Chefe de milícia fascista é preso nos EUA pela invasão do Capitólio
Stewart Rhodes, ex-paraquedista, fundador e líder da milícia fascista norte-americana Oath Keepers [Guardiões do Juramento], foi preso pelo FBI na quinta-feira (13), após indiciado por conspiração sediciosa pela invasão do Capitólio em 6 de janeiro do ano passado, na tentativa de impedir à força a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições de novembro.
Mais dez co-conspiradores do Oath Keepers também foram indiciados e podem pegar até 20 anos de cadeia, sob a mais grave acusação até agora apresentada contra os invasores do Capitólio. Outro líder da milícia, Ed Vallejo, do Arizona, também foi preso no mesmo dia.
Os Oath Keepers, junto com os Proud Boys, foram a tropa de choque da tentativa de Trump, a partir do comício que realizou naquele dia e da “marcha ao capitólio” que ordenou, de ignorar a derrota nas urnas e no colégio eleitoral, mandar às favas as formalidades democráticas, impedir a certificação de Biden e, no caos criado, fraudar e fabricar o resultado ‘certo’.
Nove ‘guardiões’ já estavam sendo processados por “conspiração para delinquir” e afetar um processo oficial, ou por atos violentos.
Ata de acusação
Segundo a ata de acusação, Rhodes “se associou” com alguns de seus comparsas “para impedir a transferência pacífica do poder”, “usando a violência”. “Organizaram transportes de todo o país até Washington, se equiparam com todo tipo de armas, vestiram uniformes de combate e estavam prontos para responder ao chamado às armas de Rhodes”, destaca o documento.
O grupo de fascistas é acusado de coordenar suas viagens pelo país para entrar na capital, Washington, “equipado … com uma variedade de armas”, o que foi planejado segundo os promotores no final de dezembro de 2020 por meio de “aplicativos de comunicações criptografadas e privadas”.
Mas o primeiro indício do que era tramado surge em 5 de novembro, dois dias após a eleição. Em mensagem à milícia via aplicativo, Rhodes diz que “nós não vamos passar por isso sem uma guerra civil. Tarde demais para isso. Prepare sua mente, corpo, espírito.”
Dois dias depois, Rhodes, convoca a “fazer o que o povo da Sérvia fez quando Milosevic roubou sua eleição. Recuse-se a aceitá-lo e marche em massa no Capitólio da nação.”
Em 9 de novembro, Rhodes realizou uma reunião nacional na web dos Oath Keepers no aplicativo GoToMeeting, onde convocou todos os membros do grupo a marchar no Capitólio em apoio ao esquema de Trump.
“Vamos defender o presidente, o presidente devidamente eleito, e pedimos a ele que faça o que precisa ser feito para salvar nosso país”, disse Rhodes. “Porque se você não fizer isso, você estará em uma sangrenta, sangrenta guerra civil – você pode chamar isso de insurreição ou pode chamar de guerra ou luta.”
Rhodes acrescentou: “Esperamos que ele nos dê a ordem. Queremos que ele declare uma insurreição e nos chame como milícia”.
Em uma acusação anterior, Kelly Meggs, líder do capítulo da Flórida dos Oath Keepers, admitiu por meio de mensagens criptografadas ter formado uma “aliança” com os Proud Boys antes do ataque. “Decidimos trabalhar juntos e fechar essa merda”, escreveu Meggs em 19 de dezembro .
Os integrantes dos Oath Keepers e dos Proud Boys também serviram de “segurança” nos comícios pró-Trump “Stop the Steal” [Parem o roubo] de 14 de novembro, 12 de dezembro de 2020 e 5 de janeiro de 2021.
Entre aqueles que “contrataram” os serviços dos Oath Keepers nos comícios “Parem o Roubo”, estavam o operativo de longo data de Trump, Roger Stone, e seu ex-conselheiro de Segurança Nacional, general Michael Flynn, apologista da seita fascista QAnon. Os dois foram fotografados com capôs dos Oath Keepers.
A acusação detalha vários aspectos da trama, incluindo a organização de equipes específicas encarregadas de diferentes aspectos da invasão, o que incluía “QRFs” ou “forças de reação rápida”, posicionadas fora do Capitólio com armamento de nível militar.
Os promotores afirmam que antes de 6 de janeiro, Rhodes gastou cerca de US$ 15.500 em armas, miras, munição e placas de blindagem. A partir de 10 de janeiro, Rhodes gastou mais US$ 17.500 em “peças de armas de fogo, munições, coldres, miras de rifle e outros itens relacionados”.
Enquanto dois grupos invadiram o Capitólio junto com uma turba de apoiadores de Trump de baixo escalão, racistas inveterados e xenófobos raivosos, Caldwell e Vallejo ficaram fora do Capitólio com Rhodes, coordenando movimentos e possíveis desdobramentos de armas.
Os promotores alegam que às 14h30, uma parte dos acusados, moveu-se em formação militar pelos degraus do Capitólio, rompendo as portas às 14h38.
Deslocaram-se então em direção ao Senado, onde, segundo a acusação, foram “repelidos à força” pela polícia, fazendo com que se reagrupassem e saíssem do prédio.
Outra parte do grupo “se dirigiu à Câmara dos Deputados, em busca da presidente da Câmara Nancy Pelosi”.
Há uma transmissão ao vivo no Facebook, por volta de 14h30, em que o miliciano Roberto Minuta relata que os “patriotas estão invadindo o prédio do Capitólio; há violência contra patriotas pela polícia de DC; …. agora… está caindo, pessoal; está literalmente caindo agora… patriotas invadindo o prédio do Capitólio… maldito confronto nas ruas agora… vamos lá”.
Após a invasão, Rhodes, James, Vallejo e outros se reuniram em um restaurante em Viena, Virgínia, para “celebrar seu ataque… e discutir os próximos passos”, segundo a promotoria.
Nas semanas que se seguiram, o grupo continuou a se comunicar pelo mesmo aplicativo. No chat, Rhodes escreveu: “Patriotas entrando em seu próprio Capitólio para enviar uma mensagem aos traidores não é nada comparado ao que está por vir”.
À medida que a posse de Biden em 20 de janeiro se aproximava, ele instruiu o grupo a organizar milícias locais para fazer ações contra o governo de Biden.