Uma das entradas do macabro campo de concentração de Guantánamo

A Casa Branca está procurando guardas fluentes em creole haitiano para policiar um centro de detenção na Baía de Guantánamo, a prisão mal afamada pelo encarceramento de sequestrados em diversos países e mantidos por anos sem julgamento ou previsão de libertação e ainda sujeitos a torturas situada em enclave militar ilegalmente mantida pelos EUA em território cubano.

O espaço liberado para esta finalidade é pequeno para a detenção de milhares de haitianos que estão debaixo da ponte nas proximidades da cidade texana de Del Rio, mas suficiente para espalhar o terror entre os haitianos que têm atravessado a fronteira sul dos EUA movidos pela fome em seu país.

De acordo com uma reportagem da NBC News na quarta-feira (22), o Departamento de Segurança Interna publicou uma solicitação de contrato na semana passada para “pelo menos 50” guardas, 10% dos quais deveriam ser fluentes em “espanhol e creole haitiano”, para estarem disponíveis para trabalhar na prisão da ilha caribenha.

A reportagem caiu como uma bomba nas redes sociais, gerando protestos dos mais amplos espectros políticos.

“Isso não pode acontecer. Isso não pode… acontecer. Estou com tanta raiva agora. Que vergonha, Joe Biden”, tuitou a ativista de imigração Erika Andiola, comentando o artigo da NBC.

Condenando a sequência de abusos de direitos humanos, o apresentador de talk Show, Larry O’Connor, disse que usar chicotes contra pessoas é “pior do que a escravidão”.

Na quarta-feira, a congressista Maxine Waters foi na mesma direção e afirmou que isso foi “pior do que o que testemunhamos na escravidão” e exigiu que os “cowboys” envolvidos fossem demitidos.

Enviado dos EUA para o Haiti renuncia

O enviado especial dos Estados Unidos para o Haiti, Daniel Foote, apresentou sua renúncia, nesta quinta-feira (23), frisando que é inadmissível obrigar milhares de haitianos a retornar ao país nas condições em que se encontra.

“Não me associarei com a decisão desumana e contraproducente dos EUA de expulsar a milhares de refugiados haitianos e migrantes ilegais do Haiti, um país onde nossos funcionários se encontram confinados em complexos com segurança devido ao perigo das milícias armadas que controlam a vida cotidiana”, explicou Foote, em carta dirigida ao secretário de Estado, Antony Blinken.

“Nossa abordagem política para o Haiti continua profundamente falha e minhas recomendações foram ignoradas e rejeitadas”, acrescentou o enviado especial, relatando a gravidade da situação e a complacência do governo de Joe Biden com o caos instalado na república caribenha.

“Refém do terror, sequestros, roubos e massacres de gangues armadas e sofrendo sob um governo corrupto com alianças de milícias, simplesmente não se pode apoiar a injeção forçada de milhares de migrantes que retornaram e não têm comida, abrigo e dinheiro sem que haja uma tragédia humana adicional e evitável “, sublinhou.

Ignorando os apelos da própria bancada democrata, a administração Biden acelerou nos últimos dias os voos de deportação para o Haiti.

Foote lembrou que o povo do Haiti está “atolado na pobreza” e que a miséria tem se agravado após o recente terremoto e se vê completamente desgovernado após o assassinato do presidente Jovenel Moise por 18 colombianos, com a complacência de 12 membros das suas forças de segurança.