Cem mil mulheres nos EUA repudiam o atropelo de Trump à Suprema Corte
A menos de três semanas das eleições presidenciais, mais de 100.000 mulheres participaram de cerca de 430 manifestações que ocorreram de costa a costa dos Estados Unidos, como Washington, Nova York, Los Angeles, Chicago e Fort Lauderdale, na Flórida, no sábado (17), contra a reeleição de Trump e em repúdio à nomeação da juíza conservadora, Amy Coney Barrett, para a Suprema Corte do país.
As manifestações em todos os 50 estados norte-americanos foram inspiradas na primeira Marcha das Mulheres em Washington, em defesa da democracia assim que Trump assumiu a presidência em 2017.
Barret foi indicada por ele para preencher a vaga da juíza Ruth Bader Ginsburg, falecida há um mês, e que era líder da luta pelos direitos civis dentro da Suprema Corte, com destaque para a luta por igualdade para as mulheres. Ela deixou por escrito que desejava que fosse o próximo presidente a escolher sua substituta, desejo que a Casa Branca ignorou, provocando indignação em amplos setores da sociedade.
Os republicanos querem confirmar Barrett a toque de caixa e passando por cima das normas regimentais do Senado antes da eleição do dia 3 de novembro. O Comitê Judiciário do Senado agendou uma votação para avaliar a indicação da juíza Amy Coney Barrett antes mesmo de sua audiência de confirmação terminar e deixando de ouvir testemunhas, como manda o estatuto regimental. Se o processo transcorrer como o esperado por Trump, o comitê liderado pelos Republicanos votará para aprovar a nomeação da juíza na quinta-feira (22). Isso significaria uma votação atropelada de confirmação final no plenário do Senado na semana de 26 de outubro, praticamente na semana da eleição presidencial.
“Trump/Pence: Fora agora”, diziam muitos cartazes, incluindo o repúdio ao vice-presidente Mike Pence nos atos pelo país afora.
Em Nova Iorque, milhares de pessoas se reuniram em Washington Square com faixas em homenagem a Ginsburg e em apoio aos oponentes democratas de Trump para as eleições, Joe Biden e Kamala Harris. No total, cinco marchas diferentes tiveram lugar somente na maior cidade norte-americana.
O rechaço das mulheres a Trump tem crescido drasticamente, especialmente nos subúrbios. O presidente está atrás de Biden por 23 pontos nas pesquisas de voto feminino, segundo uma sondagem recente do The Washington Post/ABC News.
“Contem conosco para lutar”, “contem conosco para ganhar”, lia-se nos cartazes empunhados pelas mulheres dos bairros populares, consideradas potencialmente decisivas para fazer pender a balança a favor da candidatura democrata.
Na capital, Washington, as manifestantes estiveram junto ao Capitólio e acabaram na ampla zona ajardinada que une a sede do Congresso à Casa Branca.
Na sexta-feira (9), mais de 5.000 juristas lançaram uma carta aberta chamando os senadores a “defender as vidas e os direitos fundamentais de todos os norte-americanos” recusando-se a confirmar a juíza Amy Coney Barrett. Os juristas lembraram que, ao invés de correrem atrás dessa imposição de Trump, em meio à pandemia, os senadores deveriam focar nas questões de saúde e nas necessidades econômicas de todo o país e indicam que pesquisas recentes mostram que ¾ dos norte-americanos consideram que a prioridade do Senado é fornecer os elementos para que se proceda ao auxílio emergencial extremamente necessário neste momento crítico.
Sindicatos, líderes das entidades pelos direitos civis e senadores da oposição também denunciam que a prevalecer a indicação da senhora Barrett, e instaurada artificialmente uma maioria antidemocrática de 6 a 3 na Suprema Corte, todos os direitos estarão em risco.
O senador democrata Sheldon Whitehouse denunciou que grupos fundamentalistas e magnatas vêm despejando uma montanha de dinheiro para financiar o assalto à Suprema Corte e nomeou, entre os envolvidos, os bilionários irmãos Koch, a Sociedade Federalista, a Rede de Crise Judicial, a Fundação Legal do Pacífico, a Fundação Bradeis, no esforço para confirmar Barrett e outros juízes venais de extrema direita, comprometidos com o retrocesso nos direitos políticos, sociais e econômicos.