Bombeiros lutam contra o fogo em Igreja próxima à Praça da Dignidade em Santiago | Foto: EFE

Com a prisão do cabo da marinha chilena, no dia 21, pela participação no incêndio da igreja San Francisco de Borja, no dia de uma manifestação gigante em favor da democratização do Chile, caiu a máscara da farsa que buscava jogar a culpa nos manifestantes e na esquerda em geral pelo vandalismo ocorrido no dia 18.

A manifestação congregou centenas de milhares na capital chilena para apoiar o voto no “Aprovo”, a favor da instalação de uma Constituinte com a finalidade de escrever uma Constituição que substitua a atual, imposta pelo governo fascínora de Augusto Pinochet, instalado com o golpe de Estado que derrubou um governo popular e assassinou o presidente Salvador Allende no ano de 1973.

A manifestação também foi convocada para celebrar um ano dos primeiros atos de um verdadeiro levante em favor de mudanças que ofereçam aos chilenos o mínimo de bem-estar e segurança, a exemplo do estabelecimento de uma previdência social pública no lugar da previdência privatizada que tem levado a maioria dos idosos chilenos à míngua e a um elevado índice de suicídios.

Com a prisão do cabo, lotado na Base Aeronaval de Concón (Valparaíso) “por participar em desordem pública durante as manifestações na capital”, se evidenciou a origem do vandalismo: os saudosistas da ditadura de Pinochet, com a finalidade de tumultuar o processo de libertação do Chile das leis draconianas do pinochetismo.

A marinha do Chile se dissociou inteiramente dos atentados. Depois da igreja San Francisco de Borja, os vândalos também atearam fogo em uma segunda igreja, a de Asunción.

As duas igrejas se encontram nas proximidades da Plaza Italia, agora denominada “Praça da Dignidade”, pois foi ali que se concentraram os manifestantes durante os incontáveis protestos contra a devastação causada pelo governo de Sebastián Piñera.

Além de incêndio a igrejas, os encapuzados atacaram um supermercado e delegacias de polícia na periferia da capital.

O prefeito de Recoleta, que fica no entorno da capital, Daniel Jadue, foi ameaçado por desconhecidos que tentaram agredi-lo. “Quando saí de casa para dirigir-me à Praça da Dignidade fui interceptado por alguns desconhecidos que me disseram que eu não devia ir à manifestação e me ameaçaram”, afirmou o prefeito, filiado ao PC chileno.

“Não caímos na provocação”, acrescentou o prefeito, informando que os elementos ficaram nas ameaças verbais.

A manifestação transcorreu de forma tranquila, com a participação de jovens e pais de família que trouxeram seus filhos. A praça ficou coalhada de bandeiras chilenas e nela ecoava o grito de “Chile despertou!”.

Também houve manifestações nas cidades de Valparaíso, Viña del Mar, Antofagasta e Concepción.

A organização de jornalistas do Chile denunciou que o fotógrafo Antonio Kadima ficou ferido e se encontra hospitalizado devido ao impacto de uma bomba de gás lacrimogêneo em sua cabeça. Segundo a organização, “Antonio está estável, mas não podemos permitir que estas agressões sigam acontecendo”.

Bolsonaro aproveitou os atos de vandalismo – que agora se comprovam de bandeira trocada – para assacar contra ‘grupos de esquerda’ e para tentar justificar suas alucinadas declarações proferidas na Assembleia Geral da ONU, quando evocou uma suposta onda de ataques orquestrados aos cristãos e que chamou de ‘cristofobia’: “Hoje, igrejas foram incendiadas na capital do Chile por grupos de esquerda”.

Existe, realmente intolerância religiosa no Brasil, mas ela é centralmente praticada contra seguidores de vertentes religiosas de matriz africana, inclusive com ataques a terreiros de umbanda e pais e mães de santo por narcotraficantes evangelizados.

Dados recentes mostram que houve 506 denúncias de ataques a religiosos. Segundo os dados do serviço “Disque 100”, criado por organizações de Direitos Humanos, três em cada dez denúncias partem de religiões de matriz africana e só 4,5%, foram de ataques a evangélicos.

Neste domingo (25) os chilenos vão às urnas para decidir pela mudança na Constituição de 1980 imposta pela ditadura de Pinochet. Uma Constituição antidemocrática e antipopular a qual permitiu que fosse forjado um sistema econômico onde prevaleceu a privatização da Saúde e da Educação. Houve um verdadeiro assalto ao Estado quando monopólios financeiros se apoderaram da previdência social para manipular com a poupança dos trabalhadores, através das AFP (Administradoras de Fundos de Pensão) e pagar aposentadorias de fome, de até um terço do salário mínimo vigente, aos idosos chilenos.

O eleitor terá que responder a duas questões. A primeira se “Aprova” ou “Rejeita” a mudança constitucional. A segunda versa sobre a modalidade de Constituinte: Convenção Constitucional (155 eleitos para escrever a Constituição) ou Convenção Mista (composta por 86 parlamentares já no exercício do mandato e 86 eleitos para fins de redação da nova Constituição).