Na primeira eleição de governadores do Chile a oposição obteve ampla vitória

Nas primeiras eleições para governador da história do Chile, realizadas no domingo (13), a oposição elegeu em 12 das 13 regiões em disputa no segundo turno (em maio já havia ganho as outras três das 16 do país). O resultado representa uma derrota acachapante para a coalizão “Chile Vamos”, do presidente Sebastián Piñera e de sua política de arrocho salarial, privatizações e corte de direitos sociais e trabalhistas.

Isolado, com apenas um dos governos estaduais – que até então eram indicados pelo presidente -, Piñera colheu nas urnas o resultado das gigantes marchas de protesto realizadas pelo país entre 18 de outubro de 2019 e março de 2020. Manifestações em que em vez de dialogar com as multidões que cobravam atenção do governo diante do agravamento da crise e da fome, o adepto de Pinochet (que aplicou seu regime de terror desde o golpe contra Salvador Allende em 1973 até março de 1990) abusou da violência.

Imagens da sua Tropa de Choque, os Carabineiros, agredindo jovens e mulheres com bombas de lacrimogêneo, caminhões com canhões d’água e armas que deixaram dezenas de mortos, centenas de cegos e milhares de feridos correram o mundo e ampliaram o isolamento do regime.

Frente à carnificina e à política de terrorismo de Estado, a primeira resposta veio em 25 de outubro do ano passado, quando 78% dos chilenos aprovaram em plebiscito por escrever uma nova Constituição para romper com a herança neoliberal, traduzida na ausência de serviços públicos, inteiramente entregues ao capital privado transnacional. Com este compromisso, desde abril, os constituintes começaram a redação da nova Carta Magna.

Devido a esta nova surra, a extrema-direita oficialista se encontra completamente fragilizada para a eleição presidencial. O sufrágio será realizado no próximo 21 de novembro para o período de 2022-2026, em conjunto com as eleições de deputados e senadores.

Para Mauricio Morales, especialista eleitoral da Universidade de Talca, os resultados são “um balão de oxigênio para os partidos tradicionais que retiveram algumas das regiões, particularmente a Democracia Cristã (DC), que agora governa a metade do país”. “A oposição de centro-esquerda fica com 10, os candidatos independentes com cinco e a direita apenas uma”, acrescentou.

Santiago

A eleição foi caracterizada por uma acirrada disputa da Região Metropolitana de Santiago – capital e centro político do país – que concentra 40% da população, com 19 milhões de habitantes, entre a candidata Karina Oliva, do pacto eleitoral “Aprovo Dignidade”, que inclui o Partido Comunista e novas agrupações integradas na Frente Amplio; contra o candidato da Democracia Cristã, Claudio Orrego, da “Unidade Constituinte”, que também soma os partidos Socialista e pela Democracia – a velha ex-Concertação que governou o Chile por três décadas desde o fim da ditadura pinochetista. Num confronto voto a voto, Orrego acabou vencendo com pouco mais de 52%. No caso de Santiago, publicou o jornal La Jornada, “foi uma disputa entre o novo que não acaba de nascer contra os conservadores que resistem a terminar de morrer”.