haver qualquer detalhe sobre como o B3W irá funcionar já levou analistas a o considerarem “uma versão pirata da BRI”. A promessa é de uma “parceria de infraestrutura transparente” para “ajudar as nações em desenvolvimento” a levantarem os “US$ 40 trilhões necessários até 2035”.

A promessa de US$ 40 trilhões para “reduzir a necessidade das nações em desenvolvimento”, com base no capital privado, até 2035, gerou sarcasmo entre os internautas.

É simplesmente difícil acreditar que os países do G7 possam oferecer uma quantia tão grande de dinheiro, que é mais do que o PIB combinado dos sete países em 2020, ironizaram. E que as empresas privadas se arrisquem a por dinheiro em projetos de longo prazo e de retorno demorado.

Analistas lembraram que o novo plano de infraestrutura para os próprios EUA, apresentado pelo governo Biden, foi encolhendo, dos US$ 2,3 trilhões originais para os recentes US$ 1,7 trilhão, e ainda não garantiu apoio dos republicanos para aprovação.

Para o acadêmico britânico Martin Jacques, há uma diferença ainda mais de fundo entre as duas concepções de apoio ao desenvolvimento. “O BRI é uma articulação eloqüente da relação da China com o mundo em desenvolvimento, enraizada em seu próprio passado semicolonial e em sua posição como país em desenvolvimento”.

“O Ocidente, ao contrário, fracassou porque sua história foi exatamente o oposto, de colonização e exploração e subjugação desses países. Não tem experiência, empatia nem motivação necessária. A lacuna existencial entre o rico mundo ocidental e o mundo em desenvolvimento é um abismo multidimensional”, concluiu.