Portando bandeira do Chile, estudantes desafiam toque de recolher - AFP

Em um levante popular que dura já uma semana e deixa 15 mortos e centenas de feridos, as manifestações de protesto no Chile continuam acontecendo na capital, Santiago, Valparaiso, Concepción, Viña del Mar e em várias outras regiões do país andino.

O presidente Sebastián Piñera que já dissera que os protestos eram “declaração de guerra”, acuado, mas sem sequer falar em mexer nas medidas neoliberais que afligem os chilenos, agora diz que vai enfrentar a revolta com um ‘acordo social’.

Na segunda-feira, 21, em coletiva de imprensa, indicou: “Vou me reunir com os presidentes dos partidos oficialistas e de oposição para explorar e avançar em direção a um acordo social que nos permita melhores soluções para os problemas que afligem os chilenos”.

“Às vezes tenho falado duro, o faço porque me indigna ver o dano e a dor que esta violência provoca”, acrescentou Piñera em referência a suas declarações em que afirmou  estar em guerra contra um inimigo poderoso. Horas antes, o general Raúl Iturriaga, a cargo da segurança da capital, optou por outra abordagem: “A verdade é que não estou em guerra com ninguém”. Mas nenhum dos dois fez menção à selvagem repressão que as forças policiais e militares desencadeiam contra os estudantes e o povo nas ruas do país.

Onze das grandes cidades chilenas se encontram sob estado de emergência – o que restringe as liberdades de reunião e mobilização – após os protestos estudantis que com a consigna “evasão em massa” estouraram pelo aumento do preço dos bilhetes do Metrô. O governo foi forçado a anular essa medida no sábado, mas o levante social e algumas ações de vandalismo continuam acontecendo.

O repúdio ao aumento de 30 pesos (cerca de 20 centavos acima dos 4,8 reais em que estava) na passagem do metrô foi o estopim que desembocou numa radicalização do protesto contra o modelo econômico herdado da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990), em  que o acesso à saúde e à educação é praticamente privado, com grande desigualdade social, baixos salários, valores de pensões reduzidos e alta do preço dos serviços básicos. A força dos protestos surpreendeu o governo. Poucos dias antes, Piñera tinha afirmado que o Chile era uma espécie de “oásis” na região.

Esta é a primeira vez que o Chile vive em estado de emergência – que colocou os militares nas ruas – desde que recuperou a democracia em 1990.

A quantidade de mortos nos distúrbios subiu para 15, dos quais 10 faleceram calcinados, um atropelado e dois baleados por militares, informaram as autoridades. O Ministério da Saúde reconheceu 239 civis e 50 policiais feridos e a Promotoria informou sobre 2 mil 151 detidos no país, desde que começaram os protestos, no dia 14.

Na noite de segunda-feira, milhares de manifestantes desafiaram o toque de recolher imposto mais uma vez na capital e outras cidades ao norte e sul do Chile, para participar em panelaços contra a violência militar e exigir a renúncia de Piñera.

As principais centrais sindicais lançaram um documento exigindo do governo o fim do estado de emergência. “Às organizações presentes manifestam nossa decisão de convocar uma grande Greve Geral que esvazie as ruas do país. Não havendo respostas do governo e uma saída rápida para o atual estado de crise da institucionalidade democrática, se fará efetiva a partir da próxima quarta-feira, 23 de outubro”, assinalam.

Nesse primeiro dia de trabalho desde o recrudescimento das manifestações e enfrentamentos com as forças de segurança que iniciaram na sexta-feira, 18, muitas lojas e escritórios cancelaram as jornadas de trabalho e as aulas foram suspensas em praticamente todos os colégios secundários e universidades.

Na segunda, só uma línea do Metrô abriu após o fechamento total do serviço desde a sexta-feira pelos incêndios e destruição provocados em 78 de suas 136 estações. O transporte público continua precário, deixando parada a capital, Santiago.