China aconselha Washington a parar com provocações em Taiwan
A China respondeu à mais recente provocação do governo Trump – a visita oficial do seu secretário de Saúde, Alex Azar, a Taiwan, em violação do princípio de ‘Uma Só China’, que rege as relações entre os dois países há mais de três décadas -, através do porta-voz Zhao Lijian: “quem brinca com fogo acaba se queimando”
O porta-voz da diplomacia de Pequim fez as observações em uma coletiva de imprensa, quando solicitado a comentar declarações do secretário Azar feitas na ilha, com a China de alvo. Ele reiterou a firme oposição da China a qualquer interação oficial entre os Estados Unidos e Taiwan sob qualquer pretexto.
Zhao acrescentou: “em questões envolvendo os interesses centrais da China … os EUA não devem alimentar ilusões.”
Afinal, não é segredo para ninguém que, para a China, depois do ‘século de humilhação’, a reintegração de Taiwan à pátria milenar é uma questão essencial do renascimento chinês em curso.
Questão sobre a qual Washington não tem espaço para ter qualquer dúvida. Pelo acordo que começou a ser buscado ainda por Nixon, e que acabou sacramentado no governo de Carter, os EUA deixaram de ter relações oficiais com Taiwan – que durante duas décadas após a vitória comunista no continente posara com apoio de Washington a falar em nome ‘dos chineses’ – e reataram com Pequim.
Por esse princípio de ‘Uma Só China’, um país pode ter relações diplomáticas com o governo de Pequim, ou com o governo de Taiwan, mas não com os dois ao mesmo tempo. Taiwan, oficialmente autodenominada ‘República da China’, era para onde o governo do Kuomitang havia fugido em 1949. O Kuomintang foi derrotado pelos comunistas – após tentar massacrá-los – e fugiu sob proteção da frota norte-americana.
Se a coisa já se colocava assim quando a China ainda era muito pobre, não vai ser agora, com o império dos EUA em decadência e o renascimento da China, em sua nova condição de segunda economia do mundo em termos nominais em dólar, ou já a primeira, por paridade de poder interno de compra, que a questão irá desandar. Do seu lado, para facilitar, Pequim estendeu o tapete a Taiwan com sua política de “Um País, Dois Sistemas”.
Quanto às fake news de Azar/Trump, o porta-voz chinês ressaltou o comportamento responsável da China, que tomou medidas sem precedentes para deter a pandemia, aplicou com seriedade seus deveres e obrigações sob o Regulamento Sanitário Internacional e contribuiu de forma decisiva para a cooperação internacional de controle e prevenção. (Além de ter sido quem fez o sequenciamento genético do vírus, possibilitando que a pesquisa da vacina partisse de um patamar elevado).
A China se tornou uma peça chave no tabuleiro eleitoral norte-americano, escolhida por Trump para ser o bode expiatório por toda a incúria e obscurantismo que demonstrou diante da pandemia.
É tudo “culpa da China”, do “vírus chinês” e do Kung Flu – o que soa como música para os ouvidos dos xenóbofos, racistas e aloprados em geral que formam o núcleo duro de seu eleitorado.
Assim, o macarthismo fez uma volta triunfal nos discursos do secretário de Estado, Mike Pompeo, que teve a pachorra de ir à Biblioteca Presidencial Richard Nixon vilipendiar o que todos os historiadores consideram que foi o único legado do protagonista do Watergate – a abertura para a China, depois da derrota no Vietnã.
Também a guerra tecnológica contra a China está cada vez mais acesa, com os aplicativos Tik Tok e WeChat se juntando à Huawei como alvos da Casa Branca.
O secretário Azar, um ex-executivo mais conhecido por ter jogado nas alturas o preço da insulina, quando encabeçava uma corporação farmacêutica norte-americana, e agora, com a duvidosa honraria de ser um zero à esquerda na contenção da Covid-19 nos EUA, durante a visita a Taipei, não poupou esforços para agredir a China, repetindo as fake news de Trump.
Dali, Azar culpou a China por “não alertar” o mundo sobre o coronavírus e por “se recusar a cooperar com outras pessoas no combate à doença, permitindo que ela se espalhasse pelo mundo”.
Teve o desplante de asseverar que, se o surto inicial de Covid-19 tivesse ocorrido em Taiwan ou nos Estados Unidos, poderia ter sido “extinto facilmente” – provavelmente com mais cloroquina e injeção de água sanitária.
Em suma, a presença dele em Taiwan era tão somente para fazer uma boca-de-urna pomposa, desde longe, para ver se ajuda Trump a melhorar nas pesquisas de intenção de voto.
O porta-voz Zhao se disse espantado pelo fato de o secretário de saúde dos EUA ter decidido deixar seu país quando o coronavírus está “fora de controle” lá – os EUA, com menos de 5% da população mundial, têm 25% dos contágios e dos mortos no planeta pela pandemia.
Ele “ignorou milhões de americanos infectados” com o vírus e foi a Taiwan para “fazer um show político”, denunciou o porta-voz. “O comportamento de Azar prova mais uma vez que, aos olhos dos políticos americanos, a vida dos americanos nada significa quando comparada com seus ganhos políticos egoístas”, acrescentou.
NO ESTREITO
Em outro lance da ingerência, no mês passado o Departamento de Estado aprovou um pacote de US $ 620 milhões para atualizar o sistema de mísseis terra-ar Patriot de Taiwan. Pequim reagiu anunciando sanções sobre o principal contratante do projeto, a fabricante de armas norte-americana Lockheed Martin.
Na véspera da visita de Azar, porta-voz da diplomacia chinesa havia revelado que a China formalmente relembrara Washington dos princípios acordados na retomada de relações em 1979, e alertara para que se evitasse enviar “sinais errados” aos separatistas de Taiwan.
“Os EUA devem interromper todo o intercâmbio oficial com Taiwan e evitar minar as relações China-EUA e a estabilidade do Estreito de Taiwan”, instou Wang Wenbin.
Ma Xiaoguang, porta-voz do Escritório de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado chinês, em comunicado alertou que o governo do Partido Democrático Progressivo (DPP) na ilha está disposto a ser “um peão” de Washington em busca de ganhos políticos, o que considerou “extremamente perigoso e fadado ao fracasso.”
Na segunda-feira, ainda durante a visita do secretário de Trump, caças chineses patrulharam o Estreito de Taiwan. Na quinta-feira (13), a China conduziu uma série de exercícios militares no Estreito que separa o continente da ilha de Taiwan.
Os exercícios foram “uma resposta à situação de segurança do Estreito de Taiwan” e uma “medida necessária para salvaguardar a soberania nacional”, assinalou o porta-voz do Exército de Libertação do Povo (PLA), coronel Zhang Chunhui, após se referir aos acenos de “grandes potências” aos separatistas de Taiwan. Recentemente, a China testou seu míssil DF-26, o “assassino de porta-aviões” de fabricação chinesa. Além do estreito de Taiwan, as provocações norte-americanas também têm se repetido no Mar do Sul da China.