Chefe do Pentágono: “missão da Otan é evitar a paz na Europa”
O chefe do Pentágono, Mark Esper, no meio de uma entrevista sobre a anunciada retirada de 12 mil soldados norte-americanos da Alemanha, trocou as bolas e acabou confessando o que muita gente já desconfiava: que a missão da Otan é “evitar a paz na Europa”. A retirada foi ordenada por Trump.
É claro que foi um lapso freudiano, mas a galera nas redes não perdoou: “lapso momentâneo de honestidade” e “slogan da Otan 2020”.
A coisa se sucedeu quando Esper animadamente reclamava da falta de disposição de Berlim para pagar a taxa de ocupação, estabelecida como 2% do PIB em gastos militares, principalmente com armas norte-americanas, claro.
O secretário da Defesa norte-americano estava justamente argumentando que a Alemanha, o país “mais rico da Europa”, podia e deveria pagar mais.
Na íntegra: “Eu tenho dito isso em público frequentemente, bem como tenho dito muito aos meus contrapartes – sobre a importância da Otan, qualquer aliança, compartilhar o fardo, de forma que nós todos possamos deter a Rússia e … evitar a paz na Europa”.
Tropeçou na língua: “e evitar a paz na Europa”.
Ao anunciar a retirada das tropas, Trump reclamou do desacato da Alemanha à taxa de ocupação e, ainda, do Nord Stream 2, o gasoduto russo-alemão, que garantirá um fluxo seguro e a um custo compatível de gás para manter operando a indústria alemã, que é o carro-chefe da economia germânica. E por esnobar o gás de fracking norte-americano, que um subalterno de Trump já apelidou de “moléculas da liberdade”.
Em um dos seus mais recentes comentários sobre o assunto, Trump disse que “estamos reduzindo a força porque eles não estão pagando as contas. É muito simples. Eles estão inadimplentes”.
Washington tem se dedicado a tentar impedir que a construção do Nord Stream 2 seja completada e passou a ameaçar as empresas europeias que participam do projeto abertamente de pesadas sanções.
Das tropas que estão saindo, parte voltará para casa e parte será distribuída entre Bélgica, Itália e Polônia. Serão deslocados da Alemanha para a Bélgica o QG do Comando Europeu dos EUA, o Comando de Operações Especiais e o Africom – o comando do Pentágono para ingerência militar na África.
Um aliado de Frau Merkel, o primeiro-ministro da Bavária, Markus Soeder, disse “lamentar muito a decisão do governo dos EUA”. “Infelizmente, isso põe um peso sobre as relações alemãs-americanas”, acrescentou. “Vamos esperar para ver se a decisão durará”.
Por sua vez, o deputado democrata-cristão Norbert Roettgen, considerou a retirada parcial um “tiro no pé”. “Primariamente, a Alemanha serve aos EUA como um hub logístico para sua própria presença militar internacional”, enfatizou, após dizer que alguma contribuição para a segurança alemã as tropas norte-americanas fazem.
Sobre a retirada parcial, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que se trata de uma questão interna dos EUA e de relações bilaterais entre Washington e Berlim, e que a Rússia “não vai interferir nessas relações nem comentá-las de alguma forma”.
Peskov assinalou, porém, que Moscou nunca escondeu o fato de que quantos menos soldados norte-americanos estiverem no continente europeu, “mais calma” a Europa estará.
“Esta posição é bem conhecida, especialmente dado que, desde o fim da confrontação de blocos da Guerra Fria, não há perigos óbvios ou ameaças reais, enquanto ameaças efêmeras sempre podem ser inventadas tanto quanto se queira”, concluiu.