Chile: Piñera tem só 9% de aprovação após vetar auxílio na pandemia
A rejeição ao presidente do Chile, Sebastián Piñera, atinge auge depois dele ter vetado a retirada adiantada de 10% das aposentadorias. Essa retirada de recursos depositados nos fundos de pensão privados, seria uma forma de aliviar a fome dos mais necessitados durante a crise econômica causada pela pandemia. Segundo pesquisa elaborada pelo instituto Cadem, ele conta com apenas 9% de aprovação.
A pesquisa realizada pela Cadem indica que Piñera só teve essa mínima aprovação em fevereiro de 2020, um período em que os protestos sociais foram combinados com o início da pandemia Covid-19.
A retirada das pensões, que permitiria aos chilenos sacar 10% das poupanças de suas contas individuais administradas por fundos privados, foi aprovada por esmagadora maioria no Congresso na sexta-feira passada. Entretanto, o governo a rejeitou, alegando preocupação por que ela prejudicaria as futuras pensões dos cidadãos, e apresentou uma liminar ao Tribunal Constitucional para derrubá-la.
De acordo com a pesquisa, 87% dos chilenos concordam com o projeto de retirar fundos “mesmo sob o risco de que sua pensão seja menor”. A mesma porcentagem discorda da decisão do governo de interromper a moção parlamentar. Mas, o governo tem capitulado e se alinhado às Administradoras dos Fundos de Pensão (AFP), grandes grupos privados nacionais e internacionais que potencializam seus lucros às custas da exploração das aposentadorias e por isso querem impedir que os aposentados tenham acesso, ainda que parcial, a estes ativos manipulados pelos bancos.
Em sinal de descontentamento geral, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) convocou uma “greve geral da saúde” para o próximo dia 30 de abril.
Mas, em um ano eleitoral no qual em três semanas a população vai às urnas para eleger prefeitos, vereadores e constituintes, antes das eleições presidenciais e parlamentares de novembro, Piñera está tentando não se enfrentar de forma frontal com a população.
Após intensas negociações, ele anunciou um projeto alternativo que mostra Piñera atado aos interesses do setor financeiro. A proposta para saque de fundos inclui o pagamento de impostos, um bônus para aqueles que ficarem sem recursos na conta e um sistema de restituição para fortalecer as pensões através do aumento das contribuições.
“A queda na aprovação presidencial ocorreu especialmente entre os de classe média, aqueles identificados com a direita e o centro”, disse o instituto Cadem, que elaborou a pesquisa.
Os protestos contra o modelo de capitalização da Previdência, que está levando os idosos à miséria – uns por não conseguir se aposentar, outros por ganhar menos de um salário mínimo por mês – já vinham desde a chegada da pandemia.
Antes mesmo do coronavírus – que já matou mais de 26 mil pessoas – oito a cada dez novos pensionistas do país não conseguiam obter através do sistema de autofinanciamento, criado durante a ditadura de Pinochet, uma aposentadoria acima da linha da pobreza.
A retirada dos fundos de pensão é visto por milhões de pessoas como o salvavidas para enfrentar a precária situação econômica derivada da pandemia – o PIB chileno encolheu 5,8% em 2020 -, desastre causado em grande parte devido à precária e escassa ajuda oferecida pelo governo aos mais pobres até o momento.