Em encontro com o premier indiano Narendra Modi, Lavrov condenou ameaças dos Estados Unidos

O vice-conselheiro de segurança nacional dos EUA, Daleep Singh, responsável pelas questões de economia global, advertiu na quinta-feira (31) a Índia – da criação de um sistema russo-indiano de intercâmbio comercial com uso das próprias moedas – e se posicionou com ameaças contra a Índia “ajudar a Rússia a minar o dólar”. Nova Délhi também passou a comprar petróleo russo, com desconto e pagando em rúpias.

A Índia também mantém a recusa em se sujeitar às sanções contra a Rússia impostas pelos EUA e se absteve na votação na ONU sobre a crise na Ucrânia.

Em sua costumeira arrogância intervencionista, o vice-conselheiro norte-americano disse que “o que não queremos é uma rápida aceleração das importações indianas da Rússia em termos de recursos energéticos ou outras exportações atualmente proibidas pelos EUA.”

E, no mesmo tom, disse que Washington quer é que todos os países, especialmente os aliados e parceiros, “não criem mecanismos que apoiem o rublo e tentem minar o sistema financeiro baseado no dólar americano”.

Ele ameaçou de que haverá “consequências para os países que tentarem ativamente contornar essas sanções”, ao mesmo tempo em que cinicamente dizia que sua visita à Índia era em “um espírito de amizade para ‘explicar’ a mecânica de nossas sanções”.

Ao ser indagado por repórteres quais seriam essas “consequências”, o enviado do presidente Biden se recusou a dar mais detalhes, afirmando que isso fazia parte de discussões privadas, que ele “não tornaria públicas”.

Na semana passada, Biden chamara de “trêmula” a posição da Índia sobre as sanções contra a Rússia, em contraste com os demais aliados dos EUA na Europa e na Ásia. A pressão de Washington foi secundada pela ida, no mesmo dia, da ministra das Relações Exteriores inglesa, Liss Truss, à Índia.

Enquanto o preposto de Biden fazia ameaças, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, foi recebido com tapete vermelho em Nova Délhi e se reuniu com o primeiro-ministro Narendra Modi e com outras autoridades indianas.

“Rússia e Índia encontrarão uma maneira de evadir os obstáculos artificiais criados pelas sanções ilegais e unilaterais por parte do Ocidente”, afirmou Lavrov, durante reunião com seu homólogo indiano, Subrahmanyan Jaishankar.

“Nossas relações bilaterais têm continuado a crescer em muitas áreas e temos diversificado nossa cooperação e expandido nossa agenda”, afirmou o chanceler indiano, que fez menção ao “ambiente internacional difícil”.

Lavrov sublinhou que a Rússia está disposta a exportar para a Índia “qualquer produto que queira adquirir (…) Encontraremos a forma de superar os obstáculos criados pelas sanções ilegais e unilaterais por parte do Ocidente”.

Ele também agradeceu a Nova Délhi por sua imparcialidade e recusa a sancionar a Rússia.

Ao comentar o possível uso de rublos e rúpias para realizar os contratos indiano-russos, Lavrov ressaltou que a Rússia vem há muitos anos, junto com a Índia e a China, avançando para o das moedas nacionais no comércio bilateral. “Nas circunstâncias atuais, creio que esta tendência só se intensificará”, enfatizou.

Fúteis diktats

Sobre as acintosas ameaças emanadas de Washington, o chefe da diplomacia russa assinalou que os laços Moscou-Nova Délhi não serão afetados, e classificou esse comportamento dos EUA de “chantagem”.

“A parceria [Rússia-Índia] não depende de considerações conjunturais. Mais ainda, não depende de métodos ilegais de diktats e chantagem. Usar tais práticas contra países como a Rússia, Índia, China, é fútil e apenas significa que essas pessoas que promovem, propõem e impõem tal visão sobre todos mais, não entendem completamente a natureza da identidade nacional desses países, com os quais eles tentam se comunicar usando a linguagem da chantagem e dos ultimatos”.

Segundo informações da mídia, o sistema de intercâmbio rublos-rúpias usaria o sistema de pagamentos russo SPFS, com ambos os lados abrindo contas em rublos e rúpias, e com a referência para a taxa de conversão em processo de definição.

Por sua vez a ministra indiana das Finanças, Nirmala Sitharaman, confirmou que o país começou a comprar petróleo russo. “Ponho nossa segurança energética e os interesses do meu país em primeiro lugar. Se o fornecimento está disponível com um desconto, por que não comprá-lo?”