O presidente Donald Trump ameaçou o Iraque, cujo parlamento aprovou resolução pela retirada das tropas dos EUA do país, com o confisco de US$ 35 bilhões de dólares em reservas do Iraque em conta no Federal Reserve e com sanções “como nunca visto antes”.
A saída das tropas dos EUA foi votada após o assassinato, por mísseis norte-americanos disparados desde drones, à revelia do Iraque, do principal líder militar iraniano, general Suleimani, durante visita oficial a Bagdá.
Citando duas autoridades iraquianas sob anonimato, a agência de notícias France Presse relatou que uma “mensagem verbal extraordinária” foi transmitida por Washington diretamente ao escritório do primeiro-ministro iraquiano interino, Adel Abdul-Mahdi.
A chantagem – que depois o próprio Trump confirmou – foi de que “se as tropas dos EUA fossem expulsas, ‘nós’ – os EUA – bloquearemos sua conta no Federal Reserve Bank em Nova York”.
Essa é a conta que recebe diariamente os pagamentos pelas exportações de petróleo do Iraque, que é o segundo maior produtor de petróleo da OPEP. É essa receita que financia 90% do orçamento iraquiano.
“Somos um país produtor de petróleo. Essas contas estão em dólares. Cortar o acesso significa fechar totalmente a torneira”, disse a primeira autoridade iraquiana à AFP.
A outra autoridade iraquiana ouvida pela agência de notícias francesa destacou que esse confisco “significaria um colapso para o Iraque”. O governo de Bagdá não seria capaz de arcar com funções diárias ou pagar salários, acrescentou. O achaque também faria a moeda iraquiana despencar frente ao dólar.
A conta do Banco Central do Iraque no Fed foi estabelecida pelo governo de W. Bush em 2003 após a invasão do Iraque sob a mentira das “armas de destruição em massa” inexistentes e que destruiu uma das sociedades socialmente mais avançadas do Oriente Médio, deixando o caos e o terrorismo no lugar, mais um governo de conveniência, formado por líderes sectários anti-Sadam que aderiram ao invasor.
Segundo autoridades iraquianas, o saldo agora é de cerca de US $ 35 bilhões, valor posteriormente confirmado pelo próprio Trump.
Conforme a Fox News, Trump disse na sexta-feira que havia dito a Abdul-Mahdi que o Iraque “deveria pagar de volta aos Estados Unidos por seus investimentos no país nos últimos anos ou os militares americanos permanecerão lá”. “Se sairmos … você tem que nos pagar pelo dinheiro que investimos”, disse o presidente dos EUA.
Em suma, os iraquianos, segundo o inquilino de plantão na Casa Branca, têm que pagar de qualquer jeito pela ocupação que devastou o país.
Questionado sobre como ele planejava pegar o dinheiro do Iraque, Trump disse: “Bem, nós temos muito dinheiro deles agora. Temos muito dinheiro deles. Temos 35 bilhões de dólares deles agora em uma conta”.
Uma terceira alta autoridade iraquiana reconheceu que Washington estava “ponderando” restringir “o acesso a dinheiro” a cerca de “um terço do que costumavam enviar”.
“Você pode imaginar o porquê: se as tropas fossem expulsas os bancos iriam ficar nervosos em enviar muito dinheiro para Bagdá”, disse essa fonte.
“A tentativa de politizar remessas de dólares preocupa o Fed porque afeta seu prestígio e integridade no trato com os clientes”, admitiu um funcionário do Departamento de Estado. Ele acrescentou que “obviamente Trump está disposto a politizar tudo”.
Segundo a AFP, a medida vem sendo considerada em Washington há meses antes da votação de 6 de janeiro no parlamento iraquiano. Um diplomata sênior dos EUA na embaixada de Bagdá disse à AFP em julho que os EUA estavam olhando para “limitar o dinheiro que entra no Iraque”. O que na época esse diplomata chamou de “opção nuclear”.
As autoridades iraquianas disseram que a ameaça dos EUA de negar acesso às receitas do petróleo foi recebida “com choque, indignação e quase descrença” – como se eles não soubesse que o país está sob ocupação desde 2003, havendo mais de 5 mil soldados regulares e mais milhares de mercenários sob regime de “contratista”.
“O primeiro-ministro ficou chateado e insultado”, asseverou uma autoridade, enquanto outra alertou que os EUA iriam irreversivelmente “perder o Iraque”. “Eles nos empurrariam para a Rússia, China, Irã. Teríamos que formar uma economia separada com esses países”, acrescentou o funcionário.