Capitólio: derrota de Trump; juíza quebra sigilo de papéis da invasão
Um tribunal negou ao ex-presidente Trump a manutenção sob sigilo de documentos da Casa Branca relativos ao 6 de janeiro e portanto terá acesso a eles o Comitê da Câmara dos deputados, que investiga a invasão do Capitólio e a tentativa de impedir que o Congresso certificasse Joe Biden presidente eleito.
A decisão foi tomada pela juíza Tanya Chutkan, que autorizou o ‘Comitê de 6 de janeiro’ da Câmara a acessar centenas de páginas de documentos sobre os acontecimentos, que haviam sido bloqueados pela equipe jurídica do ex-presidente. De acordo com a NBC News, o primeiro lote de documentos deverá ser entregue na sexta-feira.
No dia 6 de janeiro, quando o Congresso se reunia em Washington para certificar a vitória de Biden – que Trump dizia ser fraude – uma multidão foi insuflada por ele a marchar sobre o Capitólio, que foi invadido.
Senadores, deputados e até o próprio vice-presidente Mike Pence precisaram ser retirados às pressas para locais secretos e a certificação foi interrompida. “Enforquem Pence”, gritava a turba. Demorou horas para a Guarda Nacional ser chamada a agir e o Congresso ser desocupado, em cenas que chocaram o mundo.
“Sua posição [de Trump] de que pode anular a vontade expressa do ramo executivo parece ter como premissa a noção de que seu poder executivo ‘existe para sempre’”, sentenciou Chutkan. “Mas os presidentes não são reis, e o Requerente não é o presidente.”
Biden havia liberado o acesso aos documentos ao anunciar que não iria alegar ‘privilégio especial’.
Medida que foi contestada judicialmente por Trump, que teme que possa vir a público alguma ‘arma fumegante’ – isso faz parte do imaginário norte-americano – que prove a participação direta dele no ensaio de golpe fascista de 6 de janeiro.
Ameaça às “conversas francas”
Segundo os advogados de Trump, a liberação dos documentos é uma ameaça “à capacidade dos presidentes de ter conversas francas”. Imagine-se as “conversas francas” que Trump pode ter proferido, no auge do caos, enquanto via desde a Casa Branca, pela tevê, o circo pegar fogo, depois de ter jogado a labareda na gasolina, e cheio de ódio por não ter conseguido enfiar seu vice na trama.
Para o presidente do comitê seleto de 6 de janeiro, o democrata Bennie Thompson, a decisão proporciona “uma base sólida” para obter as informações. “Se alguém está gritando tão forte e tão alto, devo assumir que, sem dúvida, tem algo a esconder”.
Na semana passada, o Comitê da Câmara de investigação dos fatos de 6 de janeiro ampliou para 35 os intimados a depor a portas fechadas sobre o ataque.
De acordo com o que o comitê já investigou, nas palavras de seu presidente, Thompson, “nos dias anteriores ao ataque de 6 de janeiro, os aliados e conselheiros mais próximos do ex-presidente conduziram uma campanha de desinformação sobre a eleição e planejaram maneiras de impedir a contagem dos votos do Colégio Eleitoral.”
“O Comitê Seleto quer saber todos os detalhes do que aconteceu na Casa Branca em 6 de janeiro e nos dias anteriores. Precisamos saber precisamente qual papel o ex-presidente e seus assessores desempenharam nos esforços para interromper a contagem dos votos eleitorais e se eles estavam em contato com alguém de fora da Casa Branca tentando anular o resultado da eleição ”.
Entre os intimados estão o jurista e autor do “memorando do golpe” John Eastman e o ex-comissário de polícia de Nova York Bernard Kerik, ambos identificados como participantes de um “centro de comando” que Trump montou no Willard Intercontinental Hotel, após sua derrota eleitoral em novembro passado.
O “centro de comando” do Willard, que funcionou de 5 de novembro até a posse do presidente Joe Biden, serviu como uma extensão da Casa Branca e das tentativas extrajudiciais de Trump de permanecer no poder.
Trumpismo raiz
O trumpista Kerik reagiu arrogantemente, chamando a intimação de “comunicado difamatório” e “manobra puramente partidária”. Cinicamente, ele acusou o comitê de visar “patriotas” que só queriam “expor a fraude eleitoral”.
Foram intimados ainda o conselheiro sênior fascista de Trump, Stephen Miller, e a ex-secretária de imprensa da Casa Branca Kayleigh McEnany; o tenente-general aposentado Keith Kellogg, conselheiro de segurança nacional do vice Pence; e John McEntee, ex-diretor de pessoal da Casa Branca.
Também William Stepien, o gerente da campanha de reeleição Trump 2020 e da campanha de fake news ‘Stop the Steal’ [Parem o Roubo]; e Cassidy Hutchinson; assistente especial do presidente para Assuntos Legislativos.
Ainda: Michael Flynn, general aposentado que foi brevemente conselheiro de segurança nacional de Trump e é adepto da seita QAnon. Seu irmão mais novo, o tenente-general Charles Flynn, no centro de operações do Pentágono, por mais de três horas deixou sem resposta pedido desesperado da prefeita de Washington, Muriel Bowser, para envio da Guarda Nacional para resgatar o Capitólio.
Intimados em setembro, seguem se recusando a comparecer o ex-conselheiro especial da Casa Branca Stephen Bannon e o ex-chefe de gabinete de Trump da Casa Branca, Mark Meadows.