“As nossas reivindicações não são novas. É aumento do salário mínimo, no valor 58% acima do atual, para chegar a 510 mil pesos [aproximadamente 2.700 reais], e das pensões ao nível desses salários; melhora da qualidade da saúde e da educação públicas, assim como serviços básicos de eletricidade, água, transportes ao alcance de todos os chilenos. E uma Assembleia Constituinte que contemple a participação das organizações sociais e do povo todo”, disse a presidente da Central Unitária de Trabalhadores (CUT), Bárbara Figueroa, sobre o objetivo da greve geral que paralisou as principais cidades do Chile, na terça-feira, 26.

Em entrevista, expressou ainda que a atividade também busca denunciar a impunidade frente à feroz repressão desatada pelos agentes de segurança do Estado. “Exigimos que o governo de Sebastián Piñera assuma a responsabilidade frente às violações de direitos humanos desde o primeiro dia do justo levante social”, assinalou.

O Instituto Nacional de Direitos Humanos de Chile (INDH) divulgou, na segunda-feira, 25, um novo balanço sobre as vítimas da repressão durante os mais de 40 dias de manifestações. Foram 26 mortes, 232 pessoas sofreram lesões oculares (75% dos casos produto de disparos), 2.808 feridos foram constatados em distintos hospitais.

Durante o dia, o sistema público de ônibus da capital, Santiago, apresentou um serviço reduzido e várias linhas de metrô interromperam seu serviço. Estudantes protestaram sentando-se com as pernas apontando para as vias dos trens, para impedir seu avanço. Os hospitais só funcionaram para casos de emergência.

A União Portuária do Chile indicou que os 24 portos onde o sindicato tem presença aderiram à greve. Mario Aguilar, presidente do sindicato dos professores, ressaltou o acatamento geral das medidas: “Na segunda, 25, houve mobilização em todo o país e na terça, 26, nós professores aderimos à greve”.

Trabalhadores da área da saúde, da construção civil, docentes, mineiros, coletivos feministas se somaram à jornada de protesto exigindo que Piñera escute as reivindicações populares. Na segunda-feira, uma pesquisa realizada pela empresa Cadem mostrou que seu nível de desaprovação foi até 81%, o pior registro obtido por um presidente chileno desde o retorno à democracia em 1990. A consulta também registra um crescimento na popularidade das mobilizações como forma de protesto.

Na tarde da terça-feira, no país inteiro as manifestações se multiplicaram. Resumindo: a capital parou. Perto da Promotoria de Valparaíso, cidade próxima a Santiago, se levantaram barricadas e o centro foi tomado pelos estudantes. Na praça dos Tribunais de Concepción, ao sul, se registraram enfrentamentos. Ao norte do país, em Iquique, enormes marchas ocuparam o centro.