Candidato do Partido Comunista do Chile, Daniel Jadue, apresenta programa desenvolvimentista de governo

O arquiteto e sociólogo Daniel Jadue, do Partido Comunista do Chile (PC) e atual prefeito da comuna de Recoleta, em Santiago, lidera todas as pesquisas às eleições presidenciais de 21 de novembro com um projeto em que defende a soberania e os investimentos públicos para a retomada do crescimento.

“É necessário um modelo de desenvolvimento econômico que supere o rentismo e o extrativismo e seja capaz de gerar ingressos de qualidade de forma sustentável.

Propomos uma Nova Economia que mude a forma na qual se cria e distribui o valor da produção – a genuína riqueza de um país -, enriquecendo nossa matriz produtiva, a diversificando e dotando de maiores conteúdos tecnológicos e de conhecimento”, afirmou Jadue. E a partir da construção deste novo modelo, defendeu, o país poderia trabalhar “por uma integração regional e mundial mutuamente benéfica”.

No seu “Programa de governo para um Chile digno verde e soberano, plurinacional e intercultural, feminista e paritário”, o candidato ressaltou que é com este passo que o país avançará até um novo modelo próprio e construído desde um enfoque de soberania, respeito e proteção à natureza, adotando “políticas públicas voltadas para um novo pacto eco-social e econômico, que atenda conjuntamente à justiça social e ambiental”.

A melhoria das condições de vida da população é um compromisso central, frisou o comunista, destacando “que a riqueza econômica está no valor do trabalho, portanto um objetivo central do nosso programa é aumentar a participação dos salários no produto nacional”. Assim, enfatizou, os trabalhadores estarão no “centro do modelo de desenvolvimento que buscamos construir”. “Por isso, uma abordagem de Trabalho Decente norteará políticas que comprometam empregos produtivos, com remuneração justa e proteção social, com absoluto respeito e promoção dos direitos trabalhistas e da liberdade de associação, para que através do trabalho possamos alcançar o bem-estar pessoal, familiar e nacional”.

Segundo o candidato comunista, “uma das principais críticas ao modelo atual é que as grandes empresas socializam suas perdas, mas desfrutam de seus ganhos de forma privada”. “A isso se somam os efeitos da atual pandemia que tem refletido de forma mais clara a desigualdade e injustiça do modelo neoliberal, acentuando o abandono do Estado às suas obrigações essenciais e o sofrimento dos cidadãos”, sublinhou.

Daniel Jadue disputará nas primárias de 18 de julho contra o jovem deputado Gabriel Boric, da Frente Ampla (FA), quem será o candidato presidencial pela coalizão progressista “Aprovo a Dignidade”.

Por parte da direita, atualmente no poder – e que fez o país explodir com protestos monumentais em 2019 -, disputam quatro candidatos, sendo que somente o prefeito da comuna de Las Condes, Joaquín Lavín, teria chance na disputa eleitoral.

Em 1979, durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), Lavín foi nomeado aos 26 anos reitor da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de Concepción. Pinochetista convicto, é dele o livro “Uma revolução silenciosa”, em apoio ao sistema econômico dos Chicago Boys, implementado pelo general.

O fato é que sua entrada na disputa será bastante dificultada pelo fato de o governo e o presidente Sebastián Piñera estarem com níveis inéditos de impopularidade, com o país mergulhado numa crise profunda e altos níveis de desemprego. Sem falar na pandemia de Covid-19.

O Departamento de Estatísticas e Informação de Saúde confirmou nesta sexta-feira (2) a morte de mais 221 pessoas, aumentando para 32.809 o número de falecidos desde o início da pandemia. Com novos 4.086 casos, os contagiados já são mais de 1,56 milhão entre os seus 19,3 milhões de habitantes. O agravamento da situação obrigou o país a fechar as fronteiras em abril, prorrogando a medida para junho e agora, novamente, até 14 de julho.