Casos da nova cepa da Covid-19 são detectados em SP
A nova variante do coronavírus identificada inicialmente em Manaus, no Amazonas, foi detectada em três pacientes em São Paulo, de acordo com o governo do Estado. A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo confirmou, nesta terça-feira (26) os casos da infecção pela nova cepa considerada com maior poder de transmissibilidade.
A confirmação foi feita pelo Laboratório Estratégico do Instituto Adolfo Lutz, que é vinculado à pasta estadual. Os vírus nas amostras dos exames os três pacientes de São Paulo passaram por um sequenciamento genético na instituição para confirmar que se tratava da nova variante. É a primeira vez que a variante do Amazonas foi confirmada em outro estado do Brasil.
“O vírus foi sequenciado a partir de amostras com resultados positivos de exames processados pelo Centro de Virologia de três pessoas que tiveram Covid-19 e passaram por atendimento em serviços da rede pública de saúde em São Paulo, com histórico de viagem ou residência em Manaus”, disse a secretaria da Saúde, em nota.
Os sequenciamentos realizados pelo Adolfo Lutz foram depositados no banco de dados online e mundial Gisaid (Iniciativa Global de Compartilhamento de Todos os Dados sobre Influenza). De acordo com a secretaria, eles têm alta qualidade e confiabilidade, correspondendo a 99,9% do genoma do vírus.
Esta cepa do coronavírus sofreu mutações que podem deixá-la mais infecciosa. Cientistas ainda estão investigando isso e o impacto da nova linhagem sobre o colapso do sistema de saúde no Amazonas.
Para o epidemiologista Jesem Orellana, pesquisador do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), que tem estudado a variante encontrada em Manaus, “o caos sanitário e humanitário em que a cidade mergulhou durante a segunda onda, traduzido pelo pico explosivo de mortalidade e de internações em leitos clínicos e de UTI no início de janeiro, não deixa qualquer dúvida sobre a extensão da tragédia anunciada.”
“Acreditamos que esta nova cepa é a explicação mais plausível para um crescimento tão explosivo. Essa disseminação que estamos vendo só pode ser porque ela se propaga muito mais rapidamente que todas as 11 variantes que circularam antes. E a pior consequência é a possibilidade de se ela disseminar Brasil afora”, afirmou Orellana.
Para o cientista, a cepa está presente em diversos Estados brasileiros, apesar de ainda não haver confirmações oficiais. “Com certeza já está circulando por todo o Brasil. Não é possível que tenham achado em outros continentes e não tenha chegado a outros Estados”, afirmou.
Neste mês, Japão e Estados Unidos já haviam detectado a nova cepa em pessoas que viajaram do Brasil para lá.
Orellana diz que os indícios apontam que a nova variante seja mais infecciosa e mais mortal que muitas linhagens já conhecidas.
“Estamos começando a achar que essa variante pode realmente causar danos maiores que as outras”.
A curva de novos casos e de mortes não para de subir na região. Até esta quarta-feira, o Amazonas contabiliza 254,4 mil casos e 7,4 mil óbitos por Covid-19.
Para entender o que é a nova cepa identificada inicialmente em Manaus, é preciso saber que “mutações são variação genéticas aleatórias que ocorrem quando o vírus se replica. Mutações relevantes são aquelas que podem conferir ao vírus certas vantagens, como maior transmissibilidade, ou mesmo capacidade de evadir nosso sistema imune com mais facilidade. Evasão imune é sempre uma preocupação, pois não só eleva os riscos de reinfecção como faz com que o vírus assuma características mais adaptadas aos novos hospedeiros: no caso, todos nós”, explicou a economista Monica De Bolle, especialista em medicina em artigo no portal “El País”.
“O choque econômico proveniente de uma variante mais transmissível e traiçoeira do SARS-CoV-2 seria catastrófico para o país. Além de mais um ano de fortíssima recessão, sofreríamos todas as suas consequências nefastas, agora magnificadas: o aumento da pobreza extrema, da fome, da desigualdade”, ressaltou De Bolle.