Cartaz convoca manifestação pela liberdade de Chelsea Manning após sua volta à prisão em março. (WSWS)

Chelsea Manning passou seu 32º aniversário sozinha em uma cela onde se encontra trancafiada há nove meses por se recusar a mentir, como quer um tribunal de fancaria da Virgínia, para incriminar o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, cuja cabeça – e extradição – é exigida pelo regime Trump como um troféu para sua campanha de reeleição.

Aos 23 anos, então analista de inteligência numa base no Oriente Médio, Manning decidiu que não poderia se calar e ajudou o WikiLeaks a divulgar centenas de milhares de registros de crimes de guerra dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

Inclusive o famoso vídeo do ‘assassinato colateral’, em que um helicóptero Apache metralha e mata uma dezena de civis desarmados, inclusive dois jornalistas.

Decisão que Manning pagou com quase um ano na solitária e tortura, e condenação a 35 anos, pena que a pressão pública permitiu que fosse comutada nos últimos dias do governo Obama, depois de sete anos de cárcere por ‘espionagem’.

A nova e absurdamente arbitrária prisão de Manning é expressão do que a plutocracia ianque, cuja decadência salta aos olhos, tenta impor ao planeta inteiro: a proibição à verdade e à denúncia dos crimes de guerra.

O citado tribunal é praticamente uma dependência da CIA e demais serviços secretos norte-americanos.

Querem abafar a verdade a oposição à guerra e ao fascismo. Uma década depois das denúncias sobre os crimes de guerra no Iraque e Afeganistão, mais sociedades foram reduzidas a escombros pelas guerras imperialistas, desencadeadas sob os mais escusos pretextos – Líbia, Síria, Iêmen.

Apenas um ano e meio depois de ter sido libertada, o Departamento de Justiça voltou à carga contra Manning, tentando intimidá-la sob ameaça de nova prisão se não mentisse contra Assange.

“Não cooperarei com este ou qualquer outro grande júri”, disse ela, com enorme coragem e dignidade, em entrevista coletiva fora do tribunal. No dia 8 de março de 2019, estava de volta à prisão.

Em maio, o juiz Anthony Trenga a ameaçou com multas maciças a cada dia que Manning se recusasse a dizer o que o tribunal de exceção queria ouvir.

A Trenga, Manning disse que preferia “morrer de fome do que mudar meus princípios a esse respeito”.

Ela acrescentou ainda que “o governo não pode construir uma prisão suficientemente ruim, não pode criar um sistema pior do que a idéia de que algum dia eu mudaria meus princípios”.

Foi imposta a ela uma penalidade diária de US$ 1.000 por cada dia que Manning mantenha seu silêncio. Extorsão que já alcançou US$ 440.000 e continua crescendo.

O ‘grande juri’ a que Manning foi submetida é parte do esquema montado para extraditar e destruir Assange.

Como Assange já foi acusado de violar a Lei de Espionagem, já teria cessado o suposto objetivo alegado para a detenção de Manning, que legalmente seria obter dela informações que possibilitassem determinar as acusações contra o alvo da investigação.

Assim, nem sequer essa folha de parreira jurídica está disponível para servir de cobertura para o reencarceramento de Manning.

O que se quer é punir de novo Manning por suas ações de 2010, embora seja ilegal condenar alguém duas vezes pelo mesmo ‘crime’.

No mês passado, Trump disse que foi um “erro” deixar “essa pessoa [Manning] ir”, depois que ela “uma quantidade enorme de informações classificadas”. (Ele também já disse que foi um erro invadir o Iraque e não ter ficado com o petróleo).

Como declarou a advogada de Manning, Moira Meltzer-Cohen, o governo dos EUA “já cobrou completamente o alvo desta investigação; eles claramente não têm necessidade legítima do testemunho de Manning neste momento”.

Meltzer-Cohen acrescentou que “mantê-la em confinamento coercitivo não a influenciará a cooperar e funciona apenas para puni-la inadmissivelmente. A contínua invectividade de Trump contra ela apenas reforça a aparência de que seu atual encarceramento é indevidamente motivado por um desejo insano de vê-la sofrer por atos passados”.