Bombeiros atuam em incêndio florestal no DF

O Cerrado brasileiro registrou, de 1º de janeiro até 31 de agosto, o maior número de focos de incêndio para esse período desde 2012, sendo 31.566 pontos de fogo no acumulado deste ano, contra 40.567 no mesmo período em 2012. Os dados são do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

No ano de 2012, assim como atualmente, o país também passava por um período de falta de chuva, o que contribui para o aumento dos focos de incêndio. A falta de chuva no Cerrado influencia a seca do Pantanal, do Rio São Francisco e até na hidrelétrica de Itaipu, abastecida pela bacia do Rio Paraná.

Outros biomas também passam por situação crítica: a Amazônia registrou focos de incêndio acima da média para o período de janeiro a agosto, e a Caatinga viu um aumento de mais de 100% no número de pontos de queimada em relação a 2020.

Em agosto, o Painel de Cientistas da Organização das Nações Unidas (ONU) para Mudanças Climáticas, divulgou um relatório sobre as consequências da destruição dos biomas no planeta, com grande preocupação para a situação do Brasil.

Mesmo com a proibição de queimadas no Brasil em 2021 – com raras exceções para manejo agrícola -, os focos de queimadas persistem. A maioria se encontra justamente no Cerrado, onde está a maior expansão da agropecuária no país. Somado com a Amazônia, tem 85% do total do território brasileiro atingido pelo fogo.

Queimadas são comuns no Cerrado e o fogo aparece sozinho nessa região. No entanto, especialistas apontam que a quantidade alarmante de focos de incêndio só ocorre por conta da interferência humana.

Insubstítuivel

O Cerrado é insubstituível para a distribuição de água no Brasil. O bioma, por ter o solo mais alto, absorve a umidade e leva água para 8 das 12 bacias importantes para o consumo de água e geração de energia no país. A falta de chuva na região influencia na seca do Pantanal, no Rio São Francisco e até em Itaipu, uma das hidrelétricas do país, abastecida pela bacia do Rio Paraná.

Na região da bacia do Rio Paraná, que abastece Itaipu, o Cerrado responde por quase 50% de toda a vazão. As regiões do São Francisco, do Parnaíba e do Paraguai – esta última ligada ao Pantanal – têm uma dependência hidrológica ainda maior: o bioma é responsável por aproximadamente 94%, 105% e 135%, respectivamente, de toda a vazão.

Alguns desses índices são superiores a 100% porque incluem também a precipitação que chega ao solo, mas que depois evapora devido ao sol e às formações geográficas. Os dados são resultado de pesquisa feita por Jorge Werneck, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e diretor da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa).

O Pantanal vive a maior seca dos últimos 50 anos, e os motivos exatos ainda são investigados. Mas a seca existe, e, para resolvê-la, é preciso que chova nos dois biomas.

“No verão de 2019 e 2020, choveu menos que o normal. Isso gerou os incêndios no Pantanal e as quedas do rio Paraguai. Entre 2020 e 2021, deveria ter chovido quase 950 mm no total climatológico esperado, e tem chovido menos de 500 mm”, disse José Marengo, climatologista, meteorologista e coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Para a situação melhorar, o climatologista afirma que a chuva precisa chegar no Cerrado e nas regiões afetadas. O Centro-Oeste é fundamental para o abastecimento de água e, consequentemente, para as cidades, para a agricultura e para a geração de energia. Chover é uma necessidade urgente para evitar um racionamento maior.

“Se você me pergunta: será que em outubro a chuva vai começar na hora certa? Por enquanto, neste momento, é muito cedo para dizer”.

Segundo Marengo, os reservatórios estão com água abaixo da média. No caso da bacia do Paraguai, os índices estão ainda mais baixos que durante o ano passado. “Se não tem chuva no Centro-Oeste, você vai ter menos chuva no Rio São Francisco e acaba tendo menos chuva também na bacia do rio Paraguai e na bacia do Rio Paraná”.

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