Chile usa inteligência artificial para buscar desaparecidos, após 50 anos do golpe
Pessoas seguram silhuetas de imagens de pessoas detidas e desaparecidas em 1975 durante a Operação Colombo. Foto Xinhua
A poucos dias de marcar o 50º aniversário do golpe militar liderado por Augusto Pinochet, o presidente chileno Gabriel Boric formalizou o Plano Nacional de Busca de Vítimas de Desaparecimento durante a ditadura, assinando um decreto histórico. Em uma cerimônia no Palácio de La Moneda, Boric destacou o compromisso do Estado em remover todas as barreiras para esclarecer as circunstâncias do desaparecimento e morte das vítimas.
O presidente anunciou que o Chile recorrerá à inteligência artificial (IA) para auxiliar na busca dos mais de 1.000 presos desaparecidos durante o regime de Pinochet (1973-1990). Durante o Future Congress, Boric enfatizou o papel crucial da IA no Plano Nacional de Busca e sua importância na consolidação e fortalecimento da democracia.
O golpe de Pinochet, iniciado em 11 de setembro de 1973, marcou um dos momentos mais sombrios da história chilena, levando a um regime considerado um dos mais sangrentos da América Latina. A Comissão da Verdade e Reconciliação estima que pelo menos 3.200 pessoas morreram ou desapareceram, enquanto outras 40.000 foram torturadas durante os 17 anos de ditadura.
Em agosto de 2023, Boric lançou o Plano Nacional de Busca da Verdade e da Justiça, assumindo pela primeira vez a busca dos presos desaparecidos. Das 1.469 vítimas de desaparecimentos forçados, apenas 307 foram encontradas até agora. O presidente afirmou que a iniciativa é um “ato de Estado” e uma busca pela verdade para construir um futuro mais livre e respeitoso.
Com financiamento estatal, o plano visa reconstruir a jornada das vítimas após a prisão, proporcionar acesso à informação aos familiares e implementar medidas de reparação. A IA desempenhará um papel vital na análise de uma quantidade significativa de informações dispersas em diversas instituições, agilizando o processo de localização dos desaparecidos.
Além do uso da IA, uma empresa privada está desenvolvendo uma plataforma tecnológica para auxiliar na busca e rastreabilidade dos locais de detenção durante a ditadura. Esse esforço conjunto pretende superar o principal obstáculo até agora: a falta de colaboração das Forças Armadas, frequentemente associada a um “pacto de silêncio”.
O Plano Nacional de Busca da Verdade e da Justiça beneficiará não apenas a localização das vítimas, mas também seus familiares. Ao garantir acesso à informação, participação nos processos de busca e implementação de medidas de reparação, o plano visa a configuração de memória e a não repetição do crime de desaparecimento forçado.
O governo enfatiza que o plano terá governança permanente, orçamento atribuído e será considerado um instrumento de política pública, independentemente da gestão governamental. O anúncio foi recebido positivamente pelos familiares e amigos das vítimas, que há décadas aguardam por respostas sobre seus entes queridos desaparecidos.
(por Cezar Xavier)