No último domingo (28), os muros da capital paulista amanheceram com cartazes denunciando a carestia no governo Bolsonaro. Os lambe-lambes, que foram espalhados por cerca de 20 pontos da cidade, lembravam anúncios de supermercados e destacavam os preços absurdamente caros dos alimentos e demais produtos essenciais do dia a dia dos brasileiros como o arroz, óleo de cozinha, carnes, gasolina e o botijão de gás de cozinha, por exemplo, que chegou a R$ 105.

“Tá muito caro. Tá na conta do Bolsonaro. Essa conta não é nossa. O Brasil não merece isso”, escreveram os manifestantes nos cartazes da campanha “Bolsocaro”.

Pressionado pelos preços dos alimentos, a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de janeiro de 2020/janeiro 2021, acumula alta de 4,56%. A alta dos alimentos no IPCA foi de 14,09%, o maior aumento em 18 anos.

Entre os produtos que se destacaram durante o ano 2020, segundo o IPCA, estão o arroz que subiu 76,01% e o óleo de soja: 103,79%. O preço do pacote de 5Kg de arroz, por exemplo, pulou de cerca de R$ 15 para R$ 40, conforme destacado no cartaz Bolsocaro.

Tudo isso em plena pandemia e com o país batendo recordes de desemprego.

No ano passado, a cesta básica ficou bem mais cara atingindo R$ 654 reais na cidade de São Paulo e a um pouco menos cara ficou em R$ 450,84 na cidade de Aracaju, segundo o Dieese, valor muito acima dos R$ 250 prometidos por Bolsonaro para o auxílio emergencial em live na última quinta-feira. Promessa, porque passados dois meses, a única coisa que o governo fez foi se aproveitar da emergência de milhões de brasileiros, sem renda e sem emprego, para tentar acabar com o direito à saúde e educação pública e arrochar os servidores públicos, muitos à frente no combate à pandemia da Covid-19.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nos últimos doze meses, 11 dos 16 subgrupos que compõem o conjunto dos alimentos no domicílio registraram variação superior a 10%. Entre os destaques estão: cereais (60,2%), óleos e gorduras (59,5%), tubérculos, raízes e legumes (47,6%), carnes (22,8%), hortaliças e verduras (21,9%) e leite e derivados (17,3%).

No caso da carne bovina, em 2020, o consumo foi o menor desde 1996, segundo dados da série histórica da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O consumo brasileiro de carne bovina no ano passado foi de 29,3 quilos por habitante, uma queda de 5% em relação aos 30,7 kg por habitante em 2019 – primeira onda de alta no preço da carne no governo de Bolsonaro, que levou ao recuo de 9% no consumo desta proteína.

“Não tem nenhuma previsão de queda do preço da carne bovina e da carne suína. A única carne que poderá continuar com preço estável ou até subir um pouco é a de frango. Os ovos, outra proteína muito consumida, também vão subir porque o milho, que é a base da alimentação das aves, segue caro, destacou o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri.

Ocorre que, com a economia basicamente dolarizada (os preços internos equiparados aos preços internacionais das commodities grãos, combustíveis etc.), as exportações estão sendo feitas de forma descontrolada, por incentivo do próprio governo Bolsonaro.

As exportações brasileiras de carne bovina (in natura e processada) atingiram o recorde de 2,016 milhões de toneladas em 2020, crescimento de 8% na comparação com as 1,875 milhão de toneladas verificadas em 2019, segundo divulgou a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), com base em levantamento da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.