"Em nosso espírito vive a liberdade de todos os caídos, as mãos ásperas de meus avós camponeses", declarou o jovem Oscar ao sair da sala de cirurgia e já em recuperação após o criminoso atropelamento

O manifestante Óscar Pérez, de 20 anos, foi atropelado no último sábado por um caminhão blindado dos carabineiros – a polícia chilena – e prensado contra outro blindado nas proximidades da Praça da Dignidade, em Santiago.

O resultado do atropelamento foi “quatro fraturas de pélvis, hemorragia interna e comprometimento da bexiga” em Óscar, fazendo com que o Instituto Nacional de Direitos Humanos processasse os carabineiros pelo crime de tentativa de homicídio culposo e solicitasse a detenção preventiva do cabo Mauricio Carrillo, que foi apenas levemente sancionado.

A agressão é parte do chamado plano “Tolerância Zero” com as manifestações que não param no Chile contra a herança pinochetista, como a previdência privada e o ensino universitário pago.

Para encobrir o criminoso, o procurador responsável pelo caso disse que o fato ocorreu logo após a polícia ter sido avisada sobre uma “agressão a um carabineiro motorizado”. O que explicaria a ação dos blindados circundando “uma motocicleta para resguardá-la”, “até que ocorreu o atropelamento”. O policial agressor asseverou sequer ter visto Óscar ou o outro blindado e só terá que se apresentar a cada 30 dias nos 150 dias previstos para durar o inquérito.

Passando bem após a cirurgia, estável e em pleno processo de recuperação, Óscar enviou uma mensagem por seu Instagram de agradecimento à solidariedade recebida:

“Em nosso espírito vive a liberdade de tod@s os caíd@s, as mãos ásperas de meus avós camponeses, os poemas e contos que me contava minha tata me incentivando a aprender cada vez mais, as extensas jornadas de trabalho de meu pai e minha mãe, que fizeram um enorme sacrifício para que eu, em minha geração, pudesse ter um melhor acesso à educação e conseguisse encaixar melhor as peças, ter pensamento crítico. Agradeço a@s professores que acreditaram em mim.

Como cabras, somos livres e selvagens como o vento, de coração ardente e fogoso, cheios de amor para arrebentar, e por mais que nos atropelem, tirem os olhos, estuprem, assassinem, reprimam e aprisionem nossos corpos, aqui seguirá o espírito coletivo de liberdade, que existe em cada alma livre e sedenta de justiça para os seus e a terra”.

“Abaixo a máquina do neoliberalismo e para cima as almas livres, um uivo forte para a küyen – lua. É sabido que não poderão calar nosso espírito de liberdade, nossas ideias são à prova de balas, AMULEPE TAIÑ WEICHAN!!!”.

E concluindo: “estou eternamente agradecido pelo apoio de todas as pessoas que me enviaram fortes vibrações e mensagens de apoio, para não baixar os braços e que ninguém nos restrinja o direito à manifestação. Unidos somos mais fortes!!! Um abraço a tod@s.